Cresce número de brasileiros vivendo no exterior; EUA são país que mais abriga imigrantes
Principal fator, segundo especialista em imigração, é o entendimento de que o Brasil vive uma crise econômica e a busca por melhor qualidade de vida e de trabalho
O número de brasileiros vivendo no exterior tem aumentado significativamente nos últimos anos. O Ministério de Relações Exteriores (Itamaraty) estima que, em 2023, quase 5 milhões de brasileiros viviam fora do país, o que representou uma alta de 9% em relação ao dado de 2022. Desse total, cerca de 45% estavam na América do Norte, que abrigava, no ano passado, 2,26 milhões de brasileiros, de acordo com o órgão. Somente nos Estados Unidos, eram 2,08 milhões (pouco mais de 41%).
O crescimento vem ocorrendo, principalmente, desde 2016. Anualmente, a taxa de aumento no número de brasileiros que vivem no exterior fica entre 4% e 17%, de acordo com o Itamaraty. Em entrevista ao Grupo Liberal, o especialista em imigração Newton Netto, que atua com assessoria e consultoria internacional para green card e visto americano, afirmou que a quantidade deve fechar ainda maior em 2024.
Ele explica que não houve nenhum tipo de facilitação que tenha motivado uma presença mais intensa dos brasileiros no país norte-americano. “O que houve foi um movimento natural que acontece em países que sofrem algum tipo de crise econômica muito forte. Quando aumenta o índice de pobreza e, consequentemente, há uma retração no país, o imigrante busca um local que possa lhe dar condições melhores de trabalho e de qualidade de vida”, afirma.
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O especialista acredita que a política econômica adotada pelo Brasil nos últimos anos tenha favorecido a alta no índice de emigrantes de 2016 em diante, gradativamente. Para o resultado de 2024, que ainda não foi divulgado, esse fator também deve contribuir. “A quantidade de atendimentos diários só aumenta e mais próximo do final do ano é impressionante. Eu não atendo menos de cinco a oito pessoas por dia com interesse de imigrar legalmente para os Estados Unidos”, comenta.
Política de deportação
Enquanto cresce o interesse de brasileiros por morar na América do Norte, o presidente eleito nos EUA em 2024, Donald Trump (Republicanos), quer adotar uma política de deportação em massa a partir do ano que vem, quando retorna à Casa Branca. Segundo as estimativas, a operação vai fechar as fronteiras do país e pode remover de lá até um milhão de pessoas por ano.
Porém, não são todos os 2 milhões de brasileiros que vivem nos Estados Unidos que poderão ser afetados, e sim os que residem ilegalmente no país, que, segundo o especialista em imigração Newton Netto, chegam a 235 mil. “O ilegal é aquela pessoa que entra pela fronteira dos Estados Unidos. Já o ‘sem status’ é o imigrante que entrou no país normalmente, pelo aeroporto, e perdeu o status por algum motivo. Por exemplo, alguém com visto de turista, que permite ficar legalmente no país até seis meses, se ficar mais tempo perde o status”, detalha.
O principal impacto do endurecimento das políticas de imigração proposto por Donald Trump seria para os brasileiros que vivem de forma ilegal no país. “O grande ponto em qualquer lugar é você nunca ir contra as leis de imigração. Nos Estados Unidos, quando você está ilegal, é muito mais difícil conseguir se regularizar. Sem status você ainda consegue buscar algum outro tipo de visto que garanta a residência permanente”.
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Mesmo sendo a “vitrine” da campanha de Trump neste ano, porém, Newton não acredita que a política será implementada da forma como foi divulgada. Ele considera o número “absurdo” e a deportação de milhões de pessoas de volta aos seus países anualmente geraria um alto custo aos cofres públicos americanos - cerca de US$ 85 milhões por ano, diz. Além do gasto com a operação em si, seria prejudicial à economia do país, na opinião do especialista, porque os EUA dependem da mão de obra dos imigrantes, sejam legais ou ilegais.
“A ideia do Trump é deportar o imigrante que está ilegal. Na cabeça dele, vai gerar mais empregos para o americano ou para o imigrante que está legal. Existe um grande porém nisso tudo: tem muitos imigrantes que estão hoje de forma ilegal no país que desenvolvem atividades que o imigrante legal ou até o próprio americano não desenvolve. Em média, 35% da mão de obra qualificada do país está na mão do imigrante. Isso teria um impacto muito grande na política e economia do país”, opina.
