Série sobre Elize Matsunaga entra no catálogo da Netflix

'Tentei ver além do crime bárbaro', diz diretora Eliza Capai

Agência Estado
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"Caravaggio é meu artista favorito", diz Elize Matsunaga, no primeiro dos quatro episódios da série documental “Elize Matsunaga: Era uma Vez um Crime”, que estreou na Netflix na quinta, 8, em 190 países. Dirigida por Eliza Capai, com produção da Boutique Filmes, a série conta a história do assassinato do empresário Marcos Matsunaga, herdeiro da indústria alimentícia Yoki, cometido por Elize em 19 de maio de 2012.

Elize, ré confessa, matou o marido com um tiro na cabeça no apartamento em que viviam, na zona oeste de São Paulo. Horas depois, esquartejou o corpo e abandonou os pedaços em diferentes pontos de uma estrada próxima à cidade de São Paulo. 

O motivo, segundo Elize reafirma na série, foi a descoberta de uma traição, dias antes do crime, e as ameaças constantes que ela sofria por parte do empresário, sobretudo a que se referia à única filha do casal, então com 1 ano e sete meses de idade.

Com quase quatro horas de duração, somando todos os episódios, a série ouve a versão de Elize, em sua primeira entrevista após a prisão. Ela fala com empolgação sobre suas habilidades na caça de animais silvestres, que praticava ao lado do marido - o casal tinha um arsenal de 33 armas em casa.

"Depois que o animal é abatido, você precisa tirá-lo da mata e levá-lo para outro local", conta. "Eu tenho um troféu de um veadinho abatido que comemos o lombinho dele com molho de ervas. Uma delícia. Recomendo", diz, logo em seguida.

O terceiro ponto de emoção ocorre quando Elize fala da filha, que não vê desde que foi presa, logo após o crime. "Eu escutava a torneira gotejar e só pensava na minha filha", diz, sobre os primeiros dias na prisão. É por ela que Elize afirma guardar um dos pontos jamais esclarecidos sobre o crime. "Eu tentei não errar, mas não consegui", fala, em outro trecho.

Além de Elize, a série ouve as versões de advogados de defesa e acusação, peritos, delegado e promotor do caso, jornalistas, amigos de Matsunaga - os familiares da vítima não deram depoimento - e parentes da presa. Ao todo, foram 20 entrevistados.

A estrutura básica da série é semelhante à de outros dois recentes lançamentos do gênero true crime, com depoimentos entrecortados por imagens de arquivos e cenas exibidas por telejornais. Entre os nacionais que estrearam no streaming recentemente estão o Caso Evandro e Em Nome de Deus, sobre o médium João de Deus, ambos disponíveis na Globoplay.

Além de apresentar a versão de Elize, o programa também narra o embate da acusação e da defesa durante o julgamento e a tentativa - que resultou eficaz - de livrar a ré das duas agravantes das quais foi acusada: motivo torpe e meio cruel.

Ao final, Elize foi condenada a pouco mais de 19 anos de detenção em regime fechado. Em 2019, obteve a progressão para o regime semiaberto, com direito às chamadas saídas temporárias. Em duas delas, a diretora captou 21 horas de depoimento de sua personagem principal - além de um encontro de Elize com a avó e um passeio com sua advogada.

"Eu queria refletir por que esses crimes ocorrem e como a sociedade e a mídia lidam com eles. O desafio foi fazer uma edição que não esbarrasse no sensacionalismo e que tratasse o caso com empatia e curiosidade a fim de entender a violência de uma forma mais complexa", diz Eliza, diretora.

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