Comércio em Belém adota novas estratégias para atrair dinheiro físico aos caixas
Apelo é por notas com valores menores a fim de facilitar o troco
O pagamento por Pix, modalidade desenvolvida pelo Banco Central (BC), acelerou as transações comerciais no país, mas intensificou a falta de dinheiro físico em circulação, implicando na dificuldade de passar troco. Em Belém, o varejo é diretamente impactado e, para driblar esta necessidade, tem adotado estratégias de apelo aos consumidores por mais notas em espécie. É o caso de uma hamburgueria recém-inaugurada na cidade, que recorreu a uma promoção de hambúrguer por R$ 2 para abastecer o caixa com as notas, que, segundo o proprietário, são mais difíceis de se conseguir.
O empresário Neto Fonseca, à frente do estabelecimento, explica que a ideia era atrair notas de valores menores, no caso, a de R$ 2, porque facilitam na hora de passar o troco aos clientes. Pelas regras da promoção, os consumidores só poderiam fazer o pagamento utilizando a nota, o que garantiu o sucesso da iniciativa. A proposta, segundo ele, também era chamar atenção do público, já que a unidade é nova, mas que esse problema também é uma realidade no seu outro estabelecimento.
“A gente tinha que ter dinheiro em caixa, temos outra unidade, e a gente sente um pouco de dificuldade em ter valores de cédulas como a nota de R$ 2, moeda de R$ 1, nota de R$ 5. A gente sente um pouco de dificuldade até de achar essas notas nos bancos e, nos bancos, fazer essa troca é um pouco complicado, porque você tem que enfrentar fila. Então, acaba ficando complicado para a gente que tem um tempo corrido”, explica o empresário.
Apesar da agilidade que as transferências via Pix podem oferecer, Neto ainda prefere quando as transações conseguem ser feitas em dinheiro físico, desde que haja troco disponível. Ele explica que é mais prático pegar o troco e devolver logo, do que esperar os processos técnicos do Pix, como acessar o aplicativo e reconhecer as chaves.
“O Pix é prático, mas na hora de uma correria, de um movimento grande, ele acaba ficando demorado, porque não é de imediato, você tem que entrar na conta, tem que pegar a conta da pessoa, ver se é número, celular, CPF ou e-mail, aí digita e isso pode demorar. Então, se você tem a nota ali na mão, é muito melhor, muito mais rápido e prático”, observa Fonseca.
Dados do BC apontam que na análise de 5 anos atrás, em 2019, até o mês de novembro, as notas de R$ 2 em circulação representavam 1.349.791.066, uma diferença média de 17% em relação ao mesmo período deste ano, com cerca de 1.586.886.667 notas circulando. Entre as suas atribuições, a instituição deve garantir que a população tenha dinheiro em espécie. Para isso, oferece pontos de fornecimento de troco. No caso de Belém, o guichê fica localizado na avenida Presidente Vargas, 248, bairro da Campina.
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Pix não é o X da questão
Embora o pagamento via Pix seja aparentemente o principal vilão nesse processo, o economista paraense Rafael Boulhosa discorda da afirmativa. Para ele, a segurança dos consumidores é o ponto principal a ser considerado, ou melhor, a insegurança da população. Na sua análise, também não se descarta a agilidade que a nova transação apresentou aos consumidores.
“Tem a questão da facilidade? Tem, mas tem a questão da segurança também; é muito mais seguro para as pessoas andarem sem ter esse papel moeda na carteira do que andando com o dinheiro no bolso, e a gente sabe que a insegurança está muito grande”, afirma.
O especialista menciona também o impulso das novas contas digitais sobre a transação via Pix por não cobrarem taxas de manutenção, por exemplo. Nesse cenário, outra vantagem é a quitação de valores exatos, ou seja, pagar, receber ou passar troco até nas mínimas frações. Antes, como lembra o economista, acontecia de vendedores não possuírem troco para valores não inteiros.
“Antigamente, eu ia comprar um negócio de R$ 30,44, andava com aquele monte de moedinhas e muitas vezes o cara não tinha troco, tentava te empurrar uma balinha. Hoje em dia não, são R$ 30,44, você bota o valor exato lá no Pix, manda para a pessoa e está tudo resolvido”, explica.