Uirá Pinheiro, criador do Black Soul Samba: "Vem festival por aí"

Black Soul Samba. Pelo nome, muitos conhecem essa festa que se tornou consagrada na agenda de Belém e regiões.

Igor Wilson
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Uirá Pinheiro é um dos nomes que está por trás da Black Soul Samba, festa que surgiu em Belém em 2009 e desde então nunca mais parou, rolando inclusive em Ananindeua. Carregando a bandeira musical das causas raciais, a BSS conseguiu unir um público acima dos 30 anos, conectado com artistas como Jorge Ben, Tim Maia, Tony Tornado, Black Rio, Hyldon, Cassiano e tantos outros nomes da música nacional que representam a cultura preta brasileira. A estrada da Black Soul Samba irá completar 13 anos em 2022 e com boas recodações. Se tornou uma festa emblemática e com um público fiel. Dj e produtor cultural, Uirá falou a reportagem de O Liberal sobre o início da marca, as perspectivas de futuro, os desafios do negócio e também sobre os novos artistas da cena regional e nacional. Confira o papo: 

- A Black Soul Samba se tornou uma das festas mais conhecidas de Belém. Como e porque começou a ideia da BSS? 

A festa surgiu em 2009. Lembro que cheguei de Brasília uns três anos antes. Lá eu tinha banda de rock, mas ainda era novo e não estava tão ativamente na área de produção cultural, mas minha família tinha, com produções pelo Parque de Igarapés, então estava no sangue. Então na ocasião me juntei a pessoas como o Amero da Cuíca e o Cauê Almeida, que é filho do Nilson Chaves. Na cena aqui de Belém existiam festas black, mas não com a pegada que queríamos. Pensamos em como Então escancarar essa diversidade da música negra e suas várias vertentes a um público paraense. Como fazer algo que mostrasse a associação do nosso samba com a música africana e o rock, com a música latina como a música cubana. Então a gente veio com essa proposta de fazer algo que mostrasse essa influência dessa diversidade étnica e musical, rítmica da música brasileira e seus múltiplos estilos.  

 

- Existe uma ligação entre Black, Soul e samba com nossos ritmos regionais? 

Todos são identificados com essa matriz africana, inclusive nosso carimbó. Mas o Brasil tem essa mistura bem forte e aí a nossa música reflete isso. Então é isso que a BSS procura levar ao público desde que a gente começou, primeiro na área da Cidade Velha e depois nos tornando uma festa marcante na cidade. Fizemos muitos eventos, a maioria de forma independente, onde conseguimos mostrar essa relação musical. A gente fazia, corria atrás pra fazer, mesmo sem patrocínio na maioria das ocasiões. E com esse espírito bem empreendedor de correr atrás é que buscamos fazer acontecer. 

 

- Como está o interesse do público de adolescentes e jovens por gêneros musicais como o Black, Soul e Samba?  

Eu diria que é um grande desafio que estamos atravessando. Nosso público é uma galera acima de trinta anos. Muitos acompanham a BSS desde o início da festa em 2009. Então o desafio é buscar renovar o público também. Acho que conseguimos um pouco isso no evento que marcou dez anos de BSS, onde fizemos o festival com show do Black Alien e do Hyldon no Parque dos Igarapés. Esse evento mostrou essa renovação que a gente está buscando e esperamos continuar o trabalho de renovação. Atualmente o que a gente vê nos grandes festivais que estão aí com patrocínio alto é uma mistura que talvez saia do que a Black Soul Samba busca. Nosso festival quer focar mais na questão da influência da matriz indígena e africana na música brasileira. Então buscamos nos unir a essa pegada mais cultural, folclórica, mais identificada com a raiz da música brasileira. 

 

- Quais artistas da nova geração você pode destacar pra gente? 

A produção é muito fértil. Tem muita banda surgindo com esse atual momento da música, fundamentado na internet. E também com a explosão dos estúdios ficou muito mais fácil você montar um lugar para gravar. Hoje você pode montar um estúdio na sua casa, com equipamento de qualidade e preços acessíveis. Saímos daquela realidade onde as grandes gravadoras dominavam tudo, para um momento em que está muito mais fácil produzir de forma independente. E muitos artistas aí pelo mundo estão fazendo sucesso a partir dessa nova origem. Posso citar aqui do Pará o Lauvaite Penoso, tem o Casa de Folha, o Bando Mastodonte, com uma forte influência percurssiva. Tem o Lucas Estrela, que acho que é um grande artista também. Nacionalmente tem muita gente boa, principalmente no rap, que hoje em dia está menos fechado, conseguindo se relacionar com vários estilos. Criolo, Emicida, Flora Matos, Luedji Luna e muita gente produzindo som de qualidade. 

 

- Por onde anda a BSS atualmente? 

A Black Soul Samba ficou durante quatro anos fazendo evento toda semana. Então é um ritmo muito cansativo, devido ao sucesso que é. Então uma hora, visando o público e mais estrutura, buscamos uma periocidade mais mensal. Estivemos muito tempo no Palafita, fomos para o Tábuas de Marés, que era sucesso total, sempre lotado. E continuamos na luta. Estamos na ativa fazendo eventos maravilhosos, nesse final de semana organizamos em Castanhal. Em Belém para onde levamos a BSS o público se faz presente. Agora em outubro estamos fechados também para tocar todas as quintas-feiras na Cervejaria Flor de Lúpulo. Estamos sempre na ativa. 

 

- Como foi o período de pandemia pra BSS e pra você que trabalha com a produção cultural em nosso estado? Quais foram os principais desafios para tornar a atividade rentável para todos? 

Com a pandemia foi tudo mais difícil. Ficamos dois anos sem fazer evento, só fazendo live. Entramos nesse caminho da live mais para manter a marca ativa. Agora estamos buscando viabilizar projetos como o festival, com captação de recursos de leis de incentivo. Isso permitirá tragamos artistas de peso como no último ano em que fizemos. Estamos firmes e fortes, indo para treze anos de estrada e o desafio é continuar produzindo eventos de qualidade e com bom gosto, ao mesmo tempo ampliando nosso público. Nossa equipe está buscando profissionalizar mais a nossa apresentação dos projetos, seja realizando seminários, oficinas e workshops com jovens de áreas de risco, buscando também fomentar a economia criativa.  

- Quando vai rolar o próximo Festival Black Soul Samba? 

Ainda não temos datas, mas muitos planos. Nosso projeto do próximo festival vai trazer uma programação mensal que vai estar também presente nos bairros, nos municípios, levando também o aprendizado, a educação. Queremos trabalhar junto com associações de bairros, de moradores, também trazendo, de forma gratuita, uma série de formações para adolescentes. Esse aprendizado sobre economia criativa e produção cultural, que é uma área que vem crescendo bastante apesar de todas as dificuldades, precisa de muita gente. Então o festival precisa ser organizado para acontecer com todas essas uniões, aumentando o número de pessoas que geram renda e rolando muita música boa. Estamos na ativa e eu quero mandar um abraço para todo mundo. A BSS está firme e forte, jamais parou, a Black nunca parou nesses treze anos, mesmo com a pandemia. Nos acompanhem nas redes sociais que lá sempre rola o calendário de festas. 

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