Endividamento das famílias cai no Brasil, mas aumenta no Pará
Apesar da tendência nacional de queda, famílias paraenses enfrentaram mais dívidas em 2024.
Em 2024, ocorreu uma redução no número de famílias endividadas. O país fechou o ano com um percentual de 76,7%, quantidade inferior à de 2023, quando registrou 77,6%. Esse movimento de retração, iniciado em julho do ano passado, foi impulsionado por uma combinação de fatores, como o aumento da taxa Selic e a cautela das famílias com o uso de crédito no final do ano. Contudo, no Pará, o cenário foi inverso: o percentual de famílias endividadas subiu de 62,8% em 2023 para 68,1% em 2024. Os dados fazem parte da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Apesar do aumento no endividamento, o percentual de famílias paraenses com contas em atraso diminuiu de 24,6% para 21,2%. Por outro lado, a parcela das famílias que declararam não ter condições de quitar dívidas em atraso cresceu, passando de 6,5% em 2023 para 7% em 2024.
O economista Valfredo de Farias explica que há dois possíveis motivos por trás desse cenário. Sendo a COP responsável pelo primeiro e o aumento da Selic pelo segundo.
"A quantidade de famílias paraenses com contas em atraso pode ter diminuído justamente por causa da preparação para a COP. As obras que estão sendo feitas e os outros empreendimentos estão gerando empregos para a população e isso está ajudando as famílias a ter uma renda maior, pelo menos na teoria. Agora, com relação a não conseguir pagar suas dívidas, está muito atrelado também à taxa Selic. Por exemplo, a gente sabe que alguns itens estão mais caros, como alimentos, e aí as pessoas têm que optar: eu vou pagar a conta ou eu vou comprar comida? Então, como aumentou o valor da comida, as pessoas ficam com menos dinheiro para honrar seus outros compromissos”, afirma.
Crédito: cartão lidera, mas crédito pessoal cresce
Nacionalmente, o cartão de crédito segue como a principal modalidade de dívida, representando 83,8% dos endividados. Porém, houve também um crescimento na procura por crédito pessoal, reflexo das taxas de juros reduzidas em comparação a outras formas de financiamento.
Osvaldo Silva, morador da Região Metropolitana de Belém e pai de cinco filhos, comenta as dificuldades enfrentadas após adquirir uma dívida com o cartão de crédito. "Usamos o crédito para equilibrar as contas, mas o que era uma solução virou problema. Estamos pagando juros altos e, mesmo economizando, estamos tendo dificuldades para sair do vermelho”, comenta.
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O país encerrou o ano com um recorde de famílias declarando não ter condições de pagar suas dívidas em atraso, em 2023, esse percentual chegou a 12,2% e no ano passado, ele aumentou para 13%. Segundo Valfredo, o cenário é um reflexo do aumento de crédito proporcionado pela diminuição da inflação no período pós-pandemia. O especialista afirma que os consumidores aproveitaram a oferta para fazer novas dívidas, mas que, com o avanço da Selic e a baixa circulação monetária, fez com que eles se tornassem inadimplentes.
“No período pós-pandemia, a população começou a receber muito crédito, isso foi uma medida de fazer com que a economia voltasse. Nisso, a taxa selic foi lá para baixo e isso estimulou o consumo. Com mais dinheiro na mão, a população provavelmente vai ter mais crédito disponível e acaba comprando mais coisas. No entanto, com a alta da Selic e a diminuição da oferta monetária, essas pessoas que compraram sentiram dificuldade em arcar com o restante das dívidas, justamente porque têm menos crédito e dinheiro circulando”.
Perspectivas para 2025
Com a possibilidade de novos aumentos na Selic, o acesso ao crédito pode ficar ainda mais restrito, afetando tanto o cenário nacional quanto o estadual. Especialistas alertam que o foco deve estar na educação financeira e em políticas públicas que favoreçam a reorganização financeira das famílias.
No Pará, o desafio será maior: equilibrar o crescimento econômico com medidas que aliviem o impacto do endividamento crescente, garantindo que menos famílias cheguem a um ponto crítico de inadimplência.