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Bandeira verde na energia elétrica não anima paraenses

Consumidores do estado buscam economizar, mas acumulam contas atrasadas

Eduardo Laviano

Feito na última quarta-feira (6) pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), o anúncio da bandeira tarifária verde para a conta de energia elétrica no Brasil a partir de abril não empolgou os consumidores paraenses.

Desempregada, Alane Siqueira conta que está vivendo para pagar luz e água. Mãe solo de duas filhas, ela vive de bicos e conta que entre pagar a energia elétrica e colocar comida na mesa, ela prefere a segunda opção.

"A cesta básica daqui já é caríssima e com um salário mínimo você não sobrevive. E para quem não tem emprego como eu e sustenta uma casa? É muito difícil. Ou tu come ou tu pagas energia. Ou paga energia ou compra remédio", lamenta ela ao lembrar que a energia elétrica deveria ser mais barata em um estado como o Pará que distribui energia para todo o Brasil. 

Ela conta que possui uma geladeira, uma televisão e três bicos de luz e, mesmo ela trabalhando o dia inteiro e as filhas estudando, a conta de energia vem R$230. A sogra dela mora sozinha com o neto e costuma pagar R$100.

"Uma hora dessas tem só três cachorras lá em casa que não usam energia. E a geladeira que fica na tomada porque não pode tirar", brinca, ao pontuar que já perdeu o constrangimento em deixar de pagar as contas e deixá-las na gaveta para que esperem um dinheiro sobrar.

"Uma hora eu pago. Não vou tirar da boca da minha família. Vão cortar? Põe gato. Muita gente entra em desespero e faz gato. Esse anúncio do Governo Federal eu não acredito. Pura ilusão", diz ela, ao reclamar que o governo pouco explica sobre os aumentos e descontos na energia. 

Maria Fonteles é vendedora e conta que se sente pagando um aluguel para a Equatorial. Segundo ela, os aumentos recentes foram bem grandes, especialmente porque ela é a única das quatro pessoas da casa onde vive que está empregada atualmente.

"E da minha mãe também veio quase R$500. Se assiste televisão, apaga tudo quanto é luz. Eu acho que [a bandeira verde] não vai ajudar. Não vai ter muita diferença. Por mais que baixe pouquinho a luz, aumentam em outras coisas. Só tapando buraco daqui pra ali para poder disfarçar", avalia. 

Na opinião de Carlindo Lins, presidente do Conselho de Consumidores da Equatorial, o anúncio é positivo, mas chegou atrasado. Segundo ele, a bandeira já deveria estar verde há alguns meses considerando a boa situação dos reservatórios de água, que já superaram a crise hídrica de 2021.

"Por que demorou tanto essa bandeira de escassez de R$14,20? Com a verde não vão mais cobrar nada. É a vantagem que nós temos, estaremos pagando só o consumo propriamente dito. Não tinha mais onde guardar água. todos os reservatórios já estavam cheio de água. Era o suficiente para atender a demanda. Teve termelétrica que saiu a mais de R$2 mil o megawatt. Hoje temos uma boa contribuição de energia eólica, mas a energia solar ainda está aquém", afirma sobre as opções do Brasil para combater as altas tarifas de energia.

No anúncio feito por Bolsonaro, a conta deve ficar 20% mais barata a partir de abril. O sistema de bandeiras tarifárias existe no Brasil desde 2015 e tem como objetivo de inibir o consumo por meio da sinalização sobre a geração mais cara de energia nos momentos de escassez hídrica, com tarifas maiores que geram recursos extras a fim de bancar a compra de energia oriunda de termelétricas.

Segundo a Equatorial Energia, concessionária do serviço no Pará, a empresa promove ações para cadastrar clientes na Tarifa Social que concede desconto de até 65% na conta de energia para pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Atualmente, mais de 796 mil clientes estão cadastrados no programa. Além disso, a empresa diz que realiza substituição de "vilões do consumo" e diminui o valor de fatura mediante ações de reciclagem e coleta seletiva por parte dos clientes

"A Equatorial Energia reforça que realizar ligação clandestina é crime, previsto em Lei, de acordo com o artigo 155 do Código Penal Brasileiro e reitera que pessoas não habilitadas e capacitadas jamais devem realizar qualquer tipo de intervenção na rede elétrica, pois podem gerar diversos prejuízos à sociedade como interrupção no fornecimento e oscilações no nível de tensão, além de causar acidentes graves e até mesmo fatais", pontua.

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