Pará celebra 120 anos de Waldemar Henrique e 147 anos do Theatro da Paz neste sábado (15)
Maestro e Theatro estão umbilicalmente ligados na história e cultura paraenses e ganham homenagens no dia do aniversário de ambos, 15 de fevereiro
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O maestro Waldemar Henrique da Costa Pereira completaria, neste sábado (15), 120 anos de idade. Ele nasceu em 15 de fevereiro de 1905 e faleceu em 29 de março de 1995. O Theatro da Paz foi inaugurado em 15 de fevereiro de 1878. Portanto, também neste sábado (15), aniversaria, completando 147 anos de história, no momento em que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) acaba de oficializar a candidatura desse espaço para integrar a Lista de Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Esses dois aniversariantes serão lembrados por tudo o que representam para a identidade amazônica dos paraenses.
Waldemar Henrique é autor de composições que traduzem o real e o imaginário, a cultura e a história da Amazônia: “Uirapuru”, “Foi Boto, Sinhá”, “Abaluaê”, Tamba-tajá” e “Boi Bumbá”, entre tantas outras composições. Essa produção musical reconhecida internacionalmente tem suas raízes no jeito de viver, de ver o mundo do maestro. E quem conhece muito sobre a vida desse artista é o pesquisador, membro da Academia Paraense de Letras (APL) e biógrafo de Waldemar Henrique, Sebastião Godinho.
Godinho conta que conheceu o maestro em 1976, quando o pesquisador era bem jovem e sonhava em ser um artista plástico e foi procurar Waldemar Henrique na Direção do Theatro da Paz, na esperança de que ele pudesse liberar a Galeria Angelus, no próprio teatro, para o rapaz expor os seus trabalhos. Waldemar o recebeu muito bem, e não somente liberou a galeria como também comprou um quadro do jovem pintor. “A partir daí, nós ficamos amigos, e ele me convidou para trabalhar no Theatro da Paz”, diz o pesquisador.
Um homem simples
“O maestro era um homem simples, bem simples, que tinha hábitos normais, simples. Ele acordava de manhã, e ele mesmo fazia o chazinho dele, servia a mesa, tomava o café, e, depois, eu subia no apartamento dele levando os jornais do dia. Na época, eram três jornais em Belém: O Liberal, Diário do Pará e A Província do Pará. E ele assinava os três. Ele sentava na cadeira de embalo dele predileta e eu lia as principais notícias . Ele sempre dizia assim para mim: ‘Quando você está lendo, eu me lembro de minha mãe. Minha mãe dizia ‘Waldemar, leia o jornal para mim, me diga quem morreu’. Ele falava essa coisa em tom de gracejo”, conta Godinho. Em seguida, os dois amigos ficavam conversando ou o maestro ia colocar as correspondências em dia.
O maestro tinha um paladar bem paraense. “Ele almoçava, tomava uma cuia de açaí com farinha de tapioca, isso era indispensável, e ele se estirava na rede e dormia a sesta”, conta o amigo Godinho. Quando ia a uma reunião de instituições culturais em Belém, Waldemar Henrique se preparava com esmero, à tarde. Já à noite, gostava de conferir eventos culturais no Theatro da Paz.
Quando Sebastião Godinho conheceu Waldemar Henrique (então com 71 anos), o maestro não tinha mais uma linha de trabalho como compositor, somente compondo alguma música somente em casos especiais, como quando Maria Lúcia Godoy, grande cantora lírica, fez uma letra intitulada “Entretanto, eu canto”, e ele musicou. O maestro musicou uma letra feita pelo poeta João de Jesus Paes Loureiro especialmente para ele tornar canção. Essas foram as últimas composições que o maestro fez, como diz Godinho. Na época, Waldemar Henrique era cego do lado esquerdo e, do lado direito, como se fosse pelo buraco de uma fechadura, como dizia o próprio artista.
Amor por Belém
Waldemar Henrique adorava Belém, tinha paixão avassaladora pela cidade, pelas mangueiras, por caminhar pela avenida Presidente Vargas, as praças da República e Batista Campos. “Belém era a sua verdadeira paixão”, completa o biógrafo. Ele gostava de receber pessoas em casa, de vez em quando, com quem compartilhava suas experiências ao longo da vida. Entretanto, Waldemar dormia cedo, por volta das 22h. “O maestro era um homem muito feliz. Ele tinha a deficiência visual, mas nunca perdeu o entusiasmo, o otimismo, a alegria de viver. Era um homem que adorava viver, adorava a viva, amava as pessoas.
A literatura era apreciada por Waldemar Henrique, que leu muito quando jovem. Gostava dos clássicos, em especial, de poesia, da poesia dos poetas portugueses como José Régio, Fernando Pessoa, António Botto. Gostava de Manoel Bandeira, aqui, no Brasil, e outros grandes poetas. Tinha predileção pelo poema “Menino de sua Mãe, de Fernando Pessoa, como relata Godinho.
Quando jovem, o maestro Waldemar Henrique pertenceu ao Grupo do Remo que deu origem ao Clube do Remo. “Ele foi remador do Grupo do Remo, disputava regatas na Baía do Guajará, de modo que ele tinha um carinho muito grande pelo Clube do Remo. Até porque o Antônio Tavernard, amigo dele e de quem ele musicou alguns poemas, foi o autor do Hino do Clube do Remo”, conta Godinho. O maestro comentava sobre a feliz coincidência de ter nascido em 15 de fevereiro (de 1905), mesmo dia e mês da inauguração do Theatro da Paz (1878), que ele dirigiu e até morou nesse espaço, em uma relação até mística entre ele e o teatro, como diz o amigo biógrafo.
Theatro da Paz: concerto e melhorias saúdam 147 anos
Contemplar o Theatro da Paz em imagens no celular, em estampas de camisas, fotos de livros e revistas e em quadros eleva a autoestima de quem é paraense. Entretanto, melhor ainda é poder apreciar a beleza histórica e cultural desse ícone do estado do Pará e da Amazônia na Rua da Paz, na Praça da República, no centro de Belém. Por isso, neste sábado (15), quando esse espaço completa 147 anos de história, após ter sido inaugurado em 15 de fevereiro de 1878, o público vai poder conferir um concerto inédito com sonoridades diversas, organizado pela Secretaria de Estado de Cultura (Secult): a Amazônia Jazz Band (AJB) e a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (OSTP) se apresentarão às 20h, com as participações especiais das cantoras Gigi Furtado, Andréa Pinheiro e Lucinnha Bastos. Além desse concerto, a comemoração inclui gratuidade para as visitas guiadas ao Theatro até o dia 23 deste mês.
Considerado um dos Teatros-Monumentos do Brasil, o Theatro da Paz foi fundado em 15 de fevereiro de 1878. Mesmo tendo passado por uma série de reformas ao longo dos anos, ainda mantém diversos elementos originais. A acústica perfeita, os lustres de cristal, o piso de madeiras nobres e os elementos decorativos revestidos com folhas de ouro são alguns dos detalhes que fazem do Theatro um espaço grandioso.
Melhorias
Em janeiro último e no começo de fevereiro, o Theatro passou por reformas que incluíram a substituição de tacos danificados, o nivelamento do piso, a instalação de chapas metálicas na calha e outras melhorias. Desde 2020, o espaço já passou por três obras que, além de garantir a manutenção adequada, também readequaram o local para incluir novas áreas, como duas salas com tratamento acústico voltadas para os ensaios dos corpos artísticos.
“Nós estamos muito felizes em comemorar os 147 anos do Theatro dessa forma, entregando mais uma obra e reunindo os nossos corpos artísticos no mesmo palco. Este concerto é um presente ao público que acompanha fielmente a Amazônia Jazz Band e a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, que movimentam e abraçam o nosso Theatro”, afirma a secretária de Estado de Cultura, Ursula Vidal.
Trajetória
Em 2024, a OSTP e a AJB realizaram mais de 40 apresentações para um público de cerca de 20 mil pessoas. Além do Theatro, as apresentações também ocorreram nas Usinas da Paz da Região Metropolitana de Belém, por meio do projeto Sons da Paz. Outro projeto que também levou a OSTP e a AJB para fora dos muros da Theatro foi o Sons de Acolhimento, que ocorre em hospitais da capital.
O regente da noite será o maestro Miguel Campos Neto. Ele recorda que há 30 anos, a AJB e a OSTP chegaram a tocar uma música juntas. À época, ele como violinista. “A orquestra estava nascendo, a AJB existia há pouco tempo, estava se oficializando ali também, e fui testemunha daquele momento histórico, quando se criaram esses dois corpos que são orgulho para o estado do Pará. Ter participado daquela ocasião e poder estar presente agora, 30 anos mais tarde, como regente desse concerto, outro momento histórico, é uma grande honra, uma emoção muito grande”, conta Campos Neto.
“O Theatro da Paz é uma joia do Pará e é a casa do povo paraense. Por isso, nós estamos muito felizes em comemorar mais um aniversário de portas abertas. Para quem ainda não conhece, venha ao Theatro, participe de uma visita guiada com uma equipe maravilhosa, que leva os visitantes a todos os aposentos, explicando os detalhes históricos. E, nestes dias, a visita será gratuita”, destaca o diretor do Theatro, Edyr Augusto Proença.
Serviço
147 anos do Theatro da Paz
Visitas guiadas: de terça a sexta-feira, das 9h às 17h; sábado e domingo, das 9h às 12h. As visitas serão gratuitas até o dia 23 de fevereiro.
Concerto Jazz Sinfônico: AJB e OSTP juntas
• Data: 15/02/2025
• Horário: 20h
• Ingressos: R$ 2, disponíveis somente no dia do concerto, no site ticketfacil.com.br ou na bilheteria do Theatro, a partir das 9h.
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