Dólar recua para R$ 5,75 em 2025: entenda os fatores por trás da queda
O recuo nas barreiras comerciais diminui a pressão inflacionária nos EUA, reduzindo a necessidade de juros altos no país e, consequentemente, enfraquecendo o dólar.
O dólar, que iniciou 2025 cotado a R$ 6,16, vem apresentando uma sequência de desvalorizações e fechou esta terça-feira (4) a R$ 5,77, acumulando uma queda de 6,76% no período. De acordo com especialistas consultados pelo g1, esse movimento é influenciado por uma combinação de fatores econômicos no Brasil e no exterior.
Entre os principais motivos para a recente baixa da moeda americana estão a postura menos agressiva de Donald Trump em relação a tarifas comerciais, a manutenção de juros elevados no Brasil, uma redução nas tensões econômicas internas e uma menor preocupação com riscos geopolíticos.
Trump modera tom e impacto no mercado
A volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos gerou apreensão nos mercados devido às suas promessas de políticas protecionistas, como tarifas de até 60% sobre produtos chineses e taxas de 25% para importações do México e Canadá. No entanto, analistas observam que, até o momento, sua abordagem tem sido mais cautelosa do que o esperado.
“As tarifas foram aplicadas de forma mais branda, o que reduziu a tensão global e fortaleceu moedas de países emergentes, como o real”, afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. Um exemplo disso foi a tarifa sobre produtos chineses, que ficou em 10% – bem abaixo dos 60% inicialmente prometidos.
Além disso, o México e o Canadá conseguiram adiar a aplicação de taxas sobre seus produtos ao negociarem reforços nas fronteiras com os Estados Unidos. A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, anunciaram medidas para conter o tráfico de drogas e produtos ilegais, em troca da suspensão temporária das tarifas.
Esse recuo nas barreiras comerciais diminui a pressão inflacionária nos EUA, reduzindo a necessidade de juros altos no país e, consequentemente, enfraquecendo o dólar.
Juros altos no Brasil atraem capital estrangeiro
No cenário doméstico, o Banco Central manteve a taxa básica de juros elevada, o que torna os investimentos no Brasil mais atraentes para investidores estrangeiros. Com a Selic em 13,25% ao ano, títulos de renda fixa brasileiros oferecem retornos competitivos, incentivando a entrada de dólares no país e valorizando o real.
Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, destaca que o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos favorece essa tendência. “Com os EUA sinalizando possíveis cortes na taxa de juros, o Brasil se torna ainda mais interessante para investidores que buscam maior rentabilidade”, explica.
Menos incerteza fiscal no Brasil
Outro fator que contribuiu para a valorização do real foi uma leve redução na percepção de risco econômico interno. No fim de 2024, o mercado reagiu negativamente ao pacote fiscal do governo, considerado insuficiente para reduzir os gastos públicos. A reação inicial fez o dólar disparar, mas agora o mercado parece mais ajustado à realidade fiscal do país.
“A frustração inicial com o pacote de corte de gastos fez o real perder muito valor, mas agora há uma recomposição desse movimento”, aponta Gustavo Jesus, sócio da RGW Investimentos.
Além disso, declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicaram um tom mais moderado em relação ao compromisso fiscal, o que ajudou a reduzir a volatilidade do câmbio.
Menos tensão geopolítica favorece mercados
A diminuição de conflitos no cenário internacional também contribuiu para um ambiente mais favorável às moedas emergentes. O cessar-fogo entre Israel e Hamas, que entrou em vigor em janeiro, trouxe um alívio parcial ao mercado financeiro, reduzindo a preocupação com impactos econômicos da guerra.
Além disso, sinais de uma possível negociação entre Rússia e Ucrânia indicam um caminho para a estabilização do conflito, que já dura quase três anos. “Se o risco geopolítico diminui, há menos procura por ativos considerados seguros, como o dólar”, explica Alex Agostini.
Expectativas para os próximos meses
Apesar da recente queda do dólar, especialistas apontam que o cenário ainda depende de fatores externos e internos. Se os juros nos EUA permanecerem altos por mais tempo, o dólar pode voltar a ganhar força. No Brasil, a condução da política fiscal será determinante para manter a confiança dos investidores.
“A moeda americana pode ter momentos de valorização, mas a tendência é que o real siga relativamente forte, enquanto as incertezas globais continuarem diminuindo”, conclui Helena Veronese.