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Quem vê close não vê "corre" dos trabalhadores da arte

Nesta data que marca o dia do trabalhador, vamos saber um pouco mais sobre os bastidores e vida de artistas que vivem da arte de forma independente

Bruna Lima

Caro leitor, você que clica neste portal, e, principalmente na área de Cultura, deve ter vários motivos para se interessar pelos assuntos de arte e entretenimento. Pode ser o interesse por programação, por novidades e até mesmo por querer consumir mais sobre a vida de artistas.Neste dia do trabalhador, já parou para pensar que os artistas trabalham para promover diversão e entretenimento?

Nesta data que marca o dia do trabalhador, vamos saber um pouco mais sobre os bastidores e sobre a vida de artistas que vivem da arte de forma independente, que assim como em diversos ramos do trabalho sofrem com o acúmulo de funções. Na música, por exemplo, é comum o artista cantar, compor, gravar, produzir, pensar nas estratégias de redes sociais, divulgar entre outros serviços para fazer com que seu trabalho gire e ganhe o público. Além disso, o trabalho não começa quando as luzes se acendem no palco. É bem anterior: é preciso definor repertório, ensaiar, no dia show ir passar som, deixar tudo afinado para então se apresentar para o público.

E todo esse "corre", como eles costumam falar, tem um quê de lei da sobrevivência, pois enquanto nos trabalhos ditos formais esse acúmulo é proibido, na realidade da arte independente é a rotina comum dos artistas. É o exemplo do cantor e músico Gabriel Dietrich. Você que costuma ir à Praça da República, aos domingos, já deve ter visto o Gabriel, na calçada da praça, esquina da Presidente Vargas com a rua Oswaldo Cruz, cantando e tocando ao lado do parceiro de trabalho.

A iniciativa do músico é mais uma forma de encontrar um meio de arrecadar dinheiro para sobreviver, pois paralelo a esse "gig", que na linguagem dos artistas é um trabalho de "bico", Gabriel tem sua banda autoral "Raízes Latinas", e ainda atua em outras atividades.

"Desde a pandemia, tive que me readaptar. Antes disso, estava vivendo exclusivamente de música, mas desde então tive que voltar para outras atividades. Voltei a trabalhar com produção audiovisual (operação de câmera, roteiro, direção de cinema, direção de fotografia, produção, foto still...) e comecei também a trabalhar com produção cultural, escrevendo e realizando projetos. Também faço assessoria de imprensa para os trabalhos que desenvolvo, vez ou outra trabalho como garçom, e estou começando a estudar luthieria. Tem que se virar", diz o artista.

Diante de toda essa rotina agitada que se assemelha a maioria dos brasileiros, o artista, em muitas situações, é desrespeitado e sofre preconceitos por não ter um modelo de trabalho convencional. 

"Existe esse estereótipo do músico vagabundo que 'vive de farra'. As pessoas olham o músico no palco e acham que o trabalho é só aquele, que é uma vida de glamour, mas não enxergam todo o trabalho que existe até chegar no palco. Já passei por uma ou outra situação assim, tenho certeza que a maioria dos músicos, principalmente aqueles que tocam na noite, já passou por isso. Infelizmente, nossa sociedade é carregada de preconceitos e a arte é muitas vezes marginalizada, por não se tratar de um trabalho 'comum'", destaca o artista.

Mesmo com todas as dificuldades, para Gabriel, Belém ainda é um local que agrega e gera oportunidades para músicos. Como curitibano, sempre esteve envolvido com a arte, mas só quando chegou em Belém que passou a trabalhar exclusivamente dela. 

"Ser músico 'da noite' em Curitiba é mais difícil, pois é uma cidade mais pacata, não tão movimentada como aqui. Lá existem muitos músicos, muitas escolas de música, um maravilhoso conservatório de MPB, mas poucas pessoas vivem exclusivamente de música, se comparado a Belém. Aqui o mercado é muito maior, muito mais músicos, música ao vivo em muitos lugares. Por exemplo, quando eu soube que aqui rolava música ao vivo no lava-jato, na conveniência do posto de gasolina, não acreditei. Acho que aqui já é culturalmente mais comum viver de música", acrescenta.

'A arte salva, mas quando não é valorizada ela afunda', diz Cacau Sinimbu

A artista do gênero do Pagode paraense diz que ser trabalhadora da arte é um desafio diário e cheio de surpresas. Ela começa a rotina do trabalho na noite na quarta ou na quinta, mas nos dias anteriores está fazendo o trabalho administrativo para poder chegar ao palco.


“A nossa vida é de muito movimento que, quando desaceleramos com os shows, o corpo ainda segue elétrico. É uma profissão que ativa a adrenalina e que precisamos ter o controle disso tudo”, pontua Cacau. Mas a dificuldade maior é quando ela vê que as pessoas não enxergam a profissão de forma séria.

“Quando eu envio os orçamentos e as pessoas reclamam do valor e justificam que vai ter bebida e comida, eu mostro que nós somos trabalhadores como outro de qualquer profissão, que temos boletos para pagar, que fazemos investimentos em equipamentos, de figurino e entre outros investimentos que influenciam para a nossa apresentação”, reforça a artista.

Ela faz questão de lembrar que a pandemia trouxe muitas tristezas e inseguranças para os artistas de todos os gêneros, mas que, ao mesmo tempo, foi a arte que acalmou e trouxe um mínimo de alegria às pessoas e que ainda assim, muitos consumidores da arte, ainda não se sensibilizam com a importância dela para a vida.

“Arte é vida, é alegria, entre outros sinônimos. Seria maravilhoso que todo artista tivesse a oportunidade de viver de forma digna da sua própria arte. Eu consigo viver da minha, mas essa não é a realidade de todos. E sabemos que tem pessoas com grande potencial, mas que não são valorizadas”, reflete a artista. 

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