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Arrastões 2024: Participação popular mantém viva a tradição do Arraial do Pavulagem em Belém

A festa que mistura os costumes juninos com o cortejo do Boi Pavulagem atravessa gerações e arrasta milhares pela avenida

Bruno Menezes | Especial para O Liberal

Toda vez que chega o mês de junho o clima em Belém fica diferente. E não se trata apenas de uma mudança climática, mas sim, de um novo espírito que toma conta da população, uma energia alegre e contagiante, que é expressada na multidão arrastada pelo Arraial do Pavulagem.

A festa, que já acontece há 36 anos, se tornou uma tradição popular e uma das maiores manifestações culturais de rua na cidade, trazendo em sua identidade a mistura dos costumes juninos com o cortejo do boi Pavulagem e o jeito único do paraense de fazer brincar na avenida.

“É uma emoção indescritível, eu acho que desde manhã cedinho quando você acorda, você já vem preparado pra toda essa energia boa que a galera vai te passar na rua, parece que as pessoas te abraçam com o sorriso e isso é inexplicável. Depois de 7 anos fiz amigos que são como irmãos conheci meu atual namorado, as minhas histórias de amor estão todas envolvidas no arraial do Pavulagem”, explica.

O trabalho de preparação dos pernaltas começa um mês antes da festa começar e envolve oficinas de treinamento em que são ensinadas as técnicas para se dançar sobre as pernas de pau. Bruno Lins é um dos instrutores desta arte e explica que diversos conceitos envolvem este aprendizado.

“O meu trabalho é ensinar a andar na perna de pau dentro do contexto do arraial. Temos uma identidade muito específica, em que a perna de pau ganha uma utilidade no universo do boi-bumbá, o Boi Pavulagem, então eles aprendem essa movimentação, a dançar e a fazer essa maquiagem, que expressa a identidade do arraial”, comenta.

Para quem nunca participou, o Arrastão do Pavulagem pode se assemelhar a um bloco de carnaval, com alas separadas que realizam apresentações durante todo o cortejo. Mas no lugar do samba-enredo, aqui o ritmo é ditado pelo som da maraca, dos tambores e demais instrumentos que embalam os brincantes com músicas juninas e canções regionais do gênero carimbó.

Os estandartes são uma marca cultural deste cortejo, e trazem importantes santos da tradição junina, entre eles Santo Antônio, São João e São Pedro. Elizete Rosa, de 77 anos, é uma das responsáveis por comandar estes símbolos na avenida, uma paixão que ela mantém viva há décadas.

Mesmo diante de um calor intenso, a idosa não perde a animação e se mantém ansiosa para desfilar pelo cortejo com sua roupa colorida e seus enfeites, que ela mesmo cria.

“Eu estava lá no comecinho de tudo, antes do arraial se tornar instituto e iniciei na dança. Depois de muitos anos dançando, as pernas não aguentaram mais, então vim para o estandarte e continuo muito feliz aqui. Esse momento do arrastão é o melhor momento da minha vida, é como se eu estivesse ficando mais jovem, apesar de eu ter quase 80....ainda hoje eu tento buscar as pessoas pra vir pra essa festa, pra que ela não se perca, porque não podemos ficar sem essa cultura”, ressalta Elizete, sem sair de perto de seus estandartes.

O poeta Juraci Siqueira, escritor de mais de 80 obras publicadas, também é um veterano dos festejos do Arraial do Pavulagem. Vestido a caráter e utilizando um cajado cravejado de poesias e assinaturas de amigos, o paraense celebra o cortejo com uma alegria contagiante e ainda com disposição para entregar poesias para quem cruza o seu caminho.


"Antes de começar o Arrastão tinha a banda chamada 'Boi Pavulagem do teu coração', ainda tinha esse nome, eles faziam apresentações e sempre me chamavam para fazer abertura dos eventos com poesias. Depois de 36 anos, a emoção continua a mesma. Muda o cenário, as pessoas, mas o sentimento é o mesmo, e eu digo isso nas poesias", comenta o escritor.

Economia da cultura

A festa do Arraial do Pavulagem não é feita apenas dos participantes do arrastão. Muito do universo desta manifestação cultural passa também pelo comércio local, que fica aquecido com as milhares de pessoas encantadas pelo evento. A venda de produtos característicos desta festa movimenta a economia de muitas famílias, que veem no Boi Pavulagem não só um cortejo,

Silvia Valente trabalha na venda dos chapéus de palha, um item indispensável no evento e que ganha uma identidade própria através de pinturas, fitas e bandeiras decorativas. A atividade ajuda a compor a renda familiar e começa antes no nascer do sol.

“Eu acordo 5 horas, venho pra cá umas 6h, 6h30, como ta ainda começando, não tem quase ninguém, a praça fica só os vendedores. Eu faço a decoração dos chapéus, com panos, tecidos, glitter, tudo pra ficar bem colorido. Eu fico muito feliz quando os clientes elogiam, falam que ta lindo o meu chapéu, fico emocionada, porque vale a pena, e a cada elogio a gente quer fazer ainda melhor o próximo chapéu”, comenta a vendedora enquanto negocia os seus produtos antes do arrastão entrar na avenida.

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