Reiner lança nesta terça-feira álbum protesto "Breu"
Terceiro disco do artista tem cinco músicas que estarão presente nas plataformas digitais
O novo álbum de Reiner que chega às plataformas digitais hoje (30) traz consigo uma indagação sobre o papel da arte em tempos sombrios. “Breu” com cinco faixas mescla o trip hop às sonoridades brasileiras. No terceiro trabalho do paraense, a mensagem política histórica está presente como a alusão à escravidão da população negra africana, o genocídio da população afrobrasileira, e a situação alarmante do país com um governante autoritário. “Breu” é uma reflexão e um grito de desespero, angústia e ódio. O álbum foi contemplado no edital de Música da Lei Aldir Blanc Pará.
“A gente resolveu chamar de disco porque na verdade, ele conta uma história e a produção está em um nível absurdo. O fato de ter cinco faixas não torna um EP que é um trabalho menos acabado e sem um conceito bem definido”, explica Reiner. “Vendo as consequências que o governo trouxe para o Brasil, não vejo nenhuma perspectiva de melhora para os próximos cinco anos. Acredito que a grande sequela que esse governo deixou é a falta de vergonha das pessoas demonstrarem o seu lado mais cruel trajado de ideologia, então as marcas disso tudo serão gigantes para o nosso país”, complementa.
Apesar de “Breu” ter relação direta à atual crise política, econômica e sanitária que o Brasil enfrenta, o álbum é resultado de anos de estudo e processo criativo. Tem uma forte pesquisa estética de “trip hop”, gênero que nasce de colagens de outros ritmos na década de 80, mas ficou conhecido mundialmente pela sonoridade dos grupos ingleses “Portishead” e “Massive Attack” nos anos 90. A explicação para essa escolha é que todo o trabalho de Reiner foi construído em cima de batidas desaceleradas de rap, uma das marcas do gênero britânico. De outro lado, “Breu” drenou todos os sentimentos mais pesados de revolta da população afrobrasileira, resultado de centenas de anos de violência.
“O álbum significa a união musical de dois mundos completamente diferentes, o trip hop e a música afro-brasileira. É um disco rico musicalmente falando em ritmos e timbres que não são usuais na música comercial. Basicamente, é um disco experimental dentro das minhas referências que vão de Portishead à Baden Powell. No final das contas, é tudo música”, afirma Reiner.
“Breu” foi produzido e finalizou no Floresta Sonora por Léo Chermont (STROBO). O trabalho ainda traz participações de Junhão Feitosa na bateria, Márcio Jardim (Trio Manari) na percussão, Inesita (piano) e Rafael Guerreiro (violão), musicistas experientes e ídolos de Reiner, assim como o produtor do álbum, um dos guitarristas inspiração para o compositor. “A grande mudança nesse processo foi poder discutir ideias com outra pessoa muito mais experiente que eu. E o melhor, uma pessoa que eu admiro e respeito como profissional, o que me deu muito mais confiança pra cair de cabeça no trabalho”, conta, animado.
Outro nome importante para a construção da obra foi o poeta paraense Bruno de Menezes, que representa um herói negro para Reiner. O quarto livro “Batuque”, mais especificamente o poema “Mãe Preta”, permeia o lirismo abolicionista presente em “Breu”, na identidade visual do projeto e na foto de capa, que tem assinatura de Duda Santana e traz um busto do poeta em cera que, coincidentemente, foi produzido pelo pai da fotógrafa anos atrás. Esse jogo de conceitos, experimentações sonoras e escolhas estéticas faz do álbum um trabalho que inicia um novo passo na carreira do músico.
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