Governo recebe economia travada e terá desafios na busca pela retomada, dizem especialistas
Economista e representante do setor empresarial destacam as medidas prioritárias que devem ser tomadas pelo Executivo federal em 2023
O governo federal, que tomou posse no domingo (1º), recebe o país com grandes dificuldades na área econômica. De inflação elevada a entraves na política fiscal, os desafios do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são muitos, e a equipe precisará se dedicar se quiser destravar a economia doméstica e fazer o país se destacar mundialmente.
VEJA MAIS:
Segundo o economista Genardo Chaves de Oliveira, a tendência de baixa no mundo é generalizada sobre a desaceleração da economia. "Com uma perspectiva contracionista, percebemos que tais influências afetam diretamente o PIB [Produto Interno Bruto] brasileiro, estagnado para este novo ano que estamos entrando. A previsão é pessimista e delicada para a situação fiscal, e há previsão de alta da inflação pelo aumento dos combustíveis e, em consequência, o Banco Central puxa para o alto a taxa Selic, podendo chegar a 14% durante o novo ano. Somamos isso a um teto de gastos apertado e questões sociais agravadas ainda mais pelo aumento do desemprego", declara.
Na opinião do especialista, o novo governo deve se dedicar, inicialmente, a diversas reformas, tanto fiscais quanto administrativas, a exemplo da reoneração dos combustíveis e a unificação de impostos, mas as medidas prioritárias para ele são a simplificação de tributos, o combate à privatização, a restauração de questões ambientais e sociais e o resgate do mercado de trabalho. Já o que deve mudar são questões relacionadas com a Previdência e o Auxílio Brasil, além do orçamento público federal. Os maiores desafios e dificuldades, na avaliação de Genardo, serão a baixa produtividade brasileira e a escalada dos juros e da inflação, além do teto de gastos.
Desenvolvimento
Presidente da Associação Comercial do Pará (ACP) e representante da classe empresarial do Estado, Elizabete Grunvald diz que a instabilidade do cenário econômico mundial e a recessão global, além da dependência do Brasil de alguns países como os Estados Unidos e a China, leva a um cenário "bastante desafiador" em 2023. "Nos Estados Unidos, a inflação persistente marcou o último pronunciamento do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ainda em novembro, indicando maior demora na política de juros altos e contenção da economia americana, e na China a fragilidade sanitária tem restringido a dinâmica econômica, especialmente na indústria de transformação e na construção civil, o que certamente impactará nas exportações brasileiras, inclusive no minério de ferro, carro chefe do comércio exterior paraense", adianta a especialista.
E a alta taxa de juros, a partir da pressão inflacionária, agrava a situação financeira, na opinião de Grunvald, e compromete o desenvolvimento do país, dando chance maior e "preocupante" de recessão em 2023. A expectativa de Elizabete é de que o novo governo crie mecanismos para a sustentabilidade da dívida pública, siga na contenção da inflação e no fortalecimento da economia, buscando estancar a sangria de alguns indicadores importantes, aumentando a circulação do capital, que ela considera necessária para a economia girar.
As reformas administrativa e tributária são pontos fundamentais para atingir o equilíbrio e a credibilidade das contas públicas, além do estímulo à atividade produtiva - é o que diz a presidente da ACP. "É imperioso o investimento em infraestrutura e o equilíbrio e convergência entre a política monetária e a política fiscal, sem os quais dificilmente aumentaremos a produtividade e avançaremos na retomada do crescimento econômico. O maior desafio para a implementação de uma política expansionista é a redução dos gastos públicos e a correta administração do teto de gastos do governo", avalia.
O que preocupa a classe empresarial, segundo Grunvald, é a sinalização pelo novo governo da expansão do custeio da máquina pública, colocando em perspectiva um aumento da carga tributária, mesmo que ainda não declarado oficialmente. "Durante a campanha, o presidente Lula falou, por diversas vezes, sobre a necessidade de reindustrialização do país como forma de gerar empregos. Contraditoriamente, uma das principais variáveis que levaram ao declínio da indústria no Brasil foi o aumento da tributação nas três últimas décadas. Isso é um ponto de alerta".
Mercado de trabalho
A situação de desemprego também será um desafio do novo governo, de acordo com os dois especialistas entrevistados. No terceiro trimestre deste ano, por exemplo, a taxa de desemprego caiu 0,6 ponto percentual e ficou em 8,7% no período - no trimestre de abril a junho, foi de 9,3%. Em relação ao mesmo período de 2021, quando o desemprego estava em 12,6%, a redução é de 3,9 pontos percentuais. Mesmo assim, o número ainda é alto, com um total de 9,5 milhões de pessoas desocupadas. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
VEJA MAIS:
Como adianta o economista Genardo de Oliveira, o presidente deve buscar um foco dedicado ao mercado de trabalho, desafio que estará com o orçamento comprometido, com pouco recurso para investimentos públicos. "Mas já percebemos a busca pela valorização do salário mínimo e o apoio ao pequeno e microempreendedor. Busca também investimentos nas novas tecnologias e indústrias de segmentação diferenciada, bem como na economia criativa. Eu vejo uma queda no custo de vida a longo prazo", afirma.
A recuperação do emprego e consequente geração de maior renda para a população, na opinião da presidente da ACP, é um dos grandes desafios do novo governo, frente à perspectiva de crescimento econômico menor em 2023. "Segundo relatório da OCDE, o consumo das famílias continua impulsionado pelo auxílio social, apesar da taxa de desemprego ter caído, impactada pelo crescimento da economia em 2022, que deve perder esse ritmo em 2023. A nosso ver, é necessária uma política de estímulo e incentivo à atividade produtiva, especialmente para as micro e pequenas empresas, grandes geradoras de emprego e renda", destaca Elizabete.
Ela não tem dúvidas de que o Pará, considerado seu potencial turístico, mineral e agropecuário, terá destaque no cenário econômico brasileiro e pode se transformar na "meca" do emprego, muito além da mineração. Contudo, Grunvald acha fundamental que o governo federal tenha um olhar mais apurado, para se criar condições logísticas e eixos de desenvolvimento que facilitem esse processo e viabilizem o potencial produtivo do Estado.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA