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Theatro da Paz pode ser patrimônio mundial da Unesco; saiba mais

Iphan encaminhou candidatura do centenário espaço paraense e do Teatro Amazonas, de Manaus (AM), no final de janeiro último

Eduardo Rocha

Quem passa pela Praça da República, em Belém, sabe que ele está lá, imponente, desafiando o tempo para servir de espaços para muitas histórias, inclusive, a dele mesmo. Agora, o Theatro da Paz, prestes a completar 147 anos de inauguração (15 de fevereiro de 1878), poderá integrar a Lista de Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Na sexta-feira, dia 31 de janeiro, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) oficializou a candidatura dos Teatros da Amazônia (Theatro da Paz, em Belém (PA), e Teatro Amazonas, em Manaus (AM)), nesse sentido.

Essa proposta será, agora, submetida à avaliação do Comitê do Patrimônio Mundial, formado por 23 países signatários da Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural da Unesco. Se cumpridos os requisitos demandados, a candidatura poderá compor a pauta do comitê para o potencial reconhecimento do bem cultural, como repassa o Iphan.

A oficialização da candidatura, em parceria estreita com o Ministério das Relações Exteriores (MRE), é marcada pela entrega de dossiê com documentos elaborados por um grupo técnico formado pelo Iphan, pelas secretarias de cultura dos estados do Amazonas e do Pará e das secretarias de cultura dos municípios de Belém e Manaus. 

"Levar a candidatura dos Teatros da Amazônia para reconhecimento internacional se alinha ao compromisso do Iphan de promover, valorizar e democratizar o Patrimônio Cultural Brasileiro", destaca o presidente do Iphan, Leandro Grass. "A missão se torna ainda mais importante por ser um bem cultural que representa a riqueza e diversidade cultural da região Norte", afirma. Caso sejam reconhecidos pela Unesco, os Teatros da Amazônia integrarão a lista de Patrimônio Mundial Cultural, que já conta com 15 bens culturais brasileiros chancelados e um cultural e natural.

Já a secretária de Estado de Cultura, Ursula Vidal, destaca que "o Theatro da Paz é uma verdadeira joia do Pará e dialoga com nossa história e com a temporalidade da nossa Amazônia urbana". "Ele traduz o encontro da nossa identidade com o mundo, não só pela sua arquitetura imponente, de influência neoclássica, mas, sobretudo, pelo que representa enquanto espaço de criação, resistência e fruição cultural. Inaugurado em 1878, durante o ciclo da Borracha, nosso Theatro se conecta com essa efervescência da cena cultural da época, principalmente da Europa. Esta Casa das Artes segue até hoje sua missão irradiadora da produção artística mundial, sem perder a conexão com suas raízes amazônicas", enfatiza.

"O reconhecimento pela Unesco, nessa candidatura, é uma chancela internacional, mas também um gesto de afirmação da riqueza cultural da Amazônia, da memória e do seu patrimônio material e imaterial, o que ajudará no turismo e projetará essa nossa preciosidade a nível planetário, atraindo ainda mais visitantes do Brasil e do mundo", afirma Ursula Vidal. O Theatro da Paz é um bem tombado em todas as esferas: municipal, estadual e federal. Ele foi fundado durante o Ciclo da Borracha.

Um maestro no Theatro

Ao se conferir a riqueza de detalhes da história do Theatro da Paz não se consegue ficar indiferente à importância desse espaço na vida dos paraenses e brasileiros. Por isso, tem muita gente na torcida pelo teatro na Unesco. "O Theatro da Paz é um símbolo arquitetônico e cultural da Belle Époque amazônica. Os dois teatros têm importância fundamental para a Amazônia", destaca o historiador e membro da Academia Paraense de Letras (APL), Sebastião Godinho. 

Sebastião Godinho relembra um fato que diz muito do amor dos paraenses pelo Theatro da Paz. "O maestro Waldemar Henrique (que completará 120 anos de nascimento, também em 15 de fevereiro - ele nasceu em 15 de fevereiro de 1905), ao voltar a Belém, proveniente do Rio de Janeiro, a convite do governador Alacid Nunes, isso na segunda metade da década de 1960, ele não tinha onde morar, na época. Então, ele passou a morar no Theatro da Paz, num camarim", conta Godinho.

Um gigante secular

Na avaliação do cantor e compositor Nilson Chaves, o Theatro da Paz, sem dúvida, "é um monumento da cultura, da arte, da música, do teatro, da dança e, claro, já tem uma importância histórica extraordinária para nós, do Estado do Pará, e também da Amazônia no geral". "Agora, ser indicado a ser patrimônio mundial é a premiação definitiva da importância desse teatro. Que bom! Ficamos na torcida", enfatiza Nilson.

A cantora Leila Pinheiro tem uma relação visceral com Theatro da Paz. Foi lá o show de estreia dela, intitulado "Sinal de Partida", em 31 de outubro de 1980. "Nosso Theatro da Paz sempre foi pra nós, paraenses, um patrimônio gigante, secular, que encanta todos os artistas do mundo que nele se apresentam. Tenho muito orgulho de dizer que comecei minha carreira naquele palco sagrado", declara Leila.

"Merece o Theatro, merecem os paraenses e merece o Brasil vê-lo reconhecido como patrimônio de todos os povos. Aguardo com imensa alegria a hora de ler: Theatro da Paz - Patrimônio da Humanidade", diz Leila.

O cantor e compositor Allan Carvalho pontua que o Theatro da Paz sinaliza a trajetória cultural na Amazônia, onde a cultura se ramifica deixando de ter apenas um padrão (o que vinha da Europa) e se expressa de formas diversas.  Allan ressalta que os cortejos do Arraial do Pavulagem saem bem de perto do Theatro.  O Theatro da Paz é uma referência para a cultura, que se expressa em espaços diferenciados na sociedade, inclusive, o brinquedo cultural que ocorre na rua, saindo, inclusive, perto do próprio Theatro", declara Ronaldo Silva, um dos fundadores do Instituto Arraial do Pavulagem.

A professora de dança Ana Unger destaca que "a relevância do Theatro da Paz transcende sua estrutura física". "Por meio de óperas, concertos, apresentações teatrais e grandes ballet de repertório e de produções com temáticas Amazônicas, o Theatro da Paz promove o diálogo entre a cultura local e internacional, além de ser um guardião de manifestações artísticas da Amazônia que contribuem para a diversidade cultural brasileira", reforça Ana. 

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