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Odair José sobe aos palcos do Psica saudado pela nova geração

Compositor de clássicos da música brasileira revela que continua produzindo novos trabalhos

Vito Gemaque

O compositor, cantor e músico Odair José, conhecido por grandes sucessos da música brasileira, será saudado por um público de uma nova geração no Festival Psica. Muito identificado com o repertório romântico, Odair José tem se mostrado relevante para os jovens alternativos do Brasil. Com 75 anos e 53 anos de carreira musical, o artista tem sido uma atração constante nos festivais de música independente pelo Brasil afora. Em Belém, ele subirá ao palco junto com os parceiros do Azymuth às 19h10, neste sábado (16), no palco Rio Voador do Psica 2023.

“Minha relação com Belém é antiga. Estou gravando música há 53 anos. Desde o primeiro disco, quando fiz sucesso em todo o Brasil, estive muitas vezes em Belém. Tive algumas canções que estouraram por aí. O Brasil é muito grande. Determinada música estourava em uma região, e outra em outra. Sempre tive uma identificação com o público de Belém”, destacou o cantor de fala mansa e gentil.

O compositor de sucessos como “Pare de Tomar a Pílula” e “Vou Tirar Você Desse Lugar” está feliz em retornar à capital paraense após alguns anos. Uma das últimas visitas de Odair a Belém foi justamente no Festival Psica em 2017. A pandemia, que parou os shows em todo o Brasil, também o afastou de Belém.

O sucesso com um público de uma nova geração que gosta e tem como referência o trabalho de Odair José é para o cantor a união de dois fatores. O primeiro é que o mundo pouco mudou, ou até regrediu, quando se trata de costumes e cultura. O outro é que suas composições sempre foram voltadas para os jovens.

“Eu tenho feito hoje o que fiz quando tinha muito sucesso na década de 70. Fazíamos sucesso para jovens. A gente vai para o palco, vamos tocar um disco especial. A gente toca discos de 50 anos atrás, e o jovem de hoje se identifica com eles. É sinal de que a música resistiu ao tempo. No caso de Belém, estou indo para lá com um dos maiores trios musicais, que gravaram a maior parte dos meus discos, que é o Azymuth”, explica.

Na capital paraense, ele apresentará um repertório especial do icônico álbum “Filho de José e Maria”, lançado em 1977, conhecido como o primeiro álbum de ópera-rock nacional. O álbum gerou uma série de polêmicas e problemas para Odair na década de 70. Das 18 músicas programadas para o álbum, oito foram censuradas pelo Regime Militar, e apenas 10 foram liberadas para gravação. Mesmo aquelas que foram gravadas não foram tocadas nas rádios na época, e houve uma campanha pública para evitar a contratação de Odair para shows.

“Filho de José e Maria” chegou a gerar uma ameaça de excomunhão da Igreja Católica, o que nunca se confirmou. É este álbum tão importante da música brasileira que Odair José trará para o show especial em Belém.

“Eu diria que, dos 37 discos gravados (porque já gravo há 53 anos), tive alguns não tão bons e outros muito importantes, que fizeram muito sucesso. O que fez de Odair José, um cara de hits que tocavam muito no rádio, depois do ‘Filho de José e Maria’, é um divisor de águas. Eu fiz o disco em 77, e é um pouco avançado para a época, até para agora, imagine para 77. Eu não existiria hoje sem esse disco, minha carreira não seria a mesma”, assegura.

Assim como em 1977, quando lançou o álbum sobre a história de um Jesus mais terreno, Odair avalia de maneira crítica a sociedade brasileira atual. Com suas músicas, Odair abre veredas para enfrentar tabus, preconceitos e conservadorismo na sociedade. Para ele, a sociedade avançou apenas tecnologicamente, mas mantém-se conservadora. “Esses últimos discos têm esses temas também. Acho que a sociedade continua enraizada naqueles preconceitos, naquelas teimosias, de conceitos de vida ultrapassados, continua sendo uma sociedade difícil”, atesta.

Uma das coisas que Odair nunca gostou é do título “brega” dado pela mídia durante o auge do sucesso. Um título que tentava diminuir suas composições por preconceito com a música popular. “Eu faço a música da empregada, sou o cantor da empregada, da classe operária. As empregadas domésticas no Brasil não eram reconhecidas como trabalhadoras até pouco tempo atrás”, afirma.

O último lançamento “Hibernar Na Casa das Moças” (2019) com canções características com letras sobre tabus como prostituição e sexo tem melodias de rock e blues. Atualmente, Odair está preparando um novo álbum. O 38º da carreira que será o segundo de uma trilogia que começou com “Hibernar Na Casa das Moças”.

“É uma produção que estamos fazendo a quatro mãos, em um home estúdio, eu e o Júnior Freitas. Demorou um pouco mais porque estamos tendo muito cuidado, não tem pressa. Esse disco está sendo preparado há dois anos, as canções estão prontas desde a pandemia. Eu acredito que mais uns seis meses para lançar”, adianta.

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