Camarão fica até 27% mais caro neste início de ano e número deve subir nos próximos meses
Período de reprodução do crustáceo contribui para esse cenário, explica vendedor
O camarão começou o ano com preços mais elevados em Belém, o que, segundo os vendedores, se justifica pela escassez do produto, que está em época de reprodução. A maior parte do abastecimento do mercado local vem de criadouros no Nordeste. Essa modalidade de produção não segue regras de proteção como o período de defeso, mas ainda há a necessidade de esperar o ciclo de crescimento do crustáceo. O vendedor Ivanildo Santos explica que, com a produção reduzida, o mesmo camarão que ele comprava por R$ 30, em junho do ano passado, quando a produção alcança o seu ápice, agora adquire por R$ 38, uma alta de 27%.
Segundo ele, a espera por preços menores seguirá até perto do mês de abril, quando as cargas voltam a trazer o produto com mais fartura. Após as festas de fim de ano, último período de maior procura dos consumidores, a expectativa é de que os preços sigam aumentando até que os criadores consigam recuperar um contingente maior. Ele ainda ressalta que o valor do produto final é ajustado para ser possível manter uma margem de lucro saudável e conseguir repor a mercadoria.
“Quando chega esse período, a venda cai e o produto fica um pouco escasso, houve uma procura muito grande e aí acaba. A gente tem que esperar, tem que criar de novo e é todo um processo a ser feito porque a gente compra por grama, então um camarão muito pequeno não vai servir para a gente”, explica Santos.
Os vendedores compram o produto em toneladas, que, durante esse período mais escasso, costumam subir em média R$ 5, ou seja, um acréscimo de R$ 5 mil sobre o preço de um período com muita oferta do produto. Esse período ocorre em junho, quando ele destaca que, devido a grande oferta do produto o preço para os consumidores também tende a diminuir. A sua previsão para os próximos meses é de que o valor continue nos criadores continue subindo nos próximos meses, podendo, segundo ele, ultrapassar os R$ 40. Esse acréscimo é repassado no preço do produto final aos clientes, que, atualmente varia de R$ 43 a R$ 75 na capital paraense.
Processos
O camarão só pode ser recolhido para comercialização após atingir tamanhos e pesos específicos, o que influencia no seu preço final, sendo os maiores também mais caros, e na sua utilização, já que cada um atende a necessidades específicas, por exemplo, em pratos regionais. O menor a ser comercializado é o de dez gramas, mas eles podem ultrapassar as vinte e oito gramas.
Além do tamanho, outro processo descrito pelo vendedor é o cozimento, essencial para o camarão que será vendido salgado. Isso, somado aos gastos com a alimentação dos crustáceos nos criadouros, a manutenção desses espaços e o custo de transporte até Belém, tornam o preço ainda maior.
Competição
Com a falta de produto em larga escala, a competição com os consumidores do sul do país dificulta um pouco mais a aquisição dos vendedores locais. Eles explicam que nessa época do ano, quando o sul vive o período do verão, clientes de hotéis e restaurantes elevam a demanda da região pelo produto. Esse movimento faz com que os concorrentes sulistas, que também lidam com a mesma espera pela reprodução, busquem o mercado de criadores do nordeste, o que não costuma ser comum, segundo o vendedor. A dinâmica estabelece uma competição que ele julga desleal, já que entre esses concorrentes estão nomes de peso, como grandes redes de supermercado e hotelaria.
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Consumo
A proprietária de uma pousada e aposentada no município de Mocajuba, nordeste paraense, Anézia Brito, explica que sente os efeitos do período. Ela usa o camarão principalmente no preparo das refeições no seu estabelecimento e para a sua família. “Eu já venho preparada, sei que ficam uns três ou quatro meses assim, mas a gente precisa comprar de qualquer jeito, às vezes aumento um pouco o preço das refeições”, afirma.