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‘Comprar menos para viver melhor’: saiba o que é o 'núcleo do subconsumo'

Também conhecido como ‘minimalismo digital’, esse movimento propõe um estilo de vida voltado à redução do consumo excessivo, em busca de mais bem-estar e equilíbrio financeiro.

Gabi Gutierrez

Uma nova tendência tem ganhado força entre jovens usuários do TikTok: o núcleo do subconsumo. Também conhecido como ‘minimalismo digital’, esse movimento propõe um estilo de vida voltado à redução do consumo excessivo, em busca de mais bem-estar e equilíbrio financeiro. O núcleo de subconsumo, acessível por meio de conteúdos que viralizam na plataforma, defende que consumir menos pode trazer uma vida mais plena, com foco em experiências ao invés de bens materiais. Para muitos, essa não é apenas uma moda passageira, mas uma necessidade que surgiu em resposta ao cenário de crise econômica que afeta milhões de brasileiros, especialmente os mais jovens.

Endividamento precoce

De acordo com o último levantamento da Serasa, divulgado em junho de 2024, o Brasil possui 72,5 milhões de inadimplentes, sendo que 11,9% têm até 25 anos. No Pará, a situação é ainda mais alarmante, com 2,5 milhões de inadimplentes, dos quais 14,6% são jovens dessa mesma faixa etária. Esse contexto coloca em evidência um dos principais públicos do TikTok, jovens entre 13 e 25 anos, que têm utilizado a plataforma não apenas para entretenimento, mas também para compartilhar práticas de consumo mais consciente.

Redes sociais e hábitos de consumo

No entanto, manter esse estilo de vida em um mundo digital, onde o incentivo ao consumo é constante, pode ser um grande desafio. As redes sociais estão repletas de anúncios e influenciadores que promovem produtos, criando uma sensação de FOMO (fear of missing out, ou medo de ficar de fora). "O principal desafio é a pressão constante do consumismo", alerta Muller. "As redes sociais estão cheias de anúncios, influenciadores e pessoas mostrando suas ‘vidas perfeitas’, o que cria uma sensação de que você precisa comprar para se encaixar", completa.

Essa pressão, combinada com a facilidade de compras online e as frequentes promoções, exige um alto nível de autocontrole. "Manter a disciplina nesse ambiente, com e-commerce a um clique e promoções o tempo todo, é difícil. O autocontrole tem que ser constante, porque o mundo digital praticamente te empurra para consumir", finaliza a especialista.

Minimalismo como resposta à crise econômica

Segundo Norimar Muller, especialista em comportamento nas redes sociais, a popularidade do subconsumo não é um fenômeno isolado. "Essa tendência é muito mais uma resposta ao endividamento e à pressão financeira que as pessoas estão sentindo", explica. Para Muller, os altos custos de moradia, dívidas estudantis e a incerteza econômica são fatores que têm levado muitos jovens a repensarem seus hábitos de consumo. "O minimalismo acaba sendo uma maneira prática de lidar com isso. Não é só uma moda, é uma necessidade para muitos", destaca.

A pandemia de Covid-19 também teve um papel relevante nesse cenário, segundo a especialista. Durante o período de isolamento social, muitas pessoas começaram a refletir sobre suas prioridades, o que resultou em uma mudança de foco: ao invés de acumularem bens materiais, passaram a valorizar mais as experiências e o bem-estar emocional. "Esse movimento foi intensificado pela pandemia. Muita gente começou a repensar suas prioridades, focando mais em experiências e menos em consumo. Então, sim, é uma reação ao momento econômico e uma forma de recuperar o controle financeiro", acrescenta Muller.

As motivações que levam as pessoas a adotarem o subconsumo, segundo Muller, são variadas. Ela destaca quatro principais: saúde financeira, sustentabilidade, bem-estar emocional e autonomia. "Muitas pessoas querem sair das dívidas ou simplesmente evitar cair nelas, e o minimalismo oferece uma solução prática para isso. Além disso, há uma maior conscientização sobre o impacto ambiental do consumo excessivo, e viver com menos significa também reduzir o desperdício", afirma. Para Muller, o minimalismo não só alivia a pressão financeira, como também reduz a ansiedade associada ao consumo e oferece maior controle sobre a própria vida. "As pessoas se sentem mais no controle da própria vida e do próprio futuro", diz a especialista.

Criando uma relação mais saudável com o dinheiro

O subconsumo também contribui para uma relação mais saudável com o dinheiro, segundo Muller. "Esse estilo de vida muda a forma como você vê o dinheiro. Ao deixar de comprar por impulso, você começa a valorizar mais o que já tem", destaca. A especialista explica que, ao adotar o subconsumo, as pessoas passam a priorizar o que é realmente necessário, criando hábitos financeiros mais saudáveis, como poupar e investir. "É um caminho para uma mentalidade de longo prazo, pensando no uso do dinheiro de forma mais sustentável e responsável. Isso, no final, te dá mais estabilidade financeira", afirma.

 

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