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Apostas online em partidas de futebol viram febre em Belém

Desde que foram legalizadas, em 2018, muitos amigos perdem e ganham dinheiro em nome da diversão

Eduardo Laviano / O Liberal

Seja na internet, na rua de casa ou na camisa do artilheiro do time do coração, você provavelmente já viu o nome de uma casa de apostas esportivas. Desde que se tornaram legalizadas no Brasil em dezembro de 2018, elas tomaram o País, com mais de 450 empresas do ramo em atividade. Anualmente, elas movimentam 12 bilhões de reais no Brasil e patrocinam 19 dos 20 principais times nacionais de futebol, com estampas vistosas no peito dos atletas que difundem os sites para milhões de seguidores. O mercado brasileiro, ainda embrionário, responde por apenas 4% do faturamento global, que bateu 300 bilhões de reais em 2020, segundo a consultoria H2 Gambling Capital.

Mas há uma diferença entre estar legalizado e estar regulamentado. Quando foram permitidas, as casas de apostas esportivas ganharam um prazo de quatro anos para serem devidamente legisladas, o que faz com que a maioria absoluta das empresas seja sediada no exterior - e claro, não pague impostos no Brasil. O corretor de imóveis Felipe Maia começou a apostar em 2015, por meio da indicação de amigos, uma época da qual ele recorda como "sem propaganda, antes de vermos os anúncios na TV". Ele conta que, na teoria, não gasta nada pela diversão.

"Tenho o que chamamos de banca. Eu depositei um valor inicial e com esse valor inicial fiz as primeiras apostas e acabei rendendo mais dinheiro. Os ganhos não fazem diferença na minha renda mensal, pois eu acabo não sacando. No passado eu já cheguei a sacar valores altos, vários salários mínimos. Hoje em dia eu deixo mais para brincadeira. Virou mais um hobby do que uma fonte de renda, até porque eu não acredito que possa ser uma fonte de renda confiável a longo prazo", avalia.

Gerenciamento de risco

Ele fala que já viu vários amigos perderem toda a "banca" e que desenvolveu estratégias para não perder tanto dinheiro, como nunca apostar todo o valor disponível na banca em um só jogo ou em um só time.

"Se chama gerenciamento de risco. Com um gerenciamento de risco correto você consegue se manter no jogo por muito tempo. E eu nunca tive o impulso de perder tudo e querer fazer mais. Sempre fui muito controlado. Mas já vi, infelizmente, casos que acabaram passando da conta e serviram como lição para eu nunca fazer o mesmo. Hoje em dia os sites determinam limites, proíbem gastar tudo num dia ou estabelecem um máximo de 50 mil reais. É importante apostar só o que você pode perder. Não apostar todo o salário. Se sobrou 500 reais, apostar só 100. Usar os outros 400 para sair, namorar", ele conta.

Variantes

Além disso, ele conta com a ajuda de casas de análise, um ramo de mercado que nasceu da explosão das casas de apostas esportivas. Ele elenca algumas variantes que pesam na hora de definir a aposta: se o time está muito tempo parado, a posição na tabela, se o time está desfalcado, se o jogo é decisivo, dentro ou fora de casa. Mas ele lembra que isso não garante resultado correto, apesar de pesar as probabilidades a favor do apostador. Felipe também acredita que é importante verificar as possibilidades de apostas, pois, além de vitórias e derrotas, dá para apostar o número de gols, qual jogador vai marcar. Até escanteio pode ser apostado.

"Já ganhei em um mês mais de R$ 5 mim, 2017, nunca vou esquecer. Alguns amigos chegaram a ganhar mais de R$ 10 mil num mês. Hoje em dia, ganho pouco e perco pouco. É mais para dar uma pimenta no jogo. Se vou ver um jogo do Flamengo ou da Seleção Brasileira, quero mais um motivo para torcer. É mais por isso. Já me deu uma boa grana, mas me fazia um pouco mal também, me deixava ansioso. Uma das coisas que eu evito hoje em dia é apostar no time do coração. A paixão cega a gente", aconselha ele, que já acompanhou com afinco partidas do campeonato japonês nas quais tinha apostado. Mas, na verdade, é mesmo metade Paysandu, metade Flamengo - e por inteiro apaixonado por futebol.

Estratégia

Os apostadores, claro, acabaram se tornando uma comunidade, que extrapolou as relações online e ganhou espaço na vida real. Eles trocam informações sobre valores de aposta, assistem jogos juntos e dividem lucros e bons momentos juntos em bares de Belém. O estudante Daniel Brasil é amigo de Felipe e conheceu as apostas ao ver a partida entre Alemanha e Suécia na Copa do Mundo de 2018 na casa de um amigo, sim, aquela na qual Toni Kroos chocou um mundo com o gol de falta nos últimos segundos de acréscimo do segundo tempo.

"Na época, a família inteira apostava lá e pedi para me ensinarem. Hoje em dia levo apenas como uma diversão. É possível, sim, fazer uma renda extra, mas isso é algo que demanda muito tempo para estudar e analisar as partidas. E procuro apostar somente nos jogos que já iria assistir mesmo. É importante definir um valor padrão de aposta, que gira em torno de 2% a 3% da sua banca e nunca passar desse valor. E é importante apostar nas ligas e times que você está familiarizado. E se sentir que está viciado, procure ajuda", alerta ele.

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