Alta dos juros desacelera setor da construção civil no Pará e amplia incertezas para 2025

Empresários do setor imobiliário e da construção alertam que Selic elevada encarece financiamentos, reduz investimentos e impacta cadeias produtivas.

Jéssica Nascimento
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A alta da taxa básica de juros, a Selic, tem imposto desafios ao setor da construção civil no Pará, impactando tanto a oferta quanto a demanda por imóveis. Com financiamentos mais caros e incertezas sobre o futuro econômico, o mercado imobiliário local enfrenta uma desaceleração, sobretudo no segmento de renda média. Empresários do setor apontam a necessidade de medidas governamentais para mitigar os efeitos e manter o setor aquecido.

Financiamentos mais caros e impacto na demanda

O empresário e corretor de imóveis Valter Matos destaca que a Selic impacta diretamente o financiamento imobiliário no Pará, tornando as parcelas mais altas e reduzindo o poder de compra dos consumidores. 

"Isso gera uma desaceleração nas vendas, especialmente em imóveis usados ou prontos para morar, onde o financiamento é contratado imediatamente", explica.

Segundo ele, a estratégia de algumas construtoras tem sido priorizar a venda de imóveis ainda na fase de obra, permitindo ao comprador postergar o financiamento para a entrega do imóvel, quando os juros podem estar mais baixos. 

"Essa é uma saída para driblar o custo alto do crédito, mas não resolve o problema estrutural do setor", acrescenta.

Medidas para aliviar o impacto

Entre as propostas que podem ajudar a dinamizar o setor estão a redução dos depósitos compulsórios da poupança, a diminuição do prazo das Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e o fim do saque-aniversário do FGTS. 

"Se flexibilizada, a regra do compulsório pode liberar mais dinheiro para financiamentos", analisa Matos.

No entanto, ele pondera que a medida precisa ser bem planejada para evitar desequilíbrios na economia.

Já o administrador e empresário do ramo de construção civil Marcus Santos acredita que essas mudanças podem ajudar, mas não interferem diretamente na taxa de juros. 

"O mercado de média renda é o mais afetado. A classe baixa tem apoio do Minha Casa Minha Vida, e a classe alta não depende de financiamento", argumenta. 

Segundo ele, a tendência é que as incorporadoras priorizem lançamentos voltados para esses públicos menos impactados pela Selic.

Inflação nos insumos e pressão no setor

Além do impacto direto nos financiamentos, a alta dos juros também encarece a cadeia produtiva da construção. De acordo com Fabrizio Gonçalves, presidente do Sinduscon/PA (Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Pará), o custo dos insumos tem aumentado devido ao custo do capital aplicado na produção. 

"A Selic elevada reduz investimentos e amplia inseguranças sobre a rentabilidade do setor. O mercado financeiro fica mais atrativo e seguro, enquanto a construção civil perde competitividade", afirma.

Para ele, a solução passa por um controle fiscal mais efetivo por parte do governo. "Precisamos de uma política mais rígida de corte de gastos e ajuste fiscal. Se isso for feito em 2025, a expectativa é que os juros possam cair em 2026, trazendo alívio para o setor", avalia Gonçalves.

Expectativas para 2025

O mercado imobiliário paraense deve atravessar um período de adaptação em 2025. A Selic ainda em patamares elevados deve manter a demanda retraída, especialmente para imóveis de médio padrão. 

Pequenas e médias construtoras tendem a ser mais cautelosas em novos lançamentos, enquanto projetos diferenciados e bem localizados podem manter um nicho de compradores.

"Se houver redução gradual da Selic ao longo do ano, o mercado pode reagir positivamente, liberando mais crédito e facilitando as vendas", diz Matos.

Até lá, a estratégia é focar em vendas na planta e oferecer condições mais flexíveis para atrair clientes. Enquanto as soluções não são implementadas, o setor segue em compasso de espera, aguardando um ambiente econômico mais favorável para voltar a crescer de forma sustentável.


 

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