Desabamento de ponte na BR-226 agrava crise econômica no Pará e região
Renda gira em torno do transporte rodoviário de cargas nos estados ligados pela ponte.
O desabamento da Ponte Juscelino Kubitschek, que ligava os municípios de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO), causou uma interrupção sem precedentes no tráfego da BR-226, afetando profundamente a economia regional. Passado mais de um mês desde o ocorrido, as consequências são devastadoras para diversos estados, incluindo o Pará, que dependem da rodovia para o transporte de produtos agrícolas e mercadorias.
Impacto no setor agrícola e no escoamento de grãos
A BR-226 é um dos principais corredores logísticos do Norte e Centro-Oeste, sendo fundamental para o escoamento de grãos como soja e milho, além de carne e derivados, provenientes de estados como Mato Grosso, Pará, Tocantins e Piauí. Com o colapso da ponte, o transporte foi drasticamente reduzido, resultando em atrasos, aumento de custos logísticos e dificuldades na entrega de produtos.
Segundo dados de associações comerciais, apenas a cadeia produtiva de grãos, que utiliza portos localizados no Pará como ponto de exportação, já acumula milhões de reais em prejuízos. A falta de alternativas viáveis para a travessia na região prejudica não apenas os grandes produtores, mas também os pequenos agricultores que têm acesso limitado a recursos para replanejar a logística.
Prejuízos severos no comércio local
Além do agronegócio, o desabamento da ponte atingiu em cheio o comércio e os serviços locais. Postos de combustíveis, mercados, restaurantes e lojas enfrentam quedas drásticas no faturamento. Alguns postos relatam uma redução de 90% no volume de vendas de combustíveis. Outros segmentos, como o de peças e acessórios automotivos, enfrentam situações semelhantes, com empresas forçadas a dar férias coletivas ou demitir funcionários para lidar com os prejuízos.
No Pará, empresas que abastecem produtos via a BR-226 observam estoques reduzidos e aumento no custo do transporte alternativo, afetando diretamente os preços ao consumidor. De acordo com Tiago Wendler, empresário do setor automotivo, o colapso prejudicou não apenas as operações locais, mas também gerou atrasos para parceiros em outras cidades. “Nossa cadeia de fornecedores ficou comprometida. Cada dia parado significa mais dificuldades para cumprir prazos e atender nossos clientes,” afirmou.
Medidas paliativas e solicitações ao governo
Com a extensão da crise, associações comerciais e representantes do setor empresarial têm pressionado o governo federal por ações emergenciais. Entre as demandas estão:
- Criação de fundos emergenciais: Inspirados nas medidas adotadas durante crises anteriores, como as enchentes no Rio Grande do Sul, o objetivo é garantir apoio financeiro direto às famílias e empresas afetadas.
- Renegociação de dívidas e crédito especial: Linhas de crédito específicas para micro, pequenas e médias empresas estão entre as principais reivindicações. A proposta inclui carências mais longas e prazos estendidos para pagamento, com condições especiais para capital de giro.
- Liberação de balsas provisórias: Moradores e empresários pedem a instalação imediata de serviços de balsas para veículos de carga e transporte de passageiros. Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), as empresas responsáveis pelo serviço já estão no local, mas aguardam licenças e adequações nos acessos.
Expectativa para reconstrução da ponte
Apesar das medidas emergenciais discutidas, a solução definitiva passa pela reconstrução da ponte. O governo federal, através do Ministério da Infraestrutura, anunciou que os estudos para a obra já estão em fase inicial. Porém, o prazo estimado para entrega é de no mínimo dois anos, considerando a complexidade do projeto.
No curto prazo, o Dnit realiza trabalhos para adaptar os acessos à ponte remanescente, permitindo, ainda que de forma restrita, a passagem de veículos menores. Contudo, essa alternativa é insuficiente para atender às necessidades da cadeia logística de transporte pesado.
Buscas e impacto humano
A tragédia também trouxe perdas humanas significativas. Dos 17 desaparecidos na ocasião do acidente, 14 foram localizados, e as buscas continuam para encontrar três vítimas ainda não resgatadas. O Corpo de Bombeiros tem utilizado drones e embarcações para vasculhar o Rio Tocantins, enquanto as operações subaquáticas foram interrompidas devido ao aumento da vazão causado pela abertura das comportas da usina hidrelétrica de Estreito.