Por outro lado, com a ideia de retirar do país as pessoas que desobedeceram às regras de imigração, poderá haver algum tipo de incentivo para aqueles que estão legalizados. Ou seja, o poder público buscaria, de acordo com Newton, gerar novas oportunidades de emprego para quem já vive nos EUA de forma legal e dar incentivos para que mais imigrantes qualificados entrem no país e movimentem a economia, desde que com visto e respeitando as políticas imigratórias.
Turismo não será afetado
Além dos brasileiros que passaram a morar no exterior nos últimos anos, houve também crescimento na demanda por vistos de turismo para os Estados Unidos. A Embaixada do país norte-americano no Brasil informou à reportagem do Grupo Liberal que, no ano passado, os consulados emitiram um recorde de 1,1 milhão de vistos para brasileiros, maior número já registrado até aqui. E, em 2024, a expectativa é de superar esse dado. No primeiro semestre deste ano, foram emitidos, aproximadamente, 675 mil vistos, refletindo um aumento de 17% em relação ao mesmo período de 2023.
Em 2026, parte dos jogos da Copa do Mundo será realizada nos Estados Unidos, o que pode atrair muito mais visitantes brasileiros. “A política de deportação, se implementada, não vai impactar no turismo de forma alguma. Ela é para quem se encontra aqui e entrou de forma ilegal. Pelo contrário, vai continuar havendo um incentivo para a entrada do turista no país e, principalmente por conta da Copa do Mundo, que vai acontecer em três países ao mesmo tempo, inclusive nos Estados Unidos, continua normalmente sem problema nenhum”, adianta.
O principal esforço do especialista em imigração é conscientizar a comunidade brasileira a imigrar da melhor forma possível. Hoje, segundo ele, existem 187 opções de vistos, desde o de turista, para quem quer passear e voltar, até outras opções para quem deseja residir permanentemente no país.
O visto mais comum, segundo, Newton, é o de turismo, que pode ser tirado no Brasil e custa uma média de R$ 700 por pessoa, mais uma taxa de US$ 180 (equivalente hoje a pouco mais de R$ 1.000). Outro visto procurado é o de estudante, que custa mais. A consultoria para aprovação do aluno em uma universidade e mais o visto de estudante ficam por US$ 1.800, ou seja, mais de R$ 10.000. Fora isso, há ainda as taxas, que giram em torno de US$ 300 a US$ 350, ou de R$ 1.700 a R$ 2.000, em média. Por fim, outros tipos de visto que dão direito à residência permanente, como o green card, variam de US$ 15 mil a US$ 30 mil, o que equivale a R$ 87 mil a R$ 174 mil.
Brasileiros que vivem no exterior
Ano | Número | Variação
- 2010: 3.122.813 (-2%)
- 2012: 1.898.762 (-39%)
- 2013: 2.801.249 (+48%)
- 2014: 3.105.922 (+11%)
- 2015: 2.722.316 (-12%)
- 2016: 3.083.255 (+13%)
- 2018: 3.590.022 (+16%)
- 2020: 4.215.800 (+17%)
- 2021: 4.404.255 (+4%)
- 2022: 4.598.735 (+4%)
- 2023: 4.996.951 (+9%)
Região | Número | Participação no total (em 2023)
- América do Norte: 2.261.284 (45,3%)
- América do Sul: 663.926 (13,3%)
- Ásia: 227.257 (4,5%)
- Europa: 1.677.241 (33,6%)
- Oriente Médio: 63.685 (1,3%)
- Oceania: 56.692 (1,1%)
- África: 37.918 (0,8%)
- América Central e Caribe: 8.948 (0,2%)
Maiores comunidades brasileiras por país/território (em 2023)
- Estados Unidos: 2.085.000 (41,72%)
- Portugal: 513.000 (10,26%)
- Paraguai: 263.200 (5,26%)
- Reino Unido: 230.000 (4,6%)
- Japão: 210.471 (4,21%)
- Alemanha: 170.400 (3,41%)
- Espanha: 161.944 (3,24%)
- Itália: 159.000 (3,18%)
- Canadá: 143.500 (2,87%)
- Argentina: 101.502 (2,03%)
Fonte: Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty)