Aumento do etanol na gasolina pode elevar consumo de combustível, alerta especialista
Governo quer elevar percentual de etanol anidro para 30% ainda em 2025, mas medida gera dúvidas sobre impacto nos veículos.

O governo federal pretende aumentar a proporção de etanol anidro na gasolina de 27% para 30% ainda em 2025. O anúncio foi feito pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em entrevista à TV Globo e ao g1. Segundo ele, a medida deve baratear o preço do combustível para os consumidores. No entanto, representantes do setor de combustíveis e especialistas em automóveis levantam questionamentos sobre os impactos econômicos e técnicos da decisão.
O porta-voz do Sindicombustíveis Pará, Pietro Gasparetto, discorda da afirmação de que a elevação da mistura resultará em combustível mais barato. Segundo ele, a gasolina ficará ainda mais suscetível às flutuações do mercado, uma vez que o preço do etanol depende da safra da cana-de-açúcar e da sua cotação no mercado internacional.
"Entre setembro do ano passado e janeiro deste ano, por exemplo, o etanol sofreu elevação de aproximadamente 17%, e isso impactou o preço da gasolina. Com um percentual maior de etanol, essa variação será ainda mais sentida", explica Gasparetto. Ele também destaca que a mudança não reduzirá a dependência brasileira da importação de gasolina.
O representante jurídico do sindicato também aponta desafios para os postos revendedores, que precisarão esclarecer aos consumidores eventuais problemas mecânicos nos veículos decorrentes da nova composição da gasolina. "Veículos flex não terão dificuldades, mas há risco de danos para aqueles movidos apenas a gasolina, especialmente os mais antigos."
Impacto nos veículos
Do ponto de vista mecânico, Valmir Pantoja, técnico automotivo, considera pouco provável que a elevação da mistura cause danos a veículos não flex. "Os carros são projetados para uma certa porcentagem de etanol. Se a octanagem do combustível aumenta, os componentes também tendem a ser desenvolvidos para suportar essa mudança", afirma.
Logo, ela afirma que, com esse ajuste, provavelmente não haverá problemas, pois a durabilidade das peças será compatível com o aumento da octanagem do combustível, tanto para a gasolina quanto para o etanol. No entanto, ele alerta que pode haver um leve aumento no consumo de combustível devido à maior quantidade de etanol na mistura.
Para donos de carros antigos, a recomendação é manter uma revisão preventiva a cada 10 mil quilômetros. "Trocar o filtro de combustível, verificar velas e fazer a limpeza da injeção eletrônica pode evitar problemas", orienta Pantoja.
A medida também levanta questionamentos sobre seus impactos ambientais. Gasparetto argumenta que o aumento da mistura está mais alinhado com interesses do agronegócio do que com a sustentabilidade. "O etanol é visto como um biocombustível limpo, mas sua produção em larga escala pode levar ao desmatamento e ao uso excessivo de água e fertilizantes, conforme apontam estudos", critica.
No ponto de vista da economia
O economista Everson Costa explica que a vantagem do etanol depende da relação de preços entre os combustíveis. “Hoje, o etanol só é vantajoso se custa até 70% do preço da gasolina. Em regiões quentes, como a nossa aqui no Norte, essa relação nem sempre é favorável. Por exemplo, a gasolina que está custando em torno de R$ 7 [litro], enquanto o etanol varia entre R$ 6,50 e R$ 6,70, o que não compensa para o consumidor”, detalha.
Costa também destaca que o aumento do etanol na gasolina pode não gerar uma redução de preços no curto prazo. Segundo ele o etanol é uma commodity, influenciada por fatores como produção de açúcar e condições climáticas. "Se houver baixa produção, o preço pode subir, encarecendo a gasolina em vez de barateá-la. Além disso, o Brasil não tem capacidade suficiente de refino de petróleo, o que nos obriga a importar combustível refinado, tornando os preços ainda mais instáveis”, explica.
Já no aspecto técnico, mecânicos apontam que a maior proporção de etanol pode elevar o consumo, uma vez que o álcool tem uma queima mais rápida do que a gasolina.
Histórico da adição de etanol na gasolina no Brasil
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1993: Introdução do etanol anidro na gasolina com percentual de 22%.
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2003: Redução para 20% devido à baixa produção de cana.
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2007: Aumento para 25%.
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2015: Elevação para 27%.
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2025 (previsto): Novo aumento para 30%.