Mestre Damasceno traz a Belém o legítimo carimbó marajoara
Ele divulga festival que será realizado em Salvaterra no mês de julho
Marajoara, quilombola, fazedor de cultura afro-indígena e autor de mais de 400 composições. Mestre Damasceno Gregório dos Santos é arquivo vivo de tradição e cultura popular. Ele está em Belém para mais uma apresentação no Espaço Cultural Apoena. O show será na noite deste sábado (19), a partir das 20h, com a banda base formada pelo grupo Som de Pau Oco. Ao final, a programação ainda conta com a apresentação do Farofa Tropikal.
Mestre Damasceno encerrou 2018 em estúdio gravando algumas canções de sua vasta obra. O CD terá mais de mil cópias com selo Na Figueredo e produção musical do Pulsar Marajoara. E como forma de dar continuidade a essas produções, ele abre a temporada de shows para mostrar o resultado deste trabalho. Damasceno, que é o patrono do Festival Marajoara de Cultura Amazônica, aproveita o seu baile como pré-evento para convidar artistas para a próxima edição do Festival Marajoara, que será realizado em Salvaterra, no mês de julho.
Ao longo desse primeiro semestre, serão realizados cinco shows no Apoena. E a cada encontro, já será definida uma atração para o festival 2019. A proposta da pauta é ser espaço de construções colaborativas. Além de fortalecermos a base para o próximo Festival, com encontros mensais, parte da renda será direcionada para o Fundo de Produção do Mestre Damasceno, salvaguarda de sua obra e fomento de suas atividades artísticas.
Todo esse trabalho é organizado por pessoas que atuam em prol da cultura popular marajoara. Há um ano surgiu o Pulsar Marajoara, um coletivo que tem responsabilidade de fortalecer mestres e mestras da cultura popular da região praiana do Marajó. "Ano passado realizamos o primeiro festival do Marajó e tem sido uma experiência maravilhosa. Uma forma de proporcionar vivências nesse intimo no modo de se pensar cultura, como os quilombos. E por meio desse festival houve esse intercâmbio entre os artistas", detalha Guto Nunes, um dos coordenadores do projeto.
A estreia do mestre em estúdio ocorreu em 1999, quando alguns mestres da Cultura Popular enxergavam o CD como um vilão que ameaçava o modo tradicional de se fazer música. Mestre Damasceno entra em estúdio acompanhado de grandes nomes da música popular paraense, como Mestre Pinduca, Ronaldo Silva e Ivan Cardoso.
Por essas e outras questões ele se destaca, pois é mestre em se reinventar, em criar meios de negociar sua permanência por mais de meio século no campo de batalha da cultura popular, em especial a produzida no Marajó Praiano, e por meio dessa trajetória.
Apesar de ter ficado cego aos 19 anos, o mestre é um artista multi e não deixou de dar continuidade em suas atividades. Ele se define como "botador de boi", mas também é repentista, cantador de carimbó, compositor de sambas, poeta, pescador e criador do "Búfalo-Bumbá" de Salvaterra. Em 2010, ele foi premiado pela Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural, do Ministério da Cultura, com o prêmio "Maria Isabel".
Guto Nunes é diretor do documentário intitulado “Mestre Damasceno – O Resplendo da Resistência Marajoara”, que retrata a vida e obra desse artista. Para o diretor, o documento é importante para guardar a memória e fortalecer a identidade cultural da comunidade marajoara.
Salvaterra, no Marajó, é a cidade com maior número de comunidades quilombolas do país, conforme aponta Guto Nunes. E é da comunidade do Salvar, de Vila de Mangueiras, que vem o Mestre Damasceno. