Com imposto zerado, azeite pode ficar até 7,75% mais barato nos supermercados paraenses, diz Aspas
Presidente da Associação Paraense de Supermercados estima, porém, um prazo de 30 a 40 dias para que a queda nos preços seja percebida
Presidente da Associação Paraense de Supermercados estima, porém, um prazo de 30 a 40 dias para que a queda nos preços seja percebida
A alta no preço do azeite fez com que o produto, considerado essencial para muitas famílias e restaurantes, se tornasse um item cada vez mais inacessível nos supermercados brasileiros. Para tentar conter a inflação dos alimentos, o governo federal anunciou, na última quinta-feira (6), a isenção da tarifa de importação do azeite, que hoje é de 9%. No entanto, o impacto da medida nos preços pode demorar a ser percebido pelos consumidores paraenses, segundo a Associação Paraense de Supermercados (Aspas).
“O azeite que é vendido no Brasil é importado, não existe produção nacional. Então, se zerar a tarifa de impostos da importação, com certeza haverá redução no preço final. Isso aí é indubitável, porque a composição do preço final não é somente o custo da mercadoria em si, mas também o custo do transporte e os impostos”, explica Jorge Portugal, presidente da Aspas.
Segundo ele, o imposto é apenas um dos fatores que compõem o valor do azeite no supermercado. Por isso, mesmo com a isenção da tarifa de importação, a redução no preço final não será equivalente aos 9% da alíquota zerada.
“Vai automaticamente ter uma redução no preço, mas não será uma redução de 9%. O imposto é um dos componentes do preço final”, reforça Portugal.
A expectativa da associação é que a queda real fique em torno de 7,75%.
Além disso, o impacto da medida não será imediato. Como o azeite precisa ser importado e distribuído para os supermercados, há um tempo necessário para que os estoques se renovem com os produtos comprados sem a tarifa. “Acredito que isso demande em torno de 30 a 40 dias até chegar nas contas do supermercado”, projeta o presidente da Aspas.
O mercado também enfrenta outro desafio que pode influenciar os preços: a baixa produção na Europa devido a questões climáticas, que motivou o aumento do azeite do mundo. “Quando há redução na oferta, o preço aumenta. É aquela lei da oferta e procura. Então, independentemente da redução do imposto, se houver um problema de produção que afete a quantidade disponível, o preço pode continuar alto”, explica Portugal.
Nos supermercados, o aumento no preço do azeite já resultou em mudanças no comportamento dos consumidores. “Com certeza, todo produto que tem uma alta reduz a procura. Buscam-se alternativas para suprir a necessidade, mas, no caso específico do azeite, não há um substituto direto. Mesmo assim, houve redução no consumo”, afirma.
Nos restaurantes, a alta mundial do azeite foi um desafio ao longo do último ano. Ana Paula Mendes, 45, proprietária de um restaurante no bairro da Cidade Velha, em Belém, conta que já chegou a pagar R$ 80 em um vidro de azeite e manteve o uso do produto mesmo diante da alta, mas sem repassar o aumento para os clientes. “A gente continuou fazendo a utilização do azeite, mesmo que esse aumento tenha impactado de uma certa forma nos nossos custos. Mas nós optamos por não repassar esse valor para o nosso cliente”, explica.
O azeite tem diversas funções na cozinha do restaurante. “Ele serve para finalização de pratos, para fazermos os nossos molhos, e na composição dos nossos caldos. A gente usa bastante o azeite para dar aquele sabor ao toque final”, detalha.
A possibilidade de redução no preço, mesmo que pequena, é vista como positiva.
“Qualquer diminuição para o setor de gastronomia, restaurantes e bares, é muito significativa para a gente. Já alivia mais o custo”, comenta Ana Paula.
No entanto, a empresária acredita que o impacto maior só será sentido no segundo semestre. “Além dessa questão da alíquota, dessa redução que veio para ajudar, outro fator também vai ajudar a gente, mas eu acredito que mais para o segundo semestre: a questão de ter melhorado as plantações na Europa. Quando a gente começar a sentir, vai ser bem melhor para todo mundo, tanto para o consumidor final, quanto para bares e restaurantes também”, avalia.
Para o economista Nélio Bordalo, conselheiro do Conselho Regional de Economia do Pará e Amapá (Corecon-PA/AP), a estimativa de redução de 7,75% faz sentido dentro da composição de custos. “O impacto de uma redução na tarifa de importação no preço final depende de como os custos são distribuídos ao longo da cadeia de comercialização. No caso do azeite, uma parte do preço final pode ser composta por outros custos que não estão diretamente relacionados à tarifa de importação, como transporte, armazenagem, margens de lucro dos intermediários e outros custos operacionais”, explica.
Bordalo destaca que o frete pode representar entre 10% e 15% do custo final, especialmente para produtos que chegam a Belém via transporte rodoviário de outros estados. Isso significa que a isenção da tarifa de importação é apenas um dos fatores que influenciam o preço do azeite.
Outro desafio que pode manter os preços elevados é o impacto das safras internacionais. “A produção de azeite na região Mediterrânea, especialmente na Espanha e Itália, é muito sensível ao clima. Se a produção for reduzida devido a condições climáticas adversas, como a seca, isso pode pressionar os preços para cima, neutralizando o impacto positivo da redução de tarifas de importação no longo prazo”, pontua o economista.
Mesmo que o preço caia, o hábito de consumo pode ter mudado. “Parte dos consumidores pode ter substituído o azeite por outros óleos vegetais ou encontrado alternativas mais baratas, o que pode dificultar uma recuperação imediata da demanda”, afirma.
Bordalo acredita que o Brasil poderia reduzir sua dependência das importações, mas isso exigiria investimentos. “Existem iniciativas em algumas regiões, como o Vale do São Francisco, que têm investido no cultivo de oliveiras e na produção de azeite, mas ainda é uma produção limitada em comparação com as grandes potências produtoras, como a Espanha, Itália e Grécia. No entanto, a produção nacional de azeite pode crescer com o tempo, caso haja incentivos governamentais, apoio a pequenos produtores através de financiamentos a juros compatíveis e aumento da demanda interna”, sugere.