Acordo entre Mercosul e UE teria “pouco efeito” no Pará, diz Faepa
Países estão há 20 anos nas tratativas para finalizar o tratado, mas entidades paraense avaliam que os resultados não seriam sentidos na economia local
Os debates envolvendo um possível acordo entre o Mercosul e a União Europeia continuam. Dessa vez, os impactos do pacto na realidade econômica do Pará entram em cena: para a Federação da Agricultura e Pecuária do estado (Faepa), pouco efeito seria sentido com a conclusão das negociações, uma vez que a produção alimentícia paraense é autossuficiente e não depende do mercado europeu para exportação.
O assunto voltou a ser palco das atenções durante a cúpula do G20, no Rio de Janeiro, na semana passada. O chanceler alemão Olaf Scholz enfatizou que o acordo de livre comércio entre os dois blocos econômicos deve ser concluído "de uma vez por todas", apesar da rejeição que está gerando, sobretudo por parte da França. São mais de 20 anos de negociações para o tratado, enfim, sair do papel.
A Comissão Europeia, com o apoio de vários países, incluindo Alemanha e Espanha, espera assinar antes do final do ano o acordo de livre comércio entre o bloco europeu e os fundadores do Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai). Se firmado, o pacto criará um mercado integrado de cerca de 800 milhões de pessoas e eliminaria as tarifas de importação sobre mais de 90% dos produtos da UE exportados para o bloco sul-americano.
O país com mais entraves em relação ao acordo é a França. Após as declarações do chanceler alemão, o país foi tomado por uma onda de protestos de agricultores contrários ao pacto econômico. O setor teme um inchaço dos produtos sul-americanos e a “concorrência desleal” com o Brasil. Antes de participar do G20, o presidente francês Emmanuel Macron visitou a Argentina e declarou a oposição. “Não será às custas dos nossos agricultores".
Pouco impacto
Se de um lado os franceses adotam uma postura protecionista para o assunto, do outro, a Faepa segue pelo mesmo caminho. Guilherme Minssen, zootecnista e diretor da instituição, explica que o mercado europeu não é o maior comprador dos produtos sul-americanos, por isso, os impactos sentidos não seriam tão expressivos. “O encontro e o acordo que envolve a União Europeia e o Mercosul representa muito pouco para nós, paraenses”, afirma.
Atualmente, segundo Minssen, as vendas de carne do Pará para a Europa são “quase insignificantes” - metade da exportação paraense do produto é para a China, país que mais compra do estado: em 2023, as vendas chegaram a US$ 11.186.158.808 bilhões. “A nossa agricultura familiar não exporta nada para a Europa. Não temos mercado para nossos produtos da agricultura familiar, a grande base, é nossa”, completa o diretor da Federação.
Pará tem segurança alimentar, diz Faepa
A Europa enfrenta, hoje, um problema alimentar causado pela guerra envolvendo a Rússia e a Ucrânia. O país liderado por Volodimir Zelensky é considerado o “celeiro” dos europeus e teve as exportações agrícolas prejudicadas pelo conflito. A realidade é diferente da vista no Pará, diz a Faepa. “O estado tem que saber que, em primeiro lugar, tem o principal, que é a segurança alimentar. Temos produção de alimentos para toda a população e para exportar”.
“Na carne, por exemplo, nós consumimos apenas 30% de tudo que nós produzimos, ou seja, nós somos exportadores. Nós temos uma coisa chamada segurança alimentar, que é o que eles não têm. É isso que é mais caro, hoje, para qualquer país se tornar independente. Nós vamos precisar ter muita calma nesse momento e deixar passar, baixar essa poeira, que é muito de narrativas e pouca coisa sólida”, completa Minssen.