Bets podem tirar 3,7% do PIB do Pará em um ano, aponta CNC
Em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, Felipe Tavares, economista-chefe da CNC, comentou sobre o futuro da economia nacional com os impactos das bets na economia brasileira
O estado do Pará enfrenta uma projeção alarmante de perda de 3,7% no Produto Interno Bruto (PIB) ao longo de 2025, segundo análise da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Essa redução pode custar à economia estadual cerca de R$ 225 milhões em arrecadação de impostos, como aponta o estudo da confederação. O impacto é atribuído ao crescimento descontrolado das apostas online, que desviam recursos significativos do consumo em setores produtivos, como o comércio varejista. Em entrevista exclusiva ao Grupo Liberal, Felipe Tavares, economista-chefe da CNC, comentou sobre o futuro da economia nacional com os impactos das bets.
O levantamento feito pela CNC aponta que as famílias brasileiras destinaram R$ 240 bilhões às apostas online em 2024, conforme dados do Banco Central. Isso gerou uma queda de aproximadamente R$ 103 bilhões no faturamento do varejo nacional, um setor já pressionado por altos custos tributários e baixa competitividade. No Pará, o impacto também é expressivo.
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A pesquisa "O Panorama das Bets" revela que, na economia paraense, a perda de faturamento pode variar entre R$ 500 milhões e R$ 6 bilhões, dependendo do cenário de apostas. No cenário mais conservador, o impacto no PIB do Pará pode chegar a R$ 303,65 milhões, enquanto no cenário mais otimista, essa perda pode alcançar R$ 3,77 bilhões. Além disso, a redução na arrecadação de impostos no estado está projetada para ser entre R$ 24,42 milhões e R$ 225,83 milhões, destacando a grande magnitude dos efeitos das apostas na economia local.
O economista ressaltou que o marketing agressivo das plataformas de apostas contribuiu para esse cenário. "Essas plataformas foram promovidas como algo inofensivo e, muitas vezes, como uma forma de investimento, levando muitas pessoas a comprometerem uma parcela significativa de sua renda", afirmou. Influenciadores digitais também desempenharam um papel prejudicial, incentivando pessoas de menor renda a aderirem às apostas de alto risco.
Inadimplência
Um dos reflexos mais preocupantes é o aumento da inadimplência das famílias. Aproximadamente 1,8 milhão de brasileiros ficaram inadimplentes em 2024 devido às apostas online. Segundo o levantamento da CNC, o percentual de famílias de baixa renda inadimplentes cresceu de 26% em janeiro para 29% em dezembro do mesmo ano. O impacto é particularmente severo em estados como o Pará, onde a população vulnerável está mais exposta.
“Esse aumento da inadimplência ocorre porque as famílias estão comprometendo uma parte tão grande de sua renda que não conseguem cumprir suas obrigações financeiras”, explicou Tavares. Ele também destacou que, apesar da diminuição no endividamento, a inadimplência aumentou, um cenário que reflete a deterioração das condições financeiras das famílias brasileiras.
Descontrole
A falta de regulamentação das apostas online é apontada como um fator central para o descontrole. A Lei 13.756/2018, que legalizou as apostas esportivas, deixou lacunas que permitiram a proliferação de plataformas de jogos de azar sem supervisão adequada. Essas plataformas também facilitaram atividades ilícitas, como lavagem de dinheiro, enquanto desviavam recursos que poderiam ter sido destinados a setores produtivos da economia.
Tavares enfatizou a necessidade de proibição dos cassinos online e a promoção de alternativas mais seguras, como os cassinos físicos, que podem ser mais facilmente regulamentados. “Nos Estados Unidos, por exemplo, a regulação do setor é robusta, com mecanismos para evitar crimes financeiros e proteger jogadores compulsivos”, afirmou.
Varejo
O impacto das apostas online não se limita ao endividamento e inadimplência. O comércio varejista é um dos setores mais prejudicados. Segundo o estudo da CNC, as apostas online já retiraram mais de R$ 103 bilhões do faturamento potencial do varejo em 2024. Esse valor representa uma fração significativa do consumo das famílias, especialmente em itens essenciais.
O economista destacou que o setor varejista precisará se adaptar para competir com os novos hábitos de consumo, mas isso será um desafio enquanto o mercado de apostas não for mais bem regulamentado. Tavares também alertou que, se as famílias mantiverem os níveis atuais de apostas, o impacto econômico pode se aprofundar, especialmente em estados como o Pará, que já enfrenta desafios estruturais.
Soluções
A regulamentação das apostas online é vista como essencial para mitigar os impactos negativos. O estudo da CNC sugere a implementação de limites de apostas, programas de prevenção e tratamento para jogadores compulsivos, e campanhas de conscientização sobre os riscos associados ao jogo. Também é recomendada a criação de um marco regulatório robusto que permita a tributação e fiscalização do setor, gerando recursos que possam ser destinados a áreas prioritárias, como saúde e educação.
“Sem regulamentação, o mercado de apostas continuará a prejudicar a economia e as famílias brasileiras. Precisamos de medidas que promovam um ambiente mais justo e seguro, tanto para consumidores quanto para o mercado”, concluiu Tavares.