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Guaraná Jesus foi criado por um ateu? Conheça a origem do refrigerante rosa

Idealizador da bebida era um farmacêutico do Maranhão que homenageava suas criações com o nome de pessoas importantes para ele

Gabriel Bentes
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O refrigerante Guaraná Jesus é conhecido por seu líquido rosa, sabor inconfundível e embalagem diferenciada azul e rosa. Fundado no Maranhão, com o passar dos anos a bebida se popularizou e chamou atenção por levar o nome de Jesus Cristo, uma das maiores personalidades religiosas do mundo.

Com vários "memes" com o nome da bebida, brincando sobre ela ser "abençoada", a origem da mesma veio de uma pessoa que, apesar de se chamar Jesus Norberto Gomes, não acredita em Jesus ou em qualquer outra qualquer religião. Além de ateu, ele ainda era conhecido por ser comunista.

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Nascido em 1891, na cidade de Vitória do Mearim, no Maranhão, Jesus Norberto Gomes se mudou aos 14 anos para a capital do estado, São Luís, em busca de trabalho. Sua primeira oportunidade surgiu rapidamente, ao ser contratado pela Farmácia Marques. Aos 20 anos, tornou-se empreendedor ao fundar a Farmácia Galvão, um marco que mudaria o rumo de sua trajetória para sempre.

Norberto Gomes gostava de batizar suas invenções com nome de pessoas importantes para ele, e, no caso do Guaraná Jesus, a homenagem foi para o próprio. Seu primeiro nome esteve no Antigripal Jesus, no Xarope Peitoral Jesus e na Jesulina Pasta Dentifrícia. Seguindo essa forma de nomear os produtos com seu nome, assim foi com o Guaraná Jesus, criado em 1927 em uma seção de águas gasosas e refrigerantes, algo que era comum nas farmácias da época.

No entanto, a primeira versão do produto não agradou tanto assim. O gosto levemente amargo da bebida não foi aprovado em primeiro momento pelo público. Mas isso não fez Jesus desistir. Ele continuou buscando novas alternativas para sua fórmula de sucesso até que alcançou uma combinação em que o sabor caiu no gosto dos netos e logo caiu no gosto da população da região. A fórmula da bebida gaseificada era toda feita à base de extratos vegetais. Até mesmo o corante do refrigerante era natural.

Fábio Gomes, neto de Jesus, deu uma entrevista para a revista Piauí, em 2007, onde revelou que o avô foi o pioneiro em explorar os recursos naturais da Amazônia. Segundo Gomes, Norberto realizava expedições para as florestas e sempre trazia ervas de lá.

"Antes de todo mundo começar a falar em biodiversidade, ele já achava que o grande tesouro farmacológico do mundo estava na selva amazônica”, disse Fábio.

Relação com o comunismo

Fábio também afirma que o avô possuía uma visão avançada em relação aos direitos trabalhistas: “Quando ninguém falava em participação dos funcionários, meu avô dava participação nos lucros da farmácia”.

Esse, entre outros motivos, fez com que surgisse o boato de que Jesus, o fundador do Guaraná Jesus, era comunista. Em novembro de 1935, Norberto Gomes e outras oitenta pessoas tiveram suas prisões decretadas devido à Intentona Comunista. O grupo foi levado ao Rio de Janeiro, onde permaneceu até o ano seguinte.

Fábio ainda guarda uma cópia da carta-testamento que o avô escreveu à mão em 1958, na qual ele solicitava um funeral simples e determinava que a diferença entre o custo de um enterro modesto e um mais caro fosse doada ao Partido Comunista.

Sobre o comunismo, Jesus dizia: “Não fui e não sou socialista, infelizmente, porque seria um idealista. Como pequeno-burguês tenho defeitos, mas sou admirador sincero desse regime verdadeiramente humano, onde pode ser obtida a verdadeira democracia”.

Ascensão da marca

No ano de 1961, a família de Jesus vendeu a fábrica própria para a então Cervejaria Antárctica Paulista. No entanto, uma briga judicial, motivada pela acusação contra a fábrica por adulterar e boicotar a venda do produtor, levou ao rompimento do contrato anos depois.

Jesus Norberto Gomes faleceu em 1963 e acabou não presenciando o sucesso que seu produto viria a se tornar. 17 anos depois, em 1980, a família Gomes vendeu a marca à antiga Companhia Maranhense de Refrigerantes, a qual era franqueada na época pela Coca-Cola Brasil no Maranhão.

Em 2001, o Guaraná Jesus foi adquirido pela multinacional e passou a fazer parte do portfólio da empresa. Mas, desta vez, o refrigerante manteve a fórmula e identidade originais, mantendo assim a preservação da cultural local do produto. Os elementos gráficos do rótulo remetem à própria cor do guaraná. A fonte do logotipo escrito “Jesus”, por sua vez, é a singular assinatura de seu criador.

“Manter os aspectos tradicionais da bebida foi um compromisso assumido pela Coca-Cola Brasil diante da família do criador da marca, Jesus Norberto Gomes, ao adquirir a marca em 2001", garante Rodrigo Assunção, diretor de Marketing e Planejamento Estratégico da Solar ao site Aventuras na História.

"Todas suas características originais foram mantidas, e o produto que você bebe hoje é o mesmo que era bebido há 89 anos”, afirma o diretor.

Em 2008, a Coca-Cola lançou uma campanha permitindo que os consumidores escolhessem, por meio de votação popular, a nova identidade visual das embalagens do Guaraná Jesus. Entre as três opções apresentadas, a mais votada foi a que remete aos azulejos coloniais portugueses de São Luís.

A campanha foi um grande sucesso de público e crítica, e a empresa conquistou a medalha de ouro na categoria Melhor Estratégia de Marketing no Prêmio Internacional de Excelência em Design (IDEA).

Antes engarrafado exclusivamente em São Luís e distribuído apenas nos estados do Maranhão, Piauí e Tocantins, o Guaraná Jesus passou a ser vendido em novas praças. Desde 2016, a bebida criada por Jesus Norberto Gomes está disponível também em São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Brasília.

(*Gabriel Bentes, estagiário de Jornalismo, sob supervisão de Enderson Oliveira, editor web de oliberal.com)

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