70% dos paraenses estão endividados, aponta Fecomércio; inadimplência cai e atinge 20,6%
Para economista paraense, endividamento não é necessariamente negativo; segundo ele, risco real é a inadimplência.
A taxa de endividamento das famílias paraenses permaneceu perto de 70% em fevereiro de 2025, aponta a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Pará (Fecomércio/PA), conforme levantamento enviado ao Grupo Liberal. Segundo o estudo, a taxa de endividamento fechou em 69,3%, um aumento de 5,6 pontos percentuais em comparação a fevereiro de 2024, quando ela estava em 63,7%.
Já a inadimplência teve queda no Pará. A taxa de paraenses com dívidas ou contas em atraso atingiu 20,6% dos endividados em fevereiro deste ano, enquanto que, no mesmo mês do ano passado, atingiu 24,7%.
Segundo o estudo, a parcela da renda já comprometida com dívidas parceladas para pagar por pelo menos quase sete meses à frente é de 32,5%. “Taxa que merece prudência e atenção”, diz análise feita pela assessora econômica da Fecomércio/Pa, Lúcia Cristina de Andrade Lisboa da Silva.
Principais tipos de dívidas
De acordo com a Fecomércio/Pa, o cartão de crédito ainda é o principal tipo de dívida dos paraenses: 81,20%. Em segundo lugar, estão os carnês (21,6%); em terceiro, o crédito consignado (10,50%); em quarto, o financiamento de carro (8,7%).
Outros tipos de dívidas responsáveis pelo endividamento dos paraenses, segundo o estudo, são o financiamento de casa (5,8%), crédito pessoal (3,7%) e o cheque especial (3,3%).
Endividamento X inadimplência
De um lado, endividamento é assumir compromissos financeiros futuros, como empréstimos, financiamentos ou compras parceladas. No entanto, estar endividado não significa estar com problemas financeiros, desde que a pessoa consiga pagar as dívidas dentro dos prazos acordados.
Por outro lado, a inadimplência é deixar de cumprir com obrigações financeiras, deixando de pagar dívidas dentro do prazo estipulado. A inadimplência pode resultar em consequências negativas, como juros adicionais e impactos na reputação creditícia. Em outras palavras: o nome do inadimplente pode ser incluído nos cadastros de inadimplentes, como a Serasa.
Endividamento não é necessariamente negativo, afirma economista Mário Tito
Mário Tito, economista paraense, defende que o endividamento das famílias não é um sinal negativo, mas sim uma consequência do aumento do acesso ao crédito.
Para ele, o fato de as pessoas adquirirem produtos a prazo, seja por débito, Pix ou parcelamento, indica uma escolha da população de postergar o pagamento para o futuro, o que não implica em um problema imediato.
O risco real é a inadimplência, não o endividamento
De acordo com Tito, o verdadeiro problema do endividamento não está na dívida em si, mas na inadimplência, ou seja, quando as pessoas deixam de pagar os compromissos assumidos.
Apesar disso, ele observa que, nos últimos tempos, “a inadimplência tem diminuído, o que é um sinal positivo. Isso indica que a população está honrando mais seus compromissos financeiros, refletindo uma economia mais estável.”
Economia em crescimento e melhoria da renda do trabalhador
O economista destaca que a redução do desemprego e o aumento da renda média do trabalhador são fatores fundamentais para a melhoria do cenário econômico.
“Com mais dinheiro em circulação e um mercado de trabalho mais aquecido, as famílias têm mais condições de pagar suas dívidas e continuar consumindo, o que ajuda a impulsionar a economia”, analisa.
Inflação controlada, mas desafios para produtos essenciais
Apesar de observar que a inflação está controlada em diversos setores, Tito reconhece que alguns produtos essenciais, como alimentos frescos, ainda precisam apresentar uma queda significativa de preços.
No entanto, ele salienta que, “mesmo diante desses desafios, as famílias têm conseguido manter seu poder aquisitivo e seguir com suas compras, inclusive a crédito.”
O ideal é evitar o crédito e consumir à vista
Mário Tito alerta para o risco do crédito, que pode se tornar uma armadilha. O ideal, segundo ele, seria que as pessoas consumissem apenas o que pudessem pagar à vista, seja por meio de cartão de débito, pagamento em dinheiro ou Pix.
“A dívida, especialmente em parcelas futuras, exige uma confiança no futuro, algo que nem sempre pode ser garantido, pois depende da disponibilidade de renda no momento do pagamento”, afirma.
Expectativas positivas para o futuro econômico do Brasil
O economista vê com otimismo o crescimento da economia brasileira, especialmente os recentes dados sobre o aumento da ocupação na indústria. “Isso demonstra uma economia em expansão, com produção de bens para atender à crescente demanda”, disse.
Tito acredita que esse movimento gera uma expectativa positiva para o futuro, onde a confiança do consumidor é essencial para fomentar o consumo e a produção.
Desafios econômicos: a questão dos juros
Por fim, Mário Tito aponta que, embora haja confiança na economia, o Brasil ainda enfrenta um grande desafio: as altas taxas de juros. Ele acredita que a política monetária adotada pelo Banco Central nas gestões anteriores, com o aumento dos juros, tem dificultado tanto a produção quanto o consumo a crédito.
Para que a confiança na economia seja mais sustentável, o economista defende a necessidade urgente de redução das taxas de juros.