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Cresce número de 'Maridos de aluguel' no Pará

Os famosos "faz tudo" são os profissionais que realizam serviço do tipo de reparação e consertos domésticos

Debora Soares

O Pará possui 686 pessoas ocupadas de maneira formal e que são prestadoras de serviço do tipo de reparação de equipamentos domésticos, os auto-denominados “maridos de aluguel”.  Esses são dados do mais recente estudo realizado pela Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), em 2019. 

De acordo com os dados do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), foram abertas 626.883 micro e pequenas empresas foram abertas no Brasil, no ano passado. Predominantemente as microempresas representam 85% desse total, ou 535.126. Com 15% aparecem as Empresas de Pequeno Porte (EPP) com 91.757 novos empreendimentos. O setor de serviços foi quem apresentou maior quantitativo de novas empresas em 2020,20.398. O comércio aparece em segundo com 16.786 estabelecimentos abertos e o ramo alimentício, representado pelos restaurantes e similares fecharam o ano anterior com 13.124 novos postos. O cenário permanece o mesmo quando analisadas as novas aberturas de EPP’s, com o setor de serviço sendo o mais forte e atrativo para quem desejou empreender no ano passado, este setor abriu 3.108. O de construção de edifícios - que não aparecia no estudo feito com as microempresas - chega a ser expressivo nesta modalidade, ficando em segundo lugar no ranking de aberturas com 2.617. E em último lugar está o comércio varejista com 2.469, número um pouco menor do que o anterior.

 

Com a expansão de micro e pequenas empresas paraenses, esses profissionais são cada vez mais solicitados pelas empresas, por concentrarem em si a responsabilidade de solucionar - quase - todo tipo de problema. Marcelo Guedes, de 46 anos, é um desses profissionais “faz tudo” que realizam os mais diversos serviços domésticos, desde pendurar quadro na parede a realizar a instalação de toda a fiação elétrica de uma residência ele garante que faz. “Eu sou pedreiro e trabalho com tudo que possa imaginar na área residencial, faço suporte elétrico, realizo instalação de praticamente tudo, móveis, fios, eletrodomésticos, monto armários, penduro quadros, troco luminárias, conserto de torneira, enfim, faço de tudo um pouco”, afirma.

Os preços de Guedes variam de R$ 60, valor que ele cobra pra trocar uma tomada, podendo chegar a R$400 para fazer a instalação de acessórios de banheiro, por exemplo. Os maridos de aluguel costumam também estipular seus preços conforme  tipo e o volume que tarefas que serão efetuadas em cada chamado, saindo mais em conta para o solicitante a contratação desses pacotes de serviços. 

A chegada do novo coronavírus em Belém fez com que o autônomo perdesse o faturamento que já estava habituado a receber. Em períodos mais críticos, o que ele chama de “baixa procura” tinha um faturamento de R$ 400 por semanas e em “alta procura” a renda podia chegar a R$ 2 mil. Cenário que foi completamente transformado quando as pessoas precisaram ficar mais tempo em casa e corriam mais risco de contaminação. Ele chegou a ficar semanas sem receber nenhum chamado para atendimento de consertos ou reparos, apesar de seu ofício ser considerado uma atividade essencial e poder ser acionado em casos e emergência. “Se você tem uma queda de energia que causou um curto circuito e danificou a fiação, por exemplo, você não tem como esperar 40 dias ou até fim da pandemia para fazer o conserto, precisa chamar alguém para realizar a troca e restabelecer a luz. Mas nem em casos urgentes o nosso setor foi chamado. Foi um período bem difícil", relata o marido de aluguel.

Ele comenta que apesar das restrições mais severas impostas pela pandemia, como o lockdown, por exemplo, terem impactado diversos setores da economia paraense, não foram as determinações em si que diminuíram a quantidade de demandas solicitadas à ele. Para o pedreiro, foi o próprio medo das pessoas de se contaminarem que gerou nelas uma consciência de não permitirem que qualquer pessoa tivesse acesso às suas casas, fazendo com que ele fosse acionado apenas em casos urgentes. “A diminuição foi causada pelo medo das pessoas em relação ao vírus. De trazer contaminação para dentro da casa delas, porque problemas residenciais sempre vão ter, sempre quebra alguma coisa e você sempre quer trocar algo de lugar ou fazer algum reparo, então não foi nem tanto pela restrição de mobilidade das pessoas nas ruas, mas sim por conta dos riscos da pandemia”, acrescenta. 

Esse crescimento na quantidade de maridos de aluguel na Região Metropolitana de Belém foi percebido também pelas empresas que costumam contratar esse tipo de trabalhador para desempenhar funções esporádicas ou por tempo determinado. Fábio Santos, 34 anos, representa um negócio do ramo da construção que foi em busca de profissionais autônomos para erguer uma edificação. Ele trabalhava há 9 anos por conta própria, sem ter vínculo com nenhuma empresa especificamente, e sim prestando serviço à elas. Mas, para isso, contava com seis profissionais liberais como ele que formavam uma microempresa prestadora de serviços voltados para consertos, reparos, obras e tudo que envolvesse o ramo da construção civil. “Eu trabalhava como empreendedor individual, consertando fachadas, erguendo lajes, construindo e reparando piscinas e fazendo todos os tipos de tarefas que os meus cursos na área de engenharia me permitiam. Eu passei a ter contato com outras pessoas que faziam outras atividades que eu não sabia executar, e quando recebia algum chamado para algum tipo desse eu indicava eles. Com o passar do tempo eu fui aos poucos montando o meu time, chamando esses amigos para tocarem obras maiores que exigiam mais gente e formei esse grupo que faz de tudo um pouco, mas que é especialista em suas determinadas funções”, diz.

Há seis meses, a equipe de Fábio é composta por 24 funcionários, todos com carteira de trabalho assinada, e um desses amigos que virou parceiro de trabalho é Wellington Darlan Rocha, de 32 anos, que trabalha com o mestre de obras em um novo empreendimento hospitalar que estão construindo em Belém. Ele conta que realizava os mais variados serviços como marido de aluguel, antes de conseguir um emprego formal. A formalização desses profissionais é tida como fundamental para assegurar a renda familiar, a exemplo do impacto negativo que Marcelo teve ficando por três meses sem um chamado, com Darlan foi diferente tudo por conta do emprego fixo. “A pandemia veio e como a gente estava trabalhando de carteira  assinada, continuamos recebendo nossos salários normalmente, coisa que provavelmente não aconteceria se eu não estivesse nesta empresa, já com a obra em andamento”, conta.

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