Cheia do Rio Tapajós influi no cenário de Alter do Chão; trabalhadores apontam queda no movimento
O atendente de um restaurante relatou que em virtude da cheia o estabelecimento diminuiu os dias de funcionamento
O atendente de um restaurante relatou que em virtude da cheia o estabelecimento diminuiu os dias de funcionamento
A cheia do Rio Tapajós que banha Alter do Chão, considerada pelo mercado turístico um dos melhores destinos do Brasil, localizada a cerca de 37 km da zona urbana de Santarém, transformou a paisagem existente na frente da vila balneária conhecida por praias de areias brancas. A imensidão de faixas de areias que trazem à tona a famosa Ilha do Amor e as extensões de pontas de outras praias, está tomada pelas águas do rio que alagaram a frente da vila, dificultando o acesso dos turistas. Segundo trabalhadores do ramo do turismo, o movimento dos visitantes caiu cerca de 70% com a chegada do inverno rigoroso.
De acordo com profissionais que atuam em Alter do Chão, existe uma dificuldade de manter a renda familiar mensal, pois a procura dos turistas está baixa.
A empresária Fátima Viana é proprietária de um restaurante, que fica localizado na praça principal da vila, conta que o movimento já tinha caído depois que houve a divulgação na imprensa sobre a mudança na coloração da água do Rio Tapajós em Alter, no final do ano passado. Ela ressaltou ainda sobre a falta de divulgação do poder público sobre o turismo local, bem como a falta de estratégia para o período de cheia. “Final de janeiro já sentimos a queda no movimento. Precisamos que a prefeitura e governo do estado faça um trabalho melhor de divulgação de Alter. O secretário de turismo nós nunca nem vimos em Alter”, enfatizou.
Ela conta ainda que o movimento no estabelecimento que possui caiu em torno de 70% e que só tem conseguido arrecadar uma parte da quantia para cobrir os custos de funcionamento. “Eu fazia 150 mil no mês em baixa temporada, neste mesmo período nos anos anteriores, hoje estou fazendo nesta mesma época entre R$50 mil a R$65 mil, sendo que meu custo fixo é 70 mil por mês. Eu trabalho sempre bastante no verão para guardar pro inverno, pois eu mantenho 16 pessoas contratadas. Mas agora com essa cheia piorou ainda mais”, contou.
O guia turístico Sérgio Renan acredita que o nível do rio já está comparado a cheia histórica de 2009. “O povo vem pela praia que é na época de julho a dezembro, nessa época a praia some e o pessoal também. O movimento diminui em 70%, se comparado com o período do verão”, disse.
Ederson dos Santos, que também é guia turístico, relata sobre os prejuízos e ainda sobre a necessidade de inovar na oferta de serviços. “Nesse tempo a gente procura outra opção de passeio para os turistas, como o passeio pela flona submersa. Oferecemos também o passeio no canal do Jarí, para ver mais natureza, a Vitória Régia. Esse tipo de passeio que está salvando o mínimo para nossa renda”, disse.
Já para Thiago Reis, que é atendente de um restaurante, localizado bem em frente a orla de Alter do Chão, o movimento baixou tanto ao ponto de ser necessário mudar os dias e horários de funcionamento do lugar.
“Tem dia que não dá quase ninguém e tem dia que só vem uma ou duas pessoas. A única alternativa é só esperar a orla secar. O normal do funcionamento é de segunda a domingo, mas com essa cheia, estamos funcionando apenas sexta, sábado e domingo e também estamos fechando mais cedo. Isso sem falar na dificuldade de acesso pela orla por conta da quantidade de água”, relatou.
A dona de um restaurante que também fica na orla em frente à “Praia Ilha do Amor” informou que nessa época de cheia não há lucros para o estabelecimento. “Os lucros não têm, porque tenho que pagar para trabalhar. O movimento diminuiu muito por conta da cheia do rio”, contou, Débora Diniz de Magalhães.
Já para Cleiton Comoretto Barcelos, dono de uma pousada, a procura por hospedagem diminuiu 80%. Mas ele se mantém otimista. “Ano passado estávamos fechados por conta da pandemia, então foi pior que esse ano, apesar da baixa procura”, disse.
As malocas onde funcionam os restaurantes da Ilha do Amor viraram um imenso ‘tapete’, formado pelos topos das malocas que estão totalmente submersas, formando um espetáculo à parte visto de cima.
A empresária Suzete Lobato, que é dona de uma barraca nesta praia, conta que no local funcionam 18 barracas, mas que com a subida do rio, elas são mudadas para a área do bosque, onde conseguem funcionar por um período maior, construindo assoalhos com um metro acima do nível do rio.
Ainda segundo a dona Suzete, das 18 barracas da Ilha, nove fizeram a mudança. Dessas, apenas cinco continuam funcionando.
Suzete conta que ela teve que fechar a barraca no final de janeiro por conta da cheia, e essa decisão afetou também os cinco funcionários que ela mantém na barraca.“Trabalho há 37 anos lá e sempre foi assim, agora é esperar a água baixar e reconstruir tudo outra vez”, falou.
Ela reclama que os donos de barraca que precisaram parar de trabalhar não recebem auxílio. “O jeito é se virar para colocar a barraca em funcionamento e dependendo da enchente tem que trocar a palha, e já estamos com dificuldade de comprar nossas coisas e o custo não é baixo”, relatou.
O boletim da Defesa Civil do município de Santarém, oeste do Pará, apontou que o nível do Rio Tapajós está 92 centímetros acima da cota de alerta, que é de 7,10 metros. Marcando 8,02 metros, nesta terça-feira (3).
Historicamente a maior cheia do Rio Tapajós ocorreu em 2009, quando alcançou a marca de 8,31m, no final do mês de maio.