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Alta no dólar e mudanças climáticas aumentam preço do açaí; saiba motivo

O preço do fruto mais consumido dos paraenses deve continuar aumentando nos próximos meses em função de diversos fatores que afetam toda a sua cadeia produtiva

Bruno Menezes | Especial para O Liberal
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O açaí, considerado um alimento básico e diário na mesa de muitos paraenses, está mais caro e deve permanecer aumentando, de acordo com a avaliação do supervisor técnico do Dieese/PA, Everson Costa. Diversos fatores estão influenciando no aumento no valor do fruto, que impacta não só o bolso do consumidor, mas também toda a cadeia produtiva de pessoas que dependem da venda do açaí para sobreviver.

O aumento do dólar, que chegou ao novo recorde histórico de R$ 6,0820 na segunda-feira (9), é apontado como um influenciador no preço do açaí comercializado em Belém, uma vez que exportar o fruto para outros países se torna mais lucrativo às empresas que realizam esse tipo de comercialização. Everson afirma que essa relação comercial impacta não apenas o valor final do produto na região metropolitana, mas também, todos os trabalhadores que dependem da venda do açaí para sobreviver.

"O aumento da exportação do fruto desabastece o mercado interno, o que faz o preço aumentar para os consumidores paraenses, já que quem está de fora, paga mais pelo fruto e tem capital para amortecer essa alta no preço. A grande preocupação do consumidor é ter que deixar de consumir, ou reduzir o consumo para 1 ou 2 vezes na semana, agora para o batedor, que depende dessa atividade, é mais difícil, porque ele não tem mecanismos de sustentabilidade nesse período. Estamos falando de muitas famílias que não vão saber como repassar esse aumento", alerta o técnico.

image A exportação do açaí afeta diretamente o mercado interno, em fundção da grande demanda e baixa oferta do produto (Ivan Duarte / O Liberal)

Vendedores sentem o preço

Heron Amaral Rocha é proprietário de um ponto de açaí no bairro da Pedreira, em Belém, e está preocupado com o grande aumento no preço dos paneiros de açaí, como são chamados os recipientes que chegam em embarcações para serem comercializados. Segundo o comerciante, hoje o valor chega a R$ 220, o que o obriga a repassar parte desse aumento para o consumidor final.

"Desde agosto os preços começaram a se elevar e no início estavam cerca de R$ 130 reais um paneiro. Não foi um preço tão suave, em relação a outros anos, mas depois que passou o Círio, o preço foi pra R$ 150, depois pra R$ 180, e hoje tá em torno de R$ 200 a R$ 230. Mesmo com os aumentos a gente tenta segurar, mas é impossível não repassar pro valor final. Ou você aumenta, ou é melhor parar, se não, não vai ter margem de lucro", explica o empreendedor.

Paula Maceió, trabalha com venda de açaí há 8 anos em Ananindeua. Seu ponto, localizado na avenida 3 corações, também está sofrendo com o aumento no preço do açaí, o qual está sendo comercializado a R$ 26 o litro. A empreendedora conta que os diversos problemas causados pela exportação vão obrigar que o preço, infelizmente, continue aumentando.

"Mês passado eu vendia a R$ 22 o açaí, mas é possível que daqui a duas semanas eu tenha que vender a R$ 32. Nesta mesma época, no ano passado, eu vendia a R$ 20. Isso assusta, porque eu não sei nem mensurar como vai ser daqui a 2 anos, quando a exportação tiver maior ainda", afirma a vendedora.

Crise Climática

O supervisor técnico do Dieese, Everson Costa, destaca que o chamado período de entressafra sempre causou aumento no preço do fruto, mas que desta vez, novos fatores foram adicionados pelas mudanças climáticas.

“A gente já sabe que na entressafra a oferta diminui drasticamente, por conta da renovação da produção, afinal o solo das plantações precisa ser preparado para o ano que vem. Só que nesse ano de 2024, essa safra sofreu duras variações climáticas e no caso do açaí, a gente já padece com as altas temperaturas, o tempo seco e as queimadas, e tudo isso fez com que a safra deste ano trouxesse um volume de qualidade inferior do que vimos em outros anos, O Dieese acompanha o preço do açaí há 30 anos, nos últimos 10 anos, o preço costuma subir só no final do segunda quinzena de novembro. Esse ano, na 2ª quinzena de setembro e depois em outubro já houve subida nos preços, e em dezembro os aumentos chegam a quase 10%", ressalta Everson.

Everson também chama a atenção para a necessidade de criação de políticas públicas em todas as esferas de governo, que possam auxiliar toda a cadeia produtiva de açaí neste momento delicado, o qual afeta principalmente os setores mais vulneráveis.

"É preciso que haja intervenções de políticas públicas em todas as escalas, ações municipais, estaduais, penso até no apoio federal, porque hoje não temos fomento e mecanismos mínimos de suporte à cadeia de produção do açaí. Saindo da questão do preço, temos outras questões como o trabalho informal, sem carteira assinada, até mesmo trabalho infantil e tudo isso coloca o nosso ouro negro sob o perigo de preços que se elevam, e com um recorte social de impactos que a cada ano aumentam", alerta.

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