Em Belém, profissionais 'quebram' o preconceito e se firmam no mercado
Pessoas pretas ainda enfrentam discriminações salariais, ocupacionais e por imagem
O Brasil tem 56% da população autodeclarada preta e parda e isso representa a maior parcela da força de trabalho. Desse contingente, mais de 60% é composto de trabalhadores desocupados ou subutilizados. Quando se trata das mulheres negras, o cenário é ainda mais desfavorável. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Desde o ano de 2018, as pessoas pardas e pratas são maioria no ensino de nível superior público, ainda assim, esses números não se refletem no mercado de trabalho. As pesquisas realizadas pelo IBGE apontam que as pessoas pretas ou pardas são as que mais sofrem no país com a falta de oportunidades e a má distribuição de renda.
A liderança de empreendedores e empresários pretos e pretas, por isso, funcionam como vitrine e exemplo de resistência para quem segue sendo os mais vulneráveis no ambiente de trabalho.
Apoio familiar é um pilar vital no enfrentamento do racismo
Com 22 anos de advocacia em Belém, Suena Carvalho Mourão é pós-graduada em Direito Administrativo e, atualmente, cursa a segunda pós em Direito Antidiscriminatório.
Questionada sobre o enfrentamento de atos discriminatórios, incluindo o ambiente de trabalho, a advogada aponta um conjunto de valores, desde o apoio recebido em casa, a busca de conhecimento acadêmico, mas não só isso, o engajamento no sentido de conhecer a luta histórica do povo preto.
"Todos esses elementos têm um papel fundamental no apoio e empoderamento de pessoas negras. O apoio familiar pode ser um pilar importante para enfrentar desafios, promover a autoconfiança e oferecer suporte emocional. A possibilidade de acesso ao conhecimento acadêmico, muito estimulada após a implementação da Lei de Cotas, permite oportunidades profissionais e oferece ferramentas para a conquista de objetivos, mudando vidas”, afirmou Suena.
A desigualdade social no Brasil está diretamente associada à desigualdade racial. Suena Mourão defende que “conhecer a história do povo negro é crucial para compreender as origens das desigualdades e injustiças sociais, promovendo uma consciência crítica e a valorização da própria identidade”, observa.
Salários e progressão de carreira desiguais
De acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT), os negros enfrentam dificuldade na progressão de carreira, na igualdade de salários e são os mais suscetíveis ao assédio moral no ambiente de trabalho, apesar da proteção constitucional contra o racismo e a discriminação.
"Ter orgulho da própria negritude é fundamental para a construção da identidade e autoestima das pessoas negras. É um ato de reafirmação cultural, histórica, social e principalmente político, que valoriza a diversidade étnico-racial e combate o racismo estrutural”, diz a advogada Suena Mourão.
Entretanto, aponta ela, “é importante ressaltar que as experiências individuais são diversas e o que pode impulsionar alguém pode não ter o mesmo impacto em outra pessoa, principalmente, quando se trata de pessoas negras que carregam todo um peso histórico da escravização”.
Suena Mourão é categórica quanto à procura de conhecimento. “Pessoas negras, assim como quaisquer outras, devem buscar oportunidades de educação e desenvolvimento nas áreas que desejam atuar profissionalmente. Isso pode envolver educação e capacitação, networking e parcerias, persistência e resiliência, empreendedorismo e inovação”.
“Mas, para que verdadeiramente tenhamos chance de exercer tais técnicas é importante defender a igualdade de oportunidades e lutar contra o racismo estrutural, buscando ambientes profissionais mais inclusivos e equitativos para que pessoas negras possam desenvolver seus talentos e alcançar seus objetivos profissionais”, afirmou a pós-graduanaem direito antidiscriminatório.