Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino: mulheres destacam principais desafios
Data, celebrada nesta terça-feira (19), alerta para a valorização da mulher dentro do mercado
A mulher está cada vez mais presente nos setores econômicos do Pará. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), analisados pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Pará (Sebrae-PA), 34% dos empreendimentos paraenses são comandados por mulheres, sendo que 87% delas empreendem por conta própria e 13% têm pelo menos um empregado. O Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, celebrado nesta terça-feira (19), alerta para a valorização da mulher dentro desse mercado.
Entre as mulheres em idade ativa, 13,5% praticam o empreendedorismo feminino no Estado. No ranking nacional, o Pará fica atrás apenas de Santa Catarina, que registrou taxa de 13,8%. Ainda de acordo com o levantamento, as mulheres empreendem, principalmente, nos setores de serviços (48%), comércio (33%), indústria (13%) e agropecuária (5%). Quanto à raça, 77% se autodeclararam negras, 22% se autodeclararam como brancas e 1% de outras raças.
Propósito nos negócios
Empreendedora desde os 12 anos de idade, Giovanna Caetano, hoje com 26, já se reinventou diversas vezes. Sua primeira experiência foi com uma doceria artesanal que nasceu do seu amor por doces e da vontade de criar algo único. Depois, ela fundou uma loja de aromas e velas, que hoje é a realização de um sonho: ter um negócio que une arte, cultura paraense e bem-estar, com velas feitas de materiais sustentáveis e inspiradas na Amazônia.
“A empresa surgiu após realizar o sonho de fazer o curso Empretec da ONU [Organização das Nações Unidas], ministrado pelo Sebrae. Essa experiência transformadora me deu as ferramentas e a confiança para tirar minha ideia do papel. Além disso, sou idealizadora do movimento Tricotando, que conecta mulheres empreendedoras de várias idades, incentivando elas a encontrarem seu lugar no mercado de trabalho por meio do empreendedorismo”, diz.
Mais recentemente, Giovanna se tornou sócia de um novo negócio: um lanche de rua criado junto com seu pai, Théo, para ajudá-lo a se reinventar aos 62 anos de idade e se recolocar no mercado de trabalho após décadas na área do turismo. Segundo ela, a empresa é uma homenagem à história de seu pai e ao talento dele com as receitas autorais, e tem sido uma “experiência incrível compartilhar isso com ele”.
A motivação da empreendedora, em todos os negócios dos quais já fez parte, sempre foi a independência e a vontade de criar algo com propósito. Embora tenha começado bem cedo essa jornada, já precisou se adaptar em alguns momentos. Entre os desafios, Giovanna cita a falta de capital inicial, além de questões mais internas, como a síndrome de impostora e a autossabotagem.
Empreendedoras enfrentam desafios
Em diversas ocasiões, ela afirma ter sentido que precisava provar ainda mais a sua capacidade por ser mulher. E, sendo mãe solo, enfrentou desafios ainda maiores para conciliar a maternidade com a gestão dos negócios. “É muito complicado equilibrar o tempo, especialmente porque, como mães, carregamos muitas expectativas sociais e emocionais. No começo, sentia que precisava ser perfeita em tudo, mas aprendi que isso não é sustentável. A superação veio ao buscar apoio em redes de empreendedoras. Estar cercada de mulheres que entendem e compartilham desses desafios foi transformador”, aponta.
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Os planos de Giovanna são expandir cada um dos negócios de forma sustentável, valorizando a cultura e as pessoas envolvidas. Na empresa que possui junto com o pai, o objetivo é crescer sem perder a essência familiar, levando as receitas para mais pessoas e reforçando a história. No Tricotando, ela planeja ampliar a rede de apoio às empreendedoras e oferecer mais oportunidades de aprendizado e conexão.
A empreendedora e gerente de projetos Milla Carvalho, de 46 anos, é dona de uma papelaria online que surgiu durante a pandemia em meio a desafios pessoais e profissionais. “Eu perdi o emprego de anos que tinha e me vi sem renda. Sempre fui consumidora de papelaria, amo ter itens diferentes e fofinhos e tinha muita dificuldade de encontrar em Belém esse tipo de produto. Com o desemprego, vi que era a oportunidade de unir o útil ao agradável e abrir a minha papelaria, focada em produtos fofos e diferentes”, lembra.
Para ela, a motivação foi a busca imediata de uma nova renda. Milla imaginou que seria difícil encontrar um outro emprego rápido, em meio à pandemia, por isso focou na oportunidade de ter um negócio próprio para ajudar nas despesas de casa. Mas, como ela não conhecia o mercado, apenas o lado consumidor, relata que teve dificuldade de encontrar fornecedores e fazer pedidos mais assertivos. A empreendedora conta que pretende ter uma loja física e ampliar a papelaria.
Como mulher, a empreendedora diz que nunca percebeu dificuldade por conta do seu gênero, principalmente no setor escolhido, mas ressalta que, para empreender, é preciso ter muita força de vontade e determinação. “Não é fácil empreender no Brasil, e sempre tem muita gente abrindo e fechando novos negócios. Se a pessoa não batalhar, não consegue crescer”, aponta.
Já Giovanna diz que as principais habilidades ou qualidades que considera essenciais para o sucesso como empreendedora são a empatia, resiliência, criatividade e planejamento, além de saber se conectar com pessoas e buscar aprendizado constante. “Para quem deseja empreender, meu conselho é: comece de onde está, com o que você tem, e não espere pelo momento perfeito. Teste suas ideias, esteja aberta a erros e invista em capacitação. Além disso, não tenha medo de pedir ajuda ou se conectar com outras mulheres empreendedoras”.
Programa de capacitação
Para criar e desenvolver políticas públicas e ações específicas para o empreendedorismo feminino, o Sebrae-PA possui o programa “Sebrae Delas”, que auxilia mulheres no aperfeiçoamento da gestão empresarial e, principalmente, no desenvolvimento das competências socioemocionais.
Segundo a analista do Sebrae-PA e gestora estadual do programa, Isabelle Eleres, a principal forma de estimular a mulher a empreender é dando oportunidades em diferentes aspectos, como a capacitação, para estudar o mercado e construir um modelo de negócio de maneira assertiva.
“Assim, ela pode conseguir um financiamento com mais segurança, ativando a rede de contatos nos diferentes setores da sociedade, flexibilizando as jornadas de trabalho considerando a tripla jornada de trabalho das mulheres: com as atividades domésticas, com os filhos e ainda a frente de um negócio. Somente criando essa ambiência positiva, as mulheres efetivamente terão equidade", destaca.
O programa é desenvolvido no estado desde 2022 e este ano já atendeu 2.750 mulheres em 75 municípios paraenses com ações de capacitação, consultoria, mentoria, encontro de conexões, fortalecendo os negócios liderados por mulheres.