'Pico da Neblina' estreia na HBO, neste domingo, 4
Ambientada em São Paulo, traz a visão futurista da legalização da maconha que ameaça o poder do tráfico
As nuvens que sobrevoam o Brasil anunciam uma tempestade. Na favela onde moram os personagens Biriba e Salim, todas as casas estão com a TV ligada. Não é final do futebol. Naquela tarde, o Congresso Nacional votará a legalização do consumo de maconha. Com produção do cineasta Fernando Meirelles, a série brasileira original da HBO Pico da Neblina estreia neste domingo, 4, fazendo um grande exercício de futurologia, define o diretor Quico, filho do cineasta.
Ambientada em São Paulo, a produção narra a jornada de Biriba, um jovem traficante que decide abandonar a vida ilegal para comercializar a erva dentro dos termos da recente decisão. Seu parceiro nos trabalhos, Salim, vê a mudança no País como uma ameaça ao antigo monopólio do tráfico. Para ele, seguir em frente pode ser duas vezes mais perigoso, e mais emocionante. "Antes do roteiro, pesquisamos os modelos de comércio legal espalhados pelo mundo para entender que existem tipos como o do Uruguai, por exemplo, marcado pela mão forte do Estado, que é diferente dos EUA, em cujos Estados a regulamentação vem do movimento do mercado", explica Quico.
Para que a trama funcionasse bem, Quico diz que ter dúvidas ajudou bastante a alimentar a história. No exemplo dos EUA, a lei federal impede qualquer comercialização ou posse da erva - mesmo assim, alguns Estados conseguiram, aos poucos, aprovar tanto o comércio de maconha medicinal quanto o uso recreativo. O caso do Uruguai é distinto, já que o governo prevê o controle e a fiscalização até mesmo da quantidade de pés cultivados pelos cidadãos. "O fato de poder imaginar como essa transformação afetaria o tráfico, a economia e as relações sociais lança novos desafios para os personagens", completa o diretor.
Enquanto o dedicado Biriba "faz o corre" para garantir a única renda que sustenta a mãe, a irmã e as sobrinhas, Salim vê a mudança como uma oportunidade para se fortalecer e comandar a lojinha - o ponto onde se vendem os entorpecentes. "Todo mundo é pego por essa transformação e, no início, Biriba não sabe como reagir", conta o protagonista Luis Navarro. O crime não vai deixar Biriba sair assim tranquilamente. "Ele percebe que, com os conhecimentos que possui, pode contribuir com a legalidade. Mesmo assim, há um pouco de medo e inexperiência, já que se trata de uma perspectiva inédita", completa o ator.
Com episódios que vão ao ar aos domingos e exibidos para 70 países, Pico da Neblina também quer deixar a marca de uma produção audiovisual tão brasileira quanto paulista. "A história tem as cores de São Paulo. Quando alguém da Turquia assistir, vai perceber que não se trata de uma série que poderia ter sido gravada em Chicago, por exemplo", define Quico.
O diretor adianta que, até o final do décimo episódio, não há qualquer promessa de um caminho de sorrisos para o protagonista. Navarro alerta que o público vai ver Biriba enfrentar algumas - muitas - dificuldades. Quico vai além. "Ele vai se dar bem até o fim da temporada. Posso dizer que apenas uma vez na série ele vai ter um momento feliz."
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