Mãe da menina de 11 anos que teve aborto legal impedido diz: 'Todos os dias eu chorava'
Em entrevista concedida para o 'Fantástico' a mulher relata as dificuldades durante o processo e no acompanhamento da filha que estava sendo mantida em um abrigo
A mãe da menina de 11 anos que teve o aborto legal negado, após ser vítima de violência sexual, concedeu uma entrevista para o “Fantástico”, da TV Globo, onde falou sobre os momentos que passou durante o caso, dentro do tribunal e na relação com a filha que ficou mais de 40 dias em um abrigo, longe da família.
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A repórter Renata Capucci conversou com a mulher que teve o rosto borrado e a voz distorcida para proteção de sua identidade. O programa que foi exibido no domingo (26) contém relatos da mãe da criança que protagonizou o debate sobre o aborto legal no Brasil, após ter sido impedida diversas vezes de realizar um aborto legal, até a última quarta-feira (22), quando finalmente pôde realizar o procedimento.
A mãe da menina falou sobre os momentos no tribunal, que relata terem sido muito difíceis: “Eu me sentia um nada, porque eu não podia tomar uma decisão pela vida da minha filha [...] pela ida dela pra casa. Então, pra mim foi muito difícil. Chorei, me desesperei, gritei dentro do fórum. Até chama de desequilibrada eu fui. Porque era um ser acima de mim, né? Uma lei acima de mim”. Ela também conta que não foi ouvida em nenhuma das instâncias em que o caso foi levado.
Além disso, a mulher relata que os dias em que a filha estava no abrigo foi um dos momentos mais difíceis da sua vida. “Todos os dias eu chorava. Quando eu ia visitar ela, ela sempre chorava e pedia para ir pra casa. Isso foi uma das partes mais difíceis, na hora de ir embora, eu ter que deixar ela e eu não poder ter um controle sobre a vida da minha filha. Ela pedia pra mim: ‘mãe, eu quero ir pra casa’. E eu ter que falar pra ela: ‘filha, agora a mãe não pode fazer nada’. Isso doía muito”, disse.
Mulher pede para que filha não fique no abrigo
Um vídeo do momento da audiência mostra a mãe pedindo para que a filha pudesse ficar em casa: “Doutora, independente do que a senhora decidir, porque eu sei que é a senhora quem vai decidir. Eu só queria fazer um último pedido: deixa minha filha dentro de casa comigo. Se ela tiver que passar um mês, dois meses, três meses, não sei quanto tempo com essa criança, deixa eu cuidar dela?”.
Mesmo contrariada sobre a decisão de manter a gravidez da filha, a mulher aceita a gravidez, contanto que a filha fique sob seus cuidados: “Se a senhora quiser que eu acompanhe ela, que fique mais tempo com o bebê na barriga dela. Eu aceito isso. Porque ela não tem noção do que ela está passando. Vocês fazem esse monte de pergunta, mas ela nem sabe o que responder”.
Entenda o caso
Uma menina de 11 anos, vítima de estupro, foi mantida em um abrigo, por determinação de uma juíza de Santa Catarina, para que seguisse com a gravidez, consequência da violência sofrida. A decisão, que foi tomada pela juíza Joana Ribeiro Zimmer, foi justificada pela própria pelo risco de que a mãe efetuasse “algum procedimento para operar a morte do bebê”.
Após reportagem do portal Intercept, o caso se tornou conhecido no Brasil todo, e a pressão popular levou diversas instituições a participarem ativamente no caso da menina, que teve o direito ao aborto concedido no dia 22 de junho, quarta-feira.
(Estagiário Gabriel Mansur, sob supervisão do editor executivo de OLiberal.com, Carlos Fellip)