Paulo Betti revela paixão pela arte cênica em 'Autobiografia Autorizada'

Peça e livro contam a trajetória desse artista com personagens marcantes no teatro, na televisão e no cinema

Eduardo Rocha
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“Não tem nada que se compare ao teatro”. Com essa colocação, o ator Paulo Betti, aos 72 anos, reafirma a sua relação umbilical com as artes cênicas em meio século de carreira. Para marcar esse momento, Betti apresenta a peça “Autobiografia Autorizada” e acaba de lançar livro homônimo em que, seguindo os passos de personagens por ele encenados no teatro, na televisão e no cinema, resolve contar histórias da sua própria trajetória como artista e cidadão.

Paulo Betti está comemorando 50 anos de carreira, contando a partir da data em que ele saiu da Escola de Arte Dramática em 1975. Porém, mais precisamente, ele mexe com arte desde os 16 anos. Ele tem agora 72 anos, nascido em 1952, em Rafard, no interior do estado de São Paulo. Aos 3 anos, foi para Sorocaba (SP), onde viveu até os 20 anos, e, depois, foi para a Escola de Teatro da Universidade de São Paulo, onde se formou na EAD USP (Escola de Arte Dramática).

Betti não sabe ao certo quantas peças, novelas e filmes já fez. Mas, ele estima ter atuado em 20 peças, 30 novelas e 30 filmes. Em novelas, Paulo Betti interpretou personagens marcantes para o público, como o Timóteo, de “Tieta”, que reestreia agora em “Vale a Pena Ver de Novo”, na Rede Globo, e Marcão, de “Vereda Tropica”. Outro personagem inesquecível é o Téo Pereira, na novela “Império”.

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No teatro, Betti brilhou em “Deus da Carnificina” e também se destaca em “Autobiografia Autorizada”, bem como se notabilizou em “Carreira do Divino”. Ele dirigiu “Feliz Ano Velho”. Paulo conquistou dois prêmios Molière de teatro, com “Na Carreira do Divino” e “Feliz Ano Velho”. Já no cinema, os papeis mais marcantes foram Lamarca e o Barão de Mauá.

Anotando a vida

‘Eu tive a ideia de escrever a ‘Autobiografia Autorizada’ porque eu queria um monólogo, para poder viajar, e estou há dez anos na estrada com essa peça’. Ela surgiu das anotações que eu faço, que eu fiz a vida toda, sobre as coisas que aconteceram comigo, eu sou um anotador, eu adoro fazer anotações. Então, eu fui ver que esse monólogo já estava escrito nas anotações que eu fiz a vida toda. Eu estou neste momento lançando o livro em livrarias pelo Brasil”, destaca.

Betti relata que colocou esse título na peça e no livro porque acaba sendo engraçado pelo fato de ter sido autorizado por ele mesmo, ou seja, somente contando as coisas que ele próprio se autoriza a contar. E também tem o fato de ser uma autobiografia ‘autorisada’ (no sentido de risada), que tenha comédia, e existe ainda, como o ator lembra, um livro do saudoso comediante Jô Soares com um título semelhante. No caso, “O Livro de Jô - Uma Autobiografia Desautorizada”.

No livro de Betti, o público encontra a peça que ele apresenta no teatro, aumentada com muitas outras histórias que o ator mostrou no espetáculo, mas depois cortou e outras absolutamente inéditas. “O que se pode esperar é 50% de humor, 25% de drama e 25% de comédia”, diz.

Desde garoto, como ele mesmo revela, Betti “tinha essa coisa do teatro, da imaginação, da representação muito forte”. O lugar em que ele foi criado, como diz, “era muito mágico, era praticamente um quilombo, então, as festas, a dramaticidade também da minha mãe que era uma pessoa muito dramática, minha avó contava muitas histórias italianas, de terror”.

“Minha mãe era benzedeira, sempre tinha muita teatralidade em tudo o que eu via, e, fora isso, eu fui coroinha. Eu lia os textos da Bíblia com o maior capricho, ali já estava nascendo o ator, não é? Depois, em Sorocaba, tinha um grande movimento de teatro amador, também, onde eu pude ver peças incríveis, como Shakespeare e outros grandes autores, como Ariano Suassuna. Então, tudo foi sendo naturalmente construído, e quando eu vi já não tinha como estar em outra profissão”.

Para Paulo Betti, “ser ator é uma espécie de sina, destino, é uma coisa que você meio que não escolhe, parece que vai se apropriando de você”. “E eu gosto muito de ser ator. Eu sempre digo que é uma felicidade ser ator porque, veja bem, até os 72 anos que eu tenho hoje eu trabalho e eu posso trabalhar. Imagina um jogador de futebol aos 72 anos. Não vai jogar mais nada, não pode jogar mais. Então, ainda continuo tendo muito prazer com a minha profissão, mesmo agora depois de velho”, completa.

Ele pontua que o fundamental para ser ator é ser observador das coisas e das pessoas, “decifrar o outro, de uma certa maneira” para depois interpretá-lo. Betti diz que os atores no Brasil estão sempre encarando desafios em um país que não tem muito apreço pela arte, pela cultura. “Estamos sempre ameaçados da extinção do que protege nossas leis, e também um certo ódio disseminado por quem tem medo da arte, da cultura, do ator, porque nós somos fortes, né? Nós somos fortes porque nós temos voz, porque nós aparecemos, nós esclarecemos, interpretamos e tudo o que as pessoas não querem é isso, eles querem que as pessoas fiquem sem serem balançadas, sem serem estimuladas a pensar, a se aprofundar nas questões”.

Por ser uma história contada na frente do público por pessoas de carne e osso como o espectador, o teatro é, para Betti, uma experiência fundamental que transcende, “de uma poesia, de uma força incomparável”. Paulo Betti é envolvido com a política no Brasil há muito tempo. Ele acompanha o Partido dos Trabalhadores desde 1979 e se orgulha disso. Conta que nas últimas eleições municipais fez 400 chamadas de vídeo dirigindo-se a população de cidades diversas falando sobre propostas de candidatos progressistas.

Paulo Betti tem viajado pelo Brasil com a peça “Autobiografia Autorizada”, lança o livro homônimo pela editora Geração e atuando na peça “Os Mambembes” que apresenta pelo Brasil afora tendo um ônibus como cenário, com outros atores e atrizes brasileiros.

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