40% dos paraenses já contrataram empréstimos para pagar contas básicas
Endividamento no Pará atinge 2,7 milhões de CPFs em janeiro
No Pará, 40% dos consumidores já recorreram a empréstimos para pagar contas básicas, como água, luz e gás. O dado, da Serasa, mostra que 43,72% da população adulta do estado estava inadimplente em janeiro deste ano. O total das dívidas naquele mês chegou a R$ 11,8 bilhões, com um endividamento médio de R$ 4.364,36 por pessoa e três dívidas em atraso por consumidor.
A opção pelo acesso ao crédito segue em alta. Segundo o Banco Central, o saldo das operações de crédito no Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceu 10,9% em 2024, alcançando R$ 6,4 trilhões em todo o país. O aumento foi impulsionado pelo crédito para empresas (+9,1%) e para famílias (+12,1%), especialmente nas modalidades de cartão de crédito à vista e crédito pessoal consignado.
A inadimplência no Brasil registrou 3,0% no crédito total em 2024, sendo 2,0% para empresas e 3,5% para famílias, segundo o Banco Central. No Pará, segundo a Serasa, 39% dos endividados têm dívidas há mais de dois anos, e 26% buscam renegociações. Entre os principais motivos do endividamento no estado, o desemprego (26%) lidera, seguido por gastos inesperados (15%).
"Não faria de novo", relata pequeno empresário
Caio Menezes, 29, dono de uma conveniência em Belém desde 2022, conta que decidiu recorrer a um empréstimo, mas acabou se deparando com gastos inesperados. "A contratação foi para reposição de mercadorias, mas o dinheiro acabou sendo usado para pagamento de cartão de crédito e despesas pessoais", explica.
Para quitar as parcelas do empréstimo, agora, Caio precisa recorrer a fontes extras de renda, incluindo trabalho como motorista de aplicativo, para além da conveniência. "Mantive o valor da parcela, mas tive que procurar novos produtos para atrair clientes. Também estou tendo que buscar essas alternativas para aumentar minha renda e conseguir pagar", conta.
Caio lembra que a facilidade de acesso ao crédito foi um dos principais atrativos na época que acessou o crédito. Mas, apesar dessa facilidade - e hoje, lidando com as parcelas, os juros dos atrasos e o esforço para pagar o crédito -, ele diz que não faria a mesma escolha novamente. "Na hora parecia a melhor opção, mas percebi que não era", avalia.
Economista alerta para o risco ‘da facilidade’
O economista Valfredo de Farias compara o atual aumento do crédito no Brasil a períodos de crises passadas, como a de 2008 a 2010, quando houve forte estímulo ao crédito.
"O governo tem facilitado o acesso ao crédito. O problema é que os juros estão muito altos. As empresas e famílias recorrem a empréstimos para cobrir necessidades básicas e pagar outras dívidas, mas acabam se endividando cada vez mais. Isso pode levar a uma recessão como a de 2014, quando a bolha de crédito estourou", analisa.
Assessor explica como tomar crédito de forma segura
Para Leonardo Cardoso, assessor de investimentos, um dos maiores desafios do crédito hoje é o alto custo dos juros, que torna o financiamento uma decisão ainda mais delicada. "Quando a Selic está alta, os bancos repassam esse custo, encarecendo os empréstimos. Isso reduz o poder de compra e compromete o orçamento de quem contrata o crédito", explica.
Atualmente, a taxa Selic está em 13,25% ao ano. O aumento de janeiro foi o quarto consecutivo do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, impulsionado pela inflação acima da meta. A projeção do mercado para a inflação oficial do país (IPCA) subiu de 5,6% para 5,65% em 2025, na 19ª revisão para cima, segundo o Boletim Focus desta segunda-feira (24).
A estimativa para 2025, conforme o Boletim Focus, ultrapassa o teto da meta de 3%, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que permite variação de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Para 2026, a previsão passou de 4,35% para 4,4%. Já para 2027 e 2028, as projeções são de 4% e 3,79%, respectivamente.
Para evitar problemas financeiros diante desse cenário, Leonardo sugere uma análise cuidadosa da capacidade de pagamento antes de recorrer a um empréstimo.
"O ideal é que as parcelas não ultrapassem 30% da renda líquida. Além disso, é essencial verificar a taxa de juros e a finalidade do crédito: se for para consumo, geralmente não vale a pena. Se for um investimento que trará retorno superior aos juros, pode ser uma boa escolha", orienta Cardoso.
Veja mais dicas do especialista:
"Busque renegociação ou portabilidade": Se as taxas de juros caírem ou se encontrar uma opção mais barata, vale considerar a portabilidade do crédito para outra instituição financeira.
"Crie uma lista de priorização das dívidas": das mais caras para as mais baratas. Créditos como parcelamento de cartão de crédito ou cheque especial costumam ter taxas muito altas e devem ser evitados sempre que possível. Se já estiverem contratados, o ideal é quitá-los rapidamente ou substituí-los por um crédito mais barato.
"Mantenha um fundo de emergência": Ter uma reserva financeira ajuda a evitar novos empréstimos em momentos de dificuldade, reduzindo o risco de endividamento excessivo.