Gripe aviária preocupa o Pará, que é o maior produtor de aves da região e do bioma amazônico
Doença ainda não teve nenhum caso registrado no País, mas ocorrência em países vizinhos acende o alerta local
Com o registro de casos da gripe aviária em países próximos do Brasil, inclusive na América do Sul, governos, produtores e especialistas na área intensificam os esforços para evitar que a doença chegue às granjas e unidades produtivas nacionais. No Pará, que conta com 310 produtores espalhados por 129 municípios e 12.816 aves cadastradas no Programa Estadual de Sanidade Avícola, há uma grande preocupação, além da questão sanitária, com as repercussões econômicas que um surto dessa doença poderia causar, já que o Estado é o maior produtor da região Norte e do bioma amazônico.
“Qualquer tipo de virose que chegue à América Latina é muito preocupante, pois temos um sistema de avicultura bastante estruturado no Estado e nunca sofremos desabastecimento. Hoje, há um cinturão de produtores em volta de Belém, Paragominas, Santarém e Altamira, entre outros locais. Com isso, nós temos segurança alimentar aqui no Estado”, detalha o zootecnista da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Guilherme Minssen.
Segundo Minssen, embora o Brasil seja o maior exportador de carne de frango do mundo, o Pará produz, basicamente, para o consumo interno. “A avicultura é fundamental no nosso Estado, pois ela nos garante segurança alimentar, então, precisamos continuar atentos e trabalhando para evitar qualquer problema com essa produção”, completa.
De acordo com o professor, zootecnista e doutor em Ciência Animal, Fernando Tavares, a gripe aviária, como ficou conhecida, é uma doença viral em que o agente é o vírus da Influenza. Há um tipo mais letal e um menos letal. “O perigo é justamente chegar nos grandes sistemas de produção e ocasionar, além da morte dos animais, a necessidade de eutanásia de plantéis inteiros, seguidos de vazio sanitário, ou seja, os produtores podem poder sua produção, seja por morte dos animais causados pela doença, seja por eliminação do plantel, ou, ainda, pelo bloqueio da produção por um período”, explica.
Segundo o especialista, caso haja um surto da doença em determinado local, as autoridades sanitárias também podem limitar o trânsito de animais e seus produtos para outras regiões. Foi o que aconteceu entre 2014 e 2015, quando, só nos Estados Unidos, 49 milhões de aves comerciais foram mortas ou sacrificadas por conta do aparecimento de uma variante do vírus.
“A grande preocupação, no caso do Pará, é a rota migratória de aves silvestres para a região e as criações de animais ao ar livre ou sem o controle para evitar o contato desses animais silvestres com as aves. Os impactos poderiam ser devastadores, visto que a produção do Estado vem crescendo e tem um grande potencial ainda. Isso poderia prejudicar a vida dos produtores e empresas que atuam na nossa região”, conclui, acrescentando que as agências de defesa sanitária e de monitoramento dessas doenças têm realizado um importante trabalho no País.
Adepará recebe doação de material para fiscalização da doença
Nesta semana, a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará) e o Sistema Faepa/Senar/Fundepec/Sindicatos se uniram nessa preocupação. O Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Estado do Pará (Fundepec) doou para a Agência material para utilização durante ações de fiscalização, que incluem vigilância sanitária, inquérito soro-epidemiológico e preparação das equipes para a avaliação de um eventual foco.
A Adepará está trabalhando com 22 profissionais em ações do Plano de Vigilância Epidemiológica de Influenza Aviária e Doença de NewCastle no Pará, desde dezembro de 2022. Esses profissionais coletam material biológico das aves para estudo, que pretende demonstrar a ausência das doenças na avicultura industrial local.
No Pará, a investigação epidemiológica ocorre em 98 granjas, localizadas em 21 municípios. Serão investigadas 1.122 aves, e coletadas 16.930 amostras biológicas, que serão enviadas para o Laboratório Federal de Defesa Agropecuária, em Campinas (SP).
Até hoje, o Brasil nunca registrou casos de animais contaminados pelo vírus, por isso a doença é considerada exótica no País.
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