Energia solar: Pará desponta na geração com R$ 5,2 bilhões em investimentos e desafios para o futuro
Estado supera 1,1 GW de potência instalada em sistemas fotovoltaicos, mas enfrenta entraves tributários e de financiamento para expansão do setor.
Com mais de R$ 5,2 bilhões em investimentos acumulados e 1,1 gigawatt de potência instalada em energia solar, o Pará se firma como protagonista da geração fotovoltaica no Brasil. Belém, a capital do estado, integra o Top 10 nacional de cidades com maior capacidade instalada, refletindo o avanço das energias renováveis na região. Contudo, empresários do setor apontam desafios tributários, normativos e financeiros como barreiras ao pleno crescimento do setor.
A energia solar é um ativo estratégico para o desenvolvimento sustentável do estado e ganha destaque internacional com a COP 30, que será sediada em Belém em 2025. Apesar disso, altas taxas de juros, entraves regulatórios e o impacto dos tributos sobre equipamentos ameaçam frear o ritmo de expansão do mercado.
Energia solar avança no Pará com destaque nacional
Dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) mostram que o Pará ultrapassou a marca de 1,1 gigawatt (GW) de potência instalada em sistemas solares fotovoltaicos distribuídos em telhados, fachadas e pequenos terrenos. Esses sistemas já atendem mais de 139 mil consumidores no estado, contribuindo para um modelo energético mais limpo e descentralizado. A tecnologia está presente em 99,3% dos municípios paraenses, reflexo de investimentos superiores a R$ 5,2 bilhões na última década.
Belém desempenha um papel crucial nesse contexto ao integrar o Top 10 nacional de cidades com maior capacidade de geração solar instalada. Com a escolha da cidade para sediar a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 30) em 2025, o Pará ganha relevância internacional como modelo em transição para energias renováveis.
O impacto do setor também se reflete na geração de empregos. Desde 2012, foram criados mais de 34 mil postos de trabalho no Pará, que também acumulou R$ 1,6 bilhão em arrecadação aos cofres públicos, consolidando-se como um polo estratégico para o desenvolvimento sustentável no Norte do Brasil.
Entraves desafiam a expansão do mercado
Apesar do cenário promissor, o mercado de energia solar enfrenta barreiras significativas, como aponta o engenheiro eletricista Zaire Souza, sócio-diretor de uma empresa de energia elétrica em Belém. Segundo ele, o aumento dos tributos sobre equipamentos solares, as altas taxas de juros e os desafios regulatórios estão dificultando o acesso dos consumidores à tecnologia.
“Hoje, não está mais fácil adquirir energia solar, principalmente devido ao aumento dos impostos e ao custo do financiamento. Esses fatores acabam restringindo o mercado, mesmo em um estado como o Pará, onde a tecnologia é extremamente vantajosa”, afirma Souza.
De acordo com a ABSOLAR, a atual regulação brasileira também apresenta entraves técnicos e normativos. Problemas como a inversão de fluxo de potência e as negativas de conexão por parte das distribuidoras de energia têm impedido milhares de consumidores de aderir à geração própria de energia solar, comprometendo o crescimento do setor.
Para mitigar esses desafios, tramita no Senado Federal o Projeto de Lei nº 624/2023, que propõe ajustes no marco regulatório da energia solar, garantindo que as distribuidoras invistam diretamente na infraestrutura necessária – sem repassar custos aos consumidores.
Energia solar e economia familiar
Com a tarifa de energia mais alta do Brasil, os consumidores do Pará enxergam na energia solar uma solução eficaz para reduzir despesas e aumentar a previsibilidade orçamentária. Para o empresário Bruno Solano, do setor solar em Belém, investir em um sistema fotovoltaico é uma estratégia financeira inteligente.
“Quando o financiamento de um sistema é quitado, a economia gerada supera qualquer investimento convencional disponível no Brasil hoje. Com o custo elevado da energia, o Pará é o estado onde a adoção da tecnologia traz maior benefício econômico para as famílias e empresas”, destaca.
No entanto, a alta inadimplência e as dificuldades de financiamento comprometem a expansão do setor. “Mesmo com grande demanda, muitos consumidores encontram dificuldades para aprovação de crédito, o que acaba limitando o acesso à tecnologia”, explica Solano.
Além disso, a proliferação de empresas sem experiência no setor tem gerado problemas de qualidade nas instalações. “A falta de padronização e a entrada de empresas sem preparo comprometem a confiança dos consumidores e criam barreiras adicionais para quem deseja investir em energia solar”, alerta o empresário.
Perspectivas para o setor em 2025
Apesar das dificuldades, empresários se mantêm otimistas sobre o futuro do setor solar no Pará. A COP 30, além de colocar Belém no centro das discussões globais sobre mudanças climáticas, deve atrair novos investimentos e aumentar a conscientização sobre a importância de fontes renováveis de energia.
Para Zaire Souza, o evento pode ser um catalisador de crescimento, desde que acompanhado por políticas públicas que incentivem o consumidor final. “A COP 30 traz visibilidade ao Pará, mas só terá impacto real se houver redução de tributos e garantias de financiamento mais acessível”, pondera.
Bruno Solano reforça que o setor depende de avanços legislativos para consolidar seu potencial. “Precisamos impedir que o lobby das concessionárias limite o mercado, ao mesmo tempo em que se busca um modelo sustentável para o crescimento da energia solar no Brasil. Somente assim manteremos a qualidade e a competitividade do setor”, conclui.
Com a promessa de crescimento sustentado pela demanda reprimida e pela conscientização ambiental, o Pará se prepara para consolidar sua posição como líder em energia solar no Brasil. Mas, para que isso se concretize, o estado precisará superar desafios estruturais e garantir a estabilidade regulatória necessária para o avanço do setor.