O Pará no radar do panorama da arte brasileira
Lise Lobato está entre os selecionados de mostra bienal realizada pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo
O Panorama da Arte Brasileira, exposição realizada de forma bienal pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), traz este ano uma artista paraense entre as selecionadas. Desta vez, a mostra tem “Sertão” como tema, e será aberta neste sábado (17). Sob a curadoria de Júlia Rebouças, o 36º Panorama fica em exposição até 15 de novembro.
Lise Lobato é a representante paraense entre os 29 nomes selecionados para a mostra, que reúne artistas de todo o Brasil em trabalhos que se relacionam com o conceito, entendendo a própria arte como “sertão” – em sua instância de experimentação e resistência –, contestando, portanto, o viés restritivamente geográfico facilmente associado à palavra.
Lise Lobato tem dois de seus trabalhos na mostra, dois desenhos da série “Peixes do Rio Arari”, feitos sob papel canson a lápis e óleo; e a instalação “As Facas de Meu Pai”, composta por 106 facas e bainhas. A instalação é um dos trabalhos de maior alcance da artista, e já foi exposto em cidades como São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro e Minas Gerais. Atualmente pertence ao Museu de Arte do Rio (MAR).
Para a artista, a obra segue sendo convidada por carregar uma força quanto sua representação, passível de diversas interpretações. “As Facas de Meu Pai” reúne os objetos do pai de Lisa, que era fazendeiro na Ilha do Marajó.
“Para um vaqueiro, uma faca é indispensável porque ele usa para tudo. Meu pai começou a construir as próprias facas, ele fazia os cabos com várias coisas, como restos de plástico, era um verdadeiro artista. Em um momento as pessoas também passaram a presentear ele com facas, e a coleção chegava a quase 200”, explica a artista.
A ideia de fazer a instalação então surgiu quando a artista lembrou da infância, quando tinha um contato maior com aqueles objetos. Ela explica que a linguagem utilizada é a da apropriação, quando o artista expõe de forma artística algo que já havia sido produzido. A instalação foi exposta pela primeira vez no Arte Pará, em Belém.
“Para mim começa numa relação afetiva lá atrás, mas depois do Arte Pará ela passa a ganhar o mundo, e já foi exposta em vários lugares. A minha relação com ela é afetiva, mas as outras pessoas podem ter outra interpretação. Tem gente que percebe agressiva, mas tem quem consegue reconhecer essa coisa afetiva”, diz Lise.
A necessidade de reelaborar a história brasileira, uma repactuação social, espiritualidade, identidade de gênero, lutas antirracistas e a relação com o meio ambiente são algumas das questões que aparecem nas instalações, fotografias, pinturas, vídeos, esculturas e projetos do Panorama.
Os artistas selecionados estão em início ou meio de carreira, com produções que apontam para territórios especulativos que dão sentido à ideia de sertão, além de artistas com trajetórias mais extensas, que apresentam obras que merecem ser revisitadas à luz dos debates propostos.
Agende-se:
36º Panorama da Arte Brasileira: Sertão
Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo (Parque Ibirapuera - Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - Portões 1 e 3)
Horários: Terça a domingo, das 10h às 17h30 (com permanência até as 18h)
Ingresso: R$ 7. Gratuidade aos sábados. Meia-entrada para estudantes e professores, mediante identificação.
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