Fim do defeso, preço alto: caranguejo segue escasso e caro em Belém
Mesmo com o fim do defeso, preço do caranguejo sobe 11,42% no primeiro trimestre; consumidores sentem no bolso e vendedores enfrentam escassez provocada pela maré alta
Mesmo com o fim do defeso, preço do caranguejo sobe 11,42% no primeiro trimestre; consumidores sentem no bolso e vendedores enfrentam escassez provocada pela maré alta
O período do defeso do caranguejo-uçá, que se encerrou entre os dias 29 de março e 3 de abril, é um momento aguardado tanto por consumidores quanto por quem vive da extração e venda do crustáceo no Pará. No entanto, passadas as primeiras semanas do fim da período, o caranguejo ainda é um item escasso nas feiras da capital paraense e, quando encontrado, está com preços elevados e qualidade abaixo do esperado.
Na manhã desta terça-feira (16/04), o Grupo Liberal visitou a tradicional Feira da 25, na Avenida Rômulo Maiorana, em Belém, e constatou que os caranguejos ainda chegam às bancas em pouca quantidade e, muitas vezes, magros. A explicação vai além do fim do defeso: segundo um vendedor, a maré alta tem dificultado a captura nos manguezais.
“O caranguejo tá custando R$ 5 a unidade. O especial, que é o maiorzinho, chega a R$ 7. Mas tá dando pouco caranguejo. A maré tá muito grande, o mangal enche e aí não dá pra tirar o caranguejo. Aí vem pouco”, explica José Tomás Santos, vendedor na feira. Ele diz que só quando o crustáceo “começa a andar” — período em que sai do mangue em busca de acasalamento — o preço tende a cair, chegando a promoções como 3 unidades por R$ 10. Contudo, por enquanto, a maré alta continua sendo um obstáculo.
A escassez do caranguejo já se reflete no bolso do consumidor. Dados do IPCA, índice oficial de inflação, divulgados na última sexta-feira (11/04) pelo IBGE, mostram que o caranguejo ficou 11,42% mais caro em Belém no primeiro trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Só em março, o aumento foi de 1,13% em relação a fevereiro.
Para quem aprecia o sabor regional do crustáceo, como a consumidora Adleia Farias, o jeito é pesar o desejo com o orçamento.
“Tá um pouquinho salgado o preço do caranguejo em Belém. Tô comprando a R$ 5 a unidade, e chega até R$ 7. E olha que ele nem tá tão gordo. Mas como eu gosto, acabo comprando mesmo assim, de vez em quando”, conta.
O defeso é uma estratégia ambiental essencial para preservar o ciclo reprodutivo do caranguejo-uçá, espécie de grande importância para a economia local e para a alimentação dos paraenses. Apesar do fim do período de proteção, ainda há instabilidade no abastecimento.
“Nos próximos meses, a tendência é que o caranguejo continue escasso. Por quanto tempo, eu não sei. Depende da maré”, conclui José Tomás.
Enquanto o caranguejo não volta a andar em abundância, o consumidor deve continuar enfrentando preços elevados e carne escassa. Para muitos, resta apenas esperar por marés mais favoráveis — tanto no mangue quanto no bolso.