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Fortalecimento da moeda brasileira preocupa economia paraense

A valorização do real frente ao dólar afeta diretamente os números da economia do Pará, um dos estados brasileiros que mais exporta.

Igor Wilson

A cotação do dólar fechou o primeiro semestre de 2023 com uma desvalorização que não se via há sete anos no mercado brasileiro. Entre o dia 1º de janeiro e o dia 19 de junho, o dólar Ptax para venda, índice de referência para as operações de câmbio no mercado financeiro calculado pelo Banco Central, registrava um recuo de 8,38%. Este é o maior declínio para um primeiro semestre desde 2016, quando a cotação caiu 17,80%. A moeda americana, que iniciou o ano sendo cotada a valores próximos de R$ 5,23, fechou a última quinta-feira (22) a R$ 4,77menor patamar para o câmbio desde maio de 2022. O fortalecimento da moeda nacional este ano mostra a gangorra da economia brasileira em busca de um equilíbrio. Setores brasileiros que trabalham com importações comemoram o fortalecimento da moeda nacional, enquanto as empresas que exportam tentam encontrar saídas diante de uma possível perda de competitividade.

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Se o mercado iniciou o ano em meio às incertezas macroeconômicas globais e sobre os rumos do novo governo no Brasil, o fortalecimento da moeda no primeiro semestre mostra uma mudança de humor dos investidores em relação ao Brasil. Para Daniel Acatauassú, presidente da Associação. Brasileira dos Exportadores de Gado em Pé – ABEG, e Aldir Schmitt, proprietário da Algimi Florestal e uma das lideranças do setor madeireiro no Estado, o momento pede que os setores que trabalham com exportação no estado encontrem alternativas que mitiguem os possíveis prejuízos causados com o fortalecimento da moeda nacional. 

“No caso da carne, além do atual fortalecimento do real, o que mais proejudicou o setor esse ano foi o autoembargo do Brasil à China, onde nós passamos em torno de 40 dias sem poder vender para aquele mercado que é o maior destino da carne brasileira. O dólar caiu esse semestre, mas por outro lado, a arroba do boi caiu bastante também, em torno de 25% esse ano. Então, com isso, a carne brasileira continua competitiva lá fora, porque uma ação neutralizou a outra, digamos assim”, diz Daniel Acatauassú. Apesar de destacar os possíveis prejuízos ao setor de exportação de carne bovina, o presidente da Abeg sente um momento positivo para a economia brasileira.  

“Para quem trabalha com exportação, um dólar mais forte é sempre mais lucrativo, mas por outro lado, sendo brasileiro e querendo que a taxa de juros caia, e a tendência é que ela cairá conforme a inflação se mostre controlada, a pressão inflacionária será menor, o que faz com que boa parte dos setores respirem. Então, olhando pelo lado do Brasil, é um bom momento”, disse.

Madeira

Um dos principais itens de exportação da Amazônia, a madeira sofreu uma queda de 46% no volume exportado ao longo dos últimos dez anos e teme persistir na retração com a valorização do real. A visão do presidente da Abeg não é compartilhada integralmente pelo setor madeireiro. É o que garante Aldir Schmitt. O proprietário da Algimi Florestal, empresa especializada na exportação de madeira sediada em Santarém. relata dificuldades anteriores atravessadas pelo setor devidos aos juros altos nos Estados Unidos e na Europa. Com o fortalecimento do real, Aldir teme um efeito pior ainda.  

“Nós já estamos com dificuldade de venda no mercado externo em função dos juros que estão muito altos nos EUA e na Europa, além também das dificuldades impostas com a guerra, que acabou aumentando muito o custo de vida do europeu. Hoje, com essa dificuldade de venda, os nossos preços caíram. Muitas vezes fazemos um contrato hoje e só vamos conseguir embarcar e entregar o produto 90 dias depois, devido a todas essas dificuldades. O setor está perdendo valor e agora estamos em busca de saídas. Nas próximas vendas, para não termos esse prejuízo, estamos planejando aumentar o valor em dolar do produto, mas isso também é preocupante. O que já está difícil de vender hoje, vai ficar pior ainda com o dólar caindo a todo momento”, diz Aldir. 

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