Correios têm prejuízo recorde e atingem déficit de R$ 2 bilhões, o maior da história no período
Em outubro, por causa da deterioração das contas, os Correios decretaram um teto de gastos para o ano, de R$ 21,96 bilhões
Um prejuízo de R$ 2 bilhões foi registrado nos Correios entre janeiro e setembro, o maior da história da estatal no período, segundo apuração do Poder360. Caso o ritmo se mantenha, a entidade deve superar o déficit de 2015, de R$ 2,1 bilhões, registrados quando Dilma Rousseff (PT) era a presidente do país.
O advogado Fabiano Silva dos Santos, 47 anos, atual presidente da estatal, foi indicado ao cargo pelo Prerrogativas, grupo de advogados simpáticos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que atuou e segue atuando fortemente contra as acusações de processos da Lava Jato.
Em outubro, por causa da deterioração das contas, os Correios decretaram um teto de gastos para o ano, de R$ 21,96 bilhões. A definição foi informada aos gestores em 11 de outubro e o documento foi colocado sob sigilo. Segundo o texto, a estatal tem 84.700 funcionários e foram determinadas outras três ações para reduzir o rombo nas contas:
- Suspender contratações de pessoal terceirizado por 120 dias
- Cortar preço de contratos, renegociando e reduzindo, no mínimo, 10% dos valores dos acordos que estão em vigor
- Encerrar contratos
Em relação às receitas, os Correios esperavam ganhos de R$ 22,7 bilhões em 2024, mas, agora, revisaram o valor para R$ 20,1 bilhões. Mesmo que o teto de gastos funcione plenamente, ainda haverá um prejuízo de ao menos R$ 1,7 bilhão.
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A estatal justifica as medidas afirmando que é preciso evitar o risco de "insolvência". Ou seja, há o risco de a empresa quebrar e precisar ser resgatada pelo Tesouro. "Tais medidas visam, fundamentalmente, recompor o saldo do orçamentário/caixa para retomada do equilíbrio econômico-financeiro e evitar que a empresa entre em estado de insolvência", diz trecho do documento.
Desde a chegada de Fabiano no comando da estatal, porém, as contas dos Correios pioraram, e uma série de decisões tomadas pelo presidente impactou o orçamento da empresa de maneira significativa.
Por exemplo, a empresa desistiu de recorrer em uma ação trabalhista com valor de R$ 600 milhões no ano passado e, em manobra contábil, jogou o prejuízo para 2022 - o Tribunal de Contas da União (TCU) investiga o caso. Outra ação trabalhista de cerca de R$ 400 milhões, em fase mais avançada, também foi deixada de lado pela estatal, que preferiu pagar o valor demandado.
Neste ano, os Correios também assumiram uma dívida do plano de aposentadoria de seus funcionários. A empresa se comprometeu a transferir R$ 7,6 bilhões ao Postalis, o fundo de pensão dos empregados da estatal, cifra que vai cobrir metade do déficit do plano previdenciário, que já não aceita novos participantes desde 2008.
Ao Poder360, a estatal alegou frustração de receitas, citando dois motivos principais. O primeiro é a herança contábil da gestão anterior - a empresa atribui a atual situação financeira ao comando anterior, de 2019 a 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Porém, na empresa teve lucro em três dos quatro anos do governo anterior.
Em segundo lugar, a "taxa das blusinhas". A política do ministro Fernando Haddad (Fazenda) foi responsabilizada pela queda nas importações. Com isso, os Correios tiveram menos encomendas para despachar para endereços no Brasil e a receita, por consequência, caiu.
“A receita projetada para 2024 foi reduzida de R$ 22,7 bilhões para R$ 20,1 bilhões, o que representa um crescimento de 1,5% em relação a 2023. As medidas administrativas adotadas reduziram a projeção de despesa de R$ 22,5 bilhões para R$ 21,9 bilhões, representando uma redução de 1,8% (R$ 600 milhões) em relação a 2023”, disseram os Correios.