Economia noturna de Belém está aquecida, dizem empreendedores e consumidores
Pequenos e médios empresários mostram satisfação com a evolução dos negócios
Comidas, drinks, músicas e distração. Há quem não acredite em felicidade, só em momentos felizes (como diz Odair José no clássico dos 70), e, se é assim, a noite de Belém irradia divertimento. Tem gente se divertindo e tem gente trabalhando, de domingo a domingo.
"Em Belém, se eu quiser sair na segunda-feira tem points: o bodega bar com a “Segunda do Bregaço’, na Conselheiro; na Cidade Nova tem o Paladar Gi, que ganhou o 3° lugar na etapa nacional do concurso “Comida di Buteco” 2024", e tem igarapés com música ao vivo no Curuçambá, Ceasa, Cidade Nova, até em Marituba”, disse o músico Gil Martins, em dia de folga, tomando cerveja com dois amigos: o músico Rafael Rodrigues e Adriano Souza.
Adriano Souza trabalha com telecomunicações em Portugal e está de férias, em Belém. “Eu até moro na Europa mas amo mesmo é o meu Jurunas”, falou Adriano para gargalhada geral à mesa.
Os três amigos batiam papo entre goles gelados, em plena terça-feira, na noite chuvosa de 8 deste mês. Eles estavam no Bar Bragança, na travessa Vileta, no bairro do Marco. O quarteirão fica entre as avenidas Romulo Maiorana e Almirante Barroso, e concentra barzinhos, quase todos com música ao vivo.
Sobre as atrações do Bar Bragança, Antônio Risuenho, de 65 anos, o dono do estabelecimento, destacou: “meu carro-chefe é o litrão e tira-gosto: batata frita com calabresa, coxinha frita na hora, e a tábua de frios, que o pessoal gosta e sai bastante”, disse.
“O paraense gosta de sair para tomar cerveja e comer uma coisinha”, garantiu Risuenho, com a experiência de décadas com bares em Belém. Casado há 44 anos e pai de um casal de filhos adultos, Risuenho é bragantino e contou que também passou a ser chamado de ‘Bragança’.
O bar tem a imagem de São Benedito (padroeiro de Bragança) e fitas coloridas da Marujada, dança tradicional do município dos Caetés. O local funciona há 6 anos no mesmo lugar na Vileta, e Risuenho está satisfeito com o negócio.
‘Depois da pandemia, o movimento cresceu’, diz dono de bar no Marco
Antônio Risuenho não se furtou em dizer que o bar Bragança vai bem. "Já tem uns dois anos que está bom, graças a Deus, depois da pandemia, o movimento cresceu. Hoje é terça, é fraco, agora quinta, sexta e sábado é o pico. Por volta das 21h, isso ferve”.
Risuenho mantém um dj, que toca sexta e sábado, samba, brega, sertanejo e ‘música de saudade’. “Não tenho dificuldade com nada. O trabalho, já estou acostumado, todos têm de trabalhar”, comentou. Risuenho tem fornecedores certos para as cervejas e para os salgadinhos.
Os salgadinhos, disse ele, já vêm prontos e ele só manda fritar na hora que o cliente pedir. “O importante é ter a cerveja bem gelada, arregaçar as mangas e não desistir. E, claro, ser honesto nas contas, não deixar o cliente se sentir lesado”, recomendou o experiente “Bragança”, que assegurou manter sua família bem, economicamente, até hoje.
Para além da arte de servir bebidas combinando sabores e ingredientes para os animados clientes, há quem aposte no período da noite, em lojas físicas exclusivas, fora do segmento de bebidas e comidas, unindo roupas, sapatos e badalação. É a experiência, por exemplo, de Rodolfo Lima que vende camisas, tênis e acessórios de marcas nacionais e estrangeiras, na Vila Container, no bairro de Nazaré.
Rodolfo Lima fica à frente de loja exclusiva na Vila Container em BelémA ‘Vila’ reúne um conjunto de containers movimentados pela venda de chopes, cervejas artesanais e sanduíches, mas há quem prefira ir lá para comprar tênis e roupas de marcas originais, cujas matrizes estão no Rio de Janeiro, por exemplo. Rodolfo Lima fica à frente justamente dessa loja, que é a única em Belém a vender, as citadas peças de marcas famosas.
'Sim, as bebidas impulsionam as compras', diz empreendedor em Nazaré
"Tem sempre aquele pessoal que dá uma olhadinha, vê um tênis antes, aí, depois, está bebendo umas ali, volta e diz: 'eu vou levar'. É comum no final do rolê", conta Rodolfo Lima sorrindo com a vantagem de o container estar em um ambiente frequentado pelo público que gosta da cultura street, a maior aposta da loja.
Rodolfo contou que o container é de propriedade de um amigo dele de infância. O espaço até tem uma geladeira com cervejas, mas o forte são as roupas e acessórios. "Não pode chegar uma coleção nova que o pessoal vem correndo", disse Rodolfo sobre os tênis, que variam de R$ 219 a R$ 749, no máximo". O container abre de domingo a domingo, das 15h às 23h.
Luan Oliveira, de 28 anos, é o supervisor de uma cervejaria artesanal
Ainda na Vila Container, Luan Oliveira, de 28 anos, é o supervisor de uma cervejaria artesanal, que integra uma rede com lojas em Parauapebas, Marabá, Araguaína (Tocantins), e São Paulo. O local fabrica oito estilos de chopes autorais, com receitas próprias e ingredientes como polpas de cupuaçu e taperebá. A cervejaria também vende hambúrgueres, e funciona de domingo a domingo, das 18h às 23h.
Luan Oliveira também garante que eles têm ótimos resultados, e admitiu que a localização, no centro da cidade, facilita o acesso do público que consome os produtos deles. “A gente tem um público variado, é muita criança porque a gente tem hambúrgueres, x-filé, sanduíches de queijo, de vinagrete, espetinhos de carnes bovina, frango, misto, e, então tem também muitos jovens e muitos idosos”, falou achando graça.
‘Trânsito de Belém parece o da Índia”, aponta turista
Mesmo com a noite de chuva, havia gente curtindo as cervejas artesanais e sanduíches na Vila Container. Um exemplo era a mesa de quatro amigos. O casal de paulistas, Tales Vieira (físico e programador de sites e-commerces) e a internacionalista Isabela Nogueira, turistas de primeira viagem a Belém, e junto com eles outro casal, o paulista Júlio Silva, de Campinas, e a paraense, de Santarém, Brenda Carvalho.
Tales e Isabela disseram que vieram a Belém, influenciados por um amigo de Belém, que conheceram nos Estados Unidos, e sempre falou bem da capital paraense. O amigo paraense deles segue morando nos Estados Unidos, em Atlanta, na Geórgia, e eles decidiram vir conhecer Belém, neste mês de abril.
"Ele fala muito de Belém, que a comida é maravilhosa, que as pessoas são receptivas e é tudo verdade", disse Isabela. O casal foi à Ilha do Combu, ao Mangal das Garças, à Estação das Docas, no restaurante Amazônia na Cuia e aprovou tudo. Mas, estavam assustados com os alagamentos na cidade. "É preciso arrumar isso", afirmou Isabela.
Júlio e Brenda, o outro casal, moram um ano em Belém e são físicos-médicos na área de radioterapia. Eles concordaram com elogios dos amigos à comida paraense e ao calor humano dos belenenses e reclamaram da desordem do trânsito, que compararam com o da Índia.
“Belém precisa superar a questão do lixo e o trânsito, que parece a Índia, é muito perigoso. Quem anda na ciclovia são os ônibus e motos, e eu tenho medo de andar de bicicleta aqui", disse Júlio com um sorriso nervoso. "Belém é uma cidade em que as pessoas confraternizam", complementou o paulista.
Jovens correm atrás de dias melhores
Na noite da terça-feira de chuva, um grupo de gente jovem reunida, com idades entre 19 e 32 anos, esperava a hora de trabalhar. Eles estavam em uma pracinha na avenida Visconde de Souza Franco, a Doca, esquina com a rua Diogo Móia, no Umarizal. Todos eram entregadores de bebidas e lanches. Um trabalho que gera receita direta para as plataformas de entrega, restaurantes e lojas, e movimenta o consumo local e impulsiona a economia informal de Belém.
Entre eles, Edmar de Azevedo, de 32 anos; Erick Gonçalves, 20 anos, Antônio Rostan, 19 anos, disseram conhecer bem Belém, e tranquilos falaram da rotina diária de ziguezaguear a cidade de dia e de noite. Um trabalho que gera receita direta para as plataformas de entrega, restaurantes e lojas, movimenta o consumo local e também impulsiona a economia informal.
“Difícil mesmo é o trânsito, o cara não pode vacilar, e como a cidade está cheia de obras por causa da COP 30 (Conferência Mundial do Clima), está crítico. Na Duque, o pneu da moto dança porque estão raspando o asfalto”, disse Edmar, sob o olhar atento de Erick Gonçalves, 20 anos, que concordou com o colega de ofício.
Antônio Rostan também comentou sobre o trânsito e sobre lugares isolados, onde ele teme assaltos. Os três costumam trabalhar a partir das 18h. “De noite, é bom porque tem menos trânsito mesmo assim é risco sim. Eu tenho uma meta de R$ 100 a R$ 150, por dia. Dependendo do dia, eu consigo isso, aí, pago a minha moto, pago contas. É para me sustentar mesmo”, afirmou Antônio.
Rostan também trabalha, de dia, como mecânico. “Eu só tenho uma bicicleta e faço entregas com ela para completar a renda. Cansa, mas acostuma o corpo a pedalar todo dia. E eu preciso, porque faço um curso de eletrotécnica, por três dias na semana, na Estácio Fap.
Sobre como se vê daqui a 5 anos, Antônio disse que sonha ser marítimo. “Quero estar embarcado, melhor”.