Verequete do mundo e das encantarias

O mestre de carimbó completaria 106 anos nesta sexta (26)

Bruna Lima
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Um personagem fascinante, carismático e das encantarias, assim o cineasta Luis Arnaldo Campos define Augusto Ramos Rodrigues, mestre Verequete, que completaria 106 nesta sexta-feira (26). Analfabeto, era compositor de letras que se perpetuaram por meio do ritmo do carimbó. A data de nascimento do artista virou o dia municipal do carimbó.

O cineasta conviveu de perto com o artista em um momento em que Verequete estava esquecido, enfrentando as batalhas da vida e se sustentando por meio da venda de churrasquinho, na Estrada Nova. Luiz resolveu coletar material ao lado de Rogério Parreira e realizaram o documentário "Chama Verequete", que já foi vencedor do Festival de Gramado e,este ano, completou 20 anos de lançamento.

O filme tem responsabilidade por um novo momento na vida do artista, pois a partir dessa visibilidade ele teve momentos de reconhecimento e homenagens e passou a receber mais convites para apresentar sua arte. Para fazer o documentário, Luis disse que teve diversos encontros com o mestre e a cada encontro ele se sentia mais motivado para produzir o filme.

"A gente ficava impressionado com as histórias, com a forma em que ele fazia sua arte. Ele só sabia escrever o nome Verequete e mesmo analfabeto escrevia letras lindas e únicas e mesmo sem tocar um dó no violão fazia composições espetaculares. O mestre não era um ser humano, ele era uma entidade", destaca o diretor de "Chama Verequete".

Luis segue a entrevista dando mais características ao mestre, 'ele era uma pessoa das encantarias, via coisas. Em uma primeira conversa já percebia que ele tinha um diferencial. E a ideia do documentário não era de fazer algo biográfico, mas sim algo poético com a tentativa de alcançar a dimensão de alcançar a grandeza cultural e espiritual desse artista", completa o cineasta.

Aos 80 anos de idade, a primeira vez que Verequete pisou em uma sala de cinema foi para assistir o filme de sua vida. Luis diz que lembra muito bem do dia do lançamento do filme. "Foi no cine Boulevard, na Doca, onde é o shopping Boulevard hoje em dia. Ele estava segurando no meu braço e disse que era a primeira vez na vida que entrava no cinema", recorda o diretor do filme.

Mas além de ser eternizado com filmes, o mestre também é eternizado em outros espaços de conhecimento. Edilson Mateus Costa da Silva fez a tese de doutorado "Invenção do carimbó: música popular, folclore e produção fonográfica (século XX)", que trata sobre o Carimbó, especialmente, o período das primeiras gravações de discos nos anos 1970.

E Verequete foi abordado em um dos capítulos, pois o pesquisador destaca que ele foi um dos primeiros a gravar o Carimbó. "Ele é muito importante por ser representante do carimbó dito "pau e corda", assim como das tradições afro-brasileiras na cultura paraense".

Sobre o sotaque da música de Verequete para de outros mestres de carimbó, Edilson Silva explica que cada artista tem suas particularidades. "Isso tem relação com o contexto em que está envolvido e com as experiências de vida e musicais. Verequete foi um personagem que me debrucei por ele ser importante para o cenário da produção de discos do carimbó, assim como da ascensão do folclórico como aspecto da indústria do disco", acrescenta o pesquisador.

Artista natural da vila Quatipuru, município paraense de Bragança, nascido em 26 de
agosto de 1926. Morou em diferentes localidades do Pará, quando criança foi morar em Ourém, adolescente em Capanema. Em 1940, se mudou para Belém para residir no Distrito de Icoaraci.

Ainda de acordo com a pesquisa de Edilson, na juventude, o mestre foi foguista, capataz da Base Aérea, ajudante de agrimensor, arremate de vísceras, açougueiro, marchante de porcos e no final da vida vendeu churrasco para sua subsistência. 

"Morando em Icoaraci, espaço que tradicionalmente congregava grupos praticantes do carimbó, passou a ter contato com a expressão musical do gênero. Em Belém, passou a frequentar as celebrações religiosas dos terreiros mina-nagô, onde conheceu os cânticos sagrados, ou “pontos”, que influenciaram a musicalidade e foram incorporados ao repertório do grupo Verequete e o Conjunto Uirapuru, inclusive o nome “Verequete” derivou da divindade Toya Averequete", destaca o pesquisador.

Com esse repertório de vida, Luis Arnaldo Ramos diz que Verequete era uma pessoa outro mundo e que passou pelo tempo ensinando. "Ele via São Benedito, via sereias, conversava com os encantados e tinha a música como missão de vida. Eu tenho muita saudade dele", diz o cineasta.

Saudar Verequete e o carimbó

E para celebrar o mestre Verequete e o carimbó, o público terá algumas opções neste final de semana. Nesta sexta (26), o Grupo Cobra Venenosa e convidados fará uma festa no Espaço Cultural Coisas de Negro, em Icoaraci. A festa começa a partir das 20h.

No sábado (27), ocorre o encerramento do tradicional Festival Pau e Corda de Carimbó, na passagem Álvaro Adolfo, no bairro da Pedreira. A programação começa às 14h e conta com a participação de vários grupos de carimbo.

E no domingo (28), a programação da prefeitura de Belém, a segunda edição da “Avenida Cultural”, conta com a apresentação do Grupo Uirapuru, grupo formado pelo mestre Verequete.

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