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Pai e filha paraenses, ele da geração Boomer e ela da Geração Z, revelam impactos da tecnologia

Pesquisa aponta que, enquanto boomers evitam riscos online, geração Z adota compras digitais com facilidade. Especialista alerta para os impactos na economia, ao longo prazo

Hannah Franco / Especial em O Liberal

A tecnologia está cada vez mais presente no dia a dia das pessoas, independentemente da idade. No entanto, a forma de consumo entre as gerações ainda apresenta diferenças expressivas. Enquanto os chamados Baby Boomers (nascidos até 1964) demonstram certa relutância em relação aos meios de consumo online, a Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012), formada por jovens altamente conectados, tem grande facilidade e preferência por esse tipo de transação.

Em todas as regiões e faixas etárias, as mídias sociais impulsionaram o comércio eletrônico a um novo patamar. Hoje, ambas as gerações já tiveram contato com sites de compras online ao menos uma vez. No entanto, a geração boomer ainda se mostra muito mais desconfiada do que os jovens da geração Z quando o assunto é consumo na internet.

Segundo o estudo Beyond Age, os brasileiros tendem a se tornar mais avessos ao risco com o passar dos anos. A pesquisa aponta que 54% das pessoas entre 25 e 34 anos estão dispostas a correr riscos, enquanto entre o público de 55 a 65 anos esse percentual cai para 33%.

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O dado reflete na experiência de Marcelo Muniz, capitão do exército de 60 anos que ainda é resistente às compras pela internet. "Não costumo comprar pela internet, raramente o fiz, porque sou muito desconfiado. Prefiro comprar no olho a olho, entendeu? Acho que quando você compra pela internet, pode ser enganado: você vê uma foto e, quando o produto chega, é outra coisa", afirma o militar.

A relutância dos boomers

Marcelo faz parte do grupo de consumidores boomers que já tiveram alguma experiência negativa e decidiram não insistir no hábito de compras online. "Para eu ter confiança em compras digitais, só compraria se houvesse uma loja física onde eu pudesse trocar um produto e tivesse garantia. Nas compras digitais, você se sente impotente e, no final, pode acabar no prejuízo", disse.

Apesar da aversão ao consumo digital, Marcelo não abriu mão dos meios de pagamento online. "Eu uso o Pix, uso os aplicativos do meu banco, porque realmente é muito prático, né? Economiza muito tempo. Isso eu aprovo inteiramente e é uma das coisas que mais gosto dessa era digital", afirmou.

Mesmo reconhecendo a praticidade do mundo digital, ele ainda prefere comprar em lojas físicas, embora perceba que os preços costumam ser mais altos e precisam se adaptar à concorrência dos valores online. "Para continuar nos atraindo como clientes, os mercados físicos precisam baixar os preços, porque pela internet você percebe que geralmente é muito mais barato. Isso atrai o consumidor, enquanto o físico, geralmente, é mais caro", observou.

Facilidade da gen Z

Filha de Marcelo, a estudante de Psicologia Tamara Marcelle, 24 anos, exemplifica bem essa relação estreita com as compras online. "A tecnologia influencia e facilita a comunicação entre mim e o produto. Além de trazer mais facilidade, já que posso comprar de maneira mais rápida", explica.

Contudo, essa familiaridade com o meio digital também traz riscos. A “gen Z” é a mais afetada pelos golpes online, sofrendo 17% mais fraudes em comparação aos outras gerações, conforme pesquisa da empresa Akamai. Apesar disso, Tamara adota medidas de precaução ao comprar na internet. "Eu só compro de um local que é muito confiável, seja por indicação de alguém ou pela avaliação de outros compradores. Quando vejo bons comentários, isso me passa mais segurança", afirma.

A confiabilidade do vendedor e a opinião de outros consumidores são fatores decisivos para ela. "Se alguém comprar algo e der um retorno muito positivo, eu fico interessada. Uma propaganda dificilmente me atrai, a não ser que o preço seja muito bom e seja de um local próximo, onde eu possa ir pessoalmente", completa.

Outra diferença significativa entre as gerações está na forma de pagamento. Enquanto os boomers ainda têm o hábito de usar dinheiro em espécie com frequência, a geração Z tem adotado massivamente pagamentos digitais. "Geralmente, só uso dinheiro físico para pegar ônibus. Hoje em dia, uso muito mais Pix, que é mais prático. Se um dia puder usar Pix no ônibus, acho que raramente vou precisar de dinheiro físico", conta Tamara.

Impacto na economia

As diferenças de consumo entre as gerações são um reflexo do impacto da tecnologia no cotidiano. O economista Nélio Bordalo Filho, conselheiro do Conselho Regional de Economia dos Estados do Pará e Amapá (CORECON PA/AP), explica que a crescente adesão dos jovens ao e-commerce tende a diminuir o tráfego nas lojas físicas, o que pode levar, a longo prazo, ao fechamento de negócios tradicionais.

"Pequenos negócios e o varejo tradicional enfrentam dificuldades para competir com grandes marketplaces. Isso pode resultar, no futuro próximo, no fechamento de muitas lojas físicas e na concentração do mercado nas mãos de grandes empresas, prejudicando a diversidade do comércio", diz o especialista.

O economista ressalta que a transformação no comportamento de consumo entre as gerações pode impactar a economia a longo prazo. "A digitalização pode reconfigurar a economia, criar um ambiente mais eficiente, mas também mais desigual, com impactos na competitividade e na inclusão social, além de redução de vagas de empregos no comércio tradicional. Isso afeta a renda de boa parte dos trabalhadores, principalmente em cidades que possuem o comércio como forte atividade econômica."

Filho explica, ainda, que a evolução dos meios de consumo deve continuar moldando a economia nos próximos anos, exigindo adaptações tanto das empresas quanto dos consumidores.

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