Poeta paraense Juraci Siqueira é patrimônio cultural vivo
O autor recebeu a honraria pela Faculdade de Letras da UFPA, pelo conjunto de sua obra
Com mais de 80 obras publicadas de maneira independente, por editoras, ou por meio de prêmios, Antônio Juraci Siqueira, de 81 anos, um dos mais conhecidos escritores populares paraenses se divide entre as aulas de filosofia em 16 salas de aula na rede pública de ensino e a criação de novas obras. A vida corrida entre as aulas de Filosofia para estudantes do ensino médio e os afazeres diários diminuíram o tempo dedicado a literatura. O autor voltado principalmente para o público infanto-juvenil reduziu a velocidade de produção de novas obras devido ao trabalho.
“A sala de aula é trabalhosa. Já tive 22 turmas, agora estou com 16. Imagina elaborar trabalhos e provas para todo mundo. O tempo é muito exíguo. A sala de aula é sempre desgastante. Eu escrevo quando posso, mas é como digo não existe falta de tempo, existe falta de atitude. Escrevo no ônibus, se faz de qualquer maneira”, afirma Juraci um pouco depois de participar na manhã de ontem de protesto para pedir conclusão das obras do Colégio Estadual Paes de Carvalho, um dos locais em que leciona. Alunos e professores abraçaram o colégio para tentar sensibilizar o poder público.
No final deste ano, após a obra de Juraci Siqueira ser objeto de uma pesquisa, ele se tornou patrimônio cultural vivo da Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Pará (UFPA), pelo conjunto da obra. A honraria foi concedida pela professora Vânia Alvarez. “Isso me alegra muito. Todas as homenagens, que recebemos em vida, se referem e imortalizam a obra, qualquer tipo de homenagem a obra do autor é motivo de muita alegria e muita honra”, revela.
O escritor já teve livros publicados por meio de prêmios da Fundação Nacional de Arte (FUNARTE) e Instituto de Artes do Pará (IAP). Um dos últimos é “Aumentei, mas não menti” publicado em 2017 pela editora Paulinas. A obra teve até uma recomendação do premiado escritor paraense Daniel Munduruku. No livro Juraci conta o mito da criação dos rios (da Ilha do Marajó) e o mito da criação da noite (dos povos Tupi) bastante difundidos pela literatura oral e escrita. A versão tem com composição em sextilhas septissilábicas no esquema de rimas xaxaxa, valorizam a tradição indígena e a cultura brasileira.
“O diferencial é que ele trabalha de forma poética seguindo a linha do cordel. Isso foi o que me chamou muito a atenção no livro. Um cordel bem contado, e bem trabalho, em quem lê gera uma sensação de entrar na história. É isso que o Antônio Juraci faz”, elogiou no canal do YouTube Daniel Munduruku.
Outro livro conhecido do autor são “Chapéu de Boto” lançado em 2003 com o maior número de edições e versões. A publicação em cordel teve uma versão bilíngue franco-brasileira, foi lançado em revista em quadrinhos, e também pelo edital do Mais Cultura do Ministério da Cultura (MINC). Já a obra com a maior tiragem foi “Paca, Tatu, Cutia não!” com dez mil exemplares editados para servirem de livro paradidático nas salas de aula.
Com dificuldades de entrada em editoras nacionais, a principal forma de chegada das obras para o público ainda é o incentivo dos professores. “É difícil fazer este conhecimento a nível nacional. A obra chega aos jovens pelos professores que nos levam para a sala de aula. A escola ajuda neste sentido, trabalham nossas obras em sala de aula”, declara. Para o próximo ano Juraci prepara um livro de contos que poderá ser publicado na Feira Pan-Amazônica do Livro.
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