Fundo de investimento para custeio do cacau vai beneficiar 1.200 agricultores do Pará e da Bahia
A iniciativa de financiamento ajuda a manter a floresta em pé e a aumentar a renda de agricultores familiares
Uma iniciativa batizada de Kawá, fundo de investimentos com um componente inovador de tecnologia para agricultores de cacau de pequenas propriedades no país, pretende beneficiar 1.200 agricultores do Pará e da Bahia com cerca de R$ 30 milhões na primeira fase. O projeto tem a meta de chegar a R$ 1 bilhão até 2030 e quer fomentar um ecossistema de agricultura familiar e regenerativa no Brasil. A iniciativa é resultado do Instituto Arapyaú, a Violet, a ONG Tabôa Fortalecimento Comunitário e a MOV Investimentos.
O nome do fundo resgata a origem do cacau nas civilizações pré-colombianas, quando era chamado de kakawa, e é desenhado em um modelo conhecido como “blended finance”, que mescla recursos concessionais e filantrópicos com capital público e privado. O fundo utilizará uma metodologia de concessão de crédito mais simplificada e acessível, aliada à assistência técnica, desenvolvida e implementada pela Tabôa desde 2017.
VEJA MAIS
A metodologia é adotada no Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) Sustentável para cacau, iniciativa pioneira no mercado, e ajudou a provar que investir na agricultura familiar e no cacau dá retorno financeiro, social e ambiental. Entre 2020 e 2023, o CRA Sustentável impactou diretamente 271 agricultores, sendo um terço mulheres, promovendo aumento de renda (60%) e de produtividade (52%). A taxa de inadimplência ficou próxima de zero.
Ao financiar apenas produtores de cacau de sistemas agroflorestais, em que o fruto é cultivado em consórcio com a floresta, o produto ainda ajudou a conservar mais de 1100 hectares e a estocar mais carbono. “Queremos ampliar a escala de impactos econômicos, sociais e ambientais positivos, atraindo investidores de maior porte para destravar modelos produtivos que façam uso sustentável do solo e gerem renda para quem mais precisa e quem conserva a floresta", afirmou o gerente de bioeconomia do Instituto Arapyaú, Vinicius Ahmar.
Acesso ao sistema financeiro
De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária, de cada 100 produtores de cacau no Brasil, 85 estão à margem do sistema financeiro, com difícil acesso a políticas públicas, e 75 nunca receberam assistência técnica. Ao mesmo tempo, cerca de 80% da produção de cacau no Brasil depende dos agricultores de pequenas propriedades. O diretor-executivo da Tabôa, Roberto Vilela, diz que as “experiências de concessão de crédito aliado à assistência técnica rural se mostraram bem sucedidas. Tais condições contribuíram para o aumento da produtividade, além da baixa inadimplência”.
Outro pilar da iniciativa é o estímulo à conservação e regeneração das florestas. Isso porque o crédito é destinado exclusivamente aos produtores de pequenas propriedades de cacau em sistemas agroflorestais (SAFs). E há também a possibilidade de comércio de créditos de carbono de conservação por parte dos produtores. A venda é operacionalizada pela plataforma ReSeed, que já possui negociação com um investidor para a compra dos primeiros créditos gerados por cerca de 100 agricultores, e entra como parceira responsável por facilitar a comercialização dos próximos créditos.
Tomada de crédito e o retorno dos investimentos
O Kawá se insere no mercado como um Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro). Ao receber o crédito, o produtor tem até 45 dias para realizar o investimento. Após esse período, são 36 meses de prazo para pagá-lo, com, em média, seis meses de carência. As taxas de juros são de 12% ao ano. A aplicação dos recursos ocorre, principalmente, no custeio da adubação, irrigação, mão de obra, compra de equipamento e adensamento com mudas.
Esse projeto conta com a parceria da VERT, que será a administradora do fundo, e da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), com a sinalização da compra do cacau dos produtores beneficiados. A iniciativa inclui também um Enabling Conditions Facility (ECF) para financiamento da assistência técnica coordenado pela Violet, que contribui com sua plataforma tecnológica proprietária para monitoramento e transparência na gestão do fundo.
Já a assistência técnica ficará a cargo da Fundação Solidaridad, do Consórcio Intermunicipal do Mosaico das Apas do Baixo Sul da Bahia (Ciapra) e da Polímatas Soluções Agrícolas e Ambientais, este último com o custeio realizado pela Suzano. A originação de crédito será realizada pela Tabôa. O Kawá conta ainda com a ReSeed, que será responsável pelos créditos de carbono gerados nas propriedades dos beneficiários.