Técnicos de espetáculos contam sobre a volta ao trabalho após a pandemia
O mercado de Belém voltou a aquecer para alguns desses profissionais, mas ainda há situações de falta de trabalho e de falta de trabalhadores em alguns ramos de atividade.
Eles são fundamentais para que os espetáculos aconteçam, mas não costumam ser vistos. Por trás dos artistas existe uma gama de profissionais, técnicos de som, de iluminação, maquiadores, roadies, carregadores de equipamentos, cabeleireiros, figurinistas, motoristas e outros. Enquanto os artistas tentaram se adaptar à suspensão repentina dos eventos culturais, passando a realizar lives, muitos desses técnicos não tiveram para onde correr e passaram a contar com a solidariedade para sobreviver.
O roadie Reginaldo Santos Conceição, de 58 anos, tem 38 anos de profissão. Habituado a trabalhar com artistas, ele coleciona muitas histórias: “Já fui um Ravena (Mosaico de Ravena), já fiz Chico César, Flávio Venturini, Ceumar... um monte de gente... até a Gal Costa. Eu conduzi a Gal até o palco com a minha lanterna, num show em Belém, em 2019. Brinquei com ela que guardava a capa do disco azul debaixo do travesseiro para sonhar com ela (LP Gal Costa Canta Tom Jobim, de 1999). Ela riu. Eu pedi para ela cantar uma música do Tom pra mim, ela perguntar ‘qual?’, eu respondi ‘qualquer uma’ e ela cantou pra mim”, recorda.
A função do roadie é carregar e montar e afinar instrumentos, ajustar microfone e realizar tarefas de apoio no palco. Reginaldo não possui outra fonte de renda. “Vivo da música”, afirma. E durante a pandemia ele enfrentou mais uma dificuldade particular, pois cuidou da mãe da filha dele que estava doente de câncer e faleceu. “Fiquei zerado (sem dinheiro), vivendo praticamente de doações. Os amigos da música me ajudaram, como Alba Mariah, Nilson Chaves, Lucinnha Bastos e Marhco Monteiro, alguns músicos de fora de Belém também me ajudaram. Foi um momento difícil”, recorda.
Apesar da pandemia ter acabado, ele afirma que as oportunidades de trabalho ainda não voltaram ao normal. “Em 2019, a cultura paraense já tinha dado uma caída. Voltei a fazer alguns trabalhos, mas ainda não melhorou. Os grandes projetos ainda não aconteceram. A minha agenda não é mais como antigamente, já fiz 25 shows por mês, hoje faço dois ou três por mês”.
Solidariedade
A técnica de iluminação Natasha Leite conta que não ficou sem renda porque tem emprego fixo em um teatro, mas a estabilidade não é uma realidade comum nesse meio. “Muitos colegas perderam as condições de se sustentar durante um bom tempo. Mobilizei algumas iniciativas pra apoiar mulheres técnicas que se encontravam em estado de vulnerabilidade. Muitos colegas fizeram ações, protestos por garantia de direitos e fórum de debate sobre as necessidades emergenciais”, conta. Através do movimento “Mulheres na Técnica Pará” foi possível arrecadar dinheiro para ajudar dez profissionais a custearem despesas básicas. “Também fizemos algumas oficinas pra orientar na elaboração de projetos pra (edital) Aldir Blanc e, quando algumas aprovaram (projeto), chamamos pessoas da rede pra trabalhar na parte técnica. No fim de 2020, o cenário melhorou com as lives. (Hoje) está normalizando, com os eventos voltando, com projetos sendo aprovados. Tudo isso facilita nosso retorno”.
Já o técnico de som Raimundo Brandão, mais conhecido como ‘Brandão Mix’, relata outra situação. Ele disse que trabalhou bastante durante a pandemia fazendo lives. “Consegui trabalhar muito na pandemia, graças a Deus. Passei de 5 mil lives. Fui muito bem reconhecido, tenho área extensa de trabalho no áudio”, conta. Porém, hoje, o mercado está com carência de profissionais: “Já voltou ao normal (tem trabalho), porém muitos técnicos de som não voltaram, alguns morreram de Covid e outros mudaram de trabalho, o mercado ficou com poucos profissionais. As empresas locadoras de sonorização estão com falta de funcionários especializados. Belém tem falta grande de mão de obra e após a pandemia ficou mais difícil ainda”.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA