Alta no preço dos alimentos faz restaurantes de Belém repassarem custos ao consumidor
O dono de um restaurante de Belém disse que, em janeiro, fez um reajuste de cerca de 3% no cardápio e estima nova alta para abril
A inflação dos alimentos tem impactado o segmento de alimentação fora do lar, que registrou 6,29% de alta em 2024, embora o percentual seja menor que a refeição feita em casa, que bateu a marca de 8,23%. O levantamento é do Núcleo de Pesquisas e Estatísticas da Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp).
Os itens que compõem as refeições, como café, carnes, verduras e até temperos, têm deixado a produção mais cara e, consequentemente, elevado os preços ao consumidor. Segundo o representante do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Pará (SHRBS), Fernando Soares, é possível que alguns empresários já estejam repassando os preços aos consumidores.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que, no intervalo de um ano, entre janeiro de 2024 e janeiro de 2025, vários produtos alimentícios ficaram mais caros em Belém, a exemplo do abacate (76,32%), café (49,57%), filé mignon (27,28%), leite (18,99%), açaí (18,17%), alho (17,18%), óleo de soja (17,02%) e azeite (15,59%), entre outros.
“Tem pessoas que adaptam o cardápio a novos ingredientes, mais de acordo com a realidade financeira da empresa. Isso depende muito do que o empresário se predispõe a fazer. Tem as empresas tradicionais que não vão alterar o cardápio, independente do valor dos produtos”, afirmou à reportagem. Outra saída pode ser reduzir porções para manter o preço, aumentando a produtividade. Porém, como cada empresário é livre para precificar, não há uma estimativa em números.
Empresário repassou 3%
Dono de um restaurante com várias unidades em Belém, o empresário Maurício Façanha contou que a alta de preços é generalizada, em sua percepção, desde outubro. “Eu sentia que estava aumentando, mas não tinha feito reajuste nenhum no meu cardápio, só em abril do ano passado. Agora precisei fazer em janeiro uma atualização, mas bem abaixo do índice de preços, e estou programando outro para abril. Estou com medo, não sei se vou conseguir manter. De outubro para cá, os preços vêm galopando”, mencionou.
VEJA MAIS
O espaço de Maurício é focado nas refeições paraenses. Entre os produtos que ficaram mais caros, ele destacou o açaí, que, segundo o empresário, disparou. Na opinião dele, é preciso fazer uma regulação de preços para o mercado. “Está sendo tudo vendido para as grandes empresas, a gente chega nas feiras e é uma disputa por muito pouco”, disse. Além disso, o pescado também encareceu, e Maurício afirmou que o quilo passou de R$ 32 para R$ 42, dependendo da espécie.
Apesar de ter reajustado os preços recentemente, o empresário destacou que ainda não foi o suficiente em relação à alta do mercado. “Não consegui repassar para os clientes todo esse aumento, não dá, é impossível, se não ficamos fora do mercado. O açaí estou praticamente trocando dinheiro para manter o conceito da minha casa. Teve pratos que eu consegui ajustar 4%, mas, em média, ficou em 3% no meu cardápio, na virada de dezembro para janeiro”, contou.
Com preços mais elevados, o mercado está mais retraído, na opinião de Maurício. “A gente sabe que janeiro e fevereiro não são bons, mas fevereiro está extremamente retraído, muito mais. Desses seis anos de história, foram os meses de janeiro e fevereiro mais apertados que eu já vivi”, continuou. Algumas medidas que o empresário adotou recentemente foi a possibilidade de o cliente ter mais liberdade para escolher seus pratos; convites para o dia de aniversário; a abertura de um período noturno para reservas; entre outras soluções que têm ajudado.
Doceira reajustou preços
A empresária Priscilla Sette, do segmento de doces, também afirmou que o impacto é real. "Desde o meio do ano de 2024, os valores dos insumos vêm oscilando bastante. O chocolate, ovos, leite e café são os mais caros ultimamente", ressaltou.
Por conta dessas altas, a empreendedora precisou fazer um reajuste para o cardápio deste ano. "É inevitável. A alta do valor dos ovos chegou a 40%, sem contar com os outros insumos", explicou. O cenário, inclusive, tem impactado nas vendas de janeiro e fevereiro, de acordo com ela, que sente que os clientes estão se contendo mais para não adquirir aquilo que não seja essencial.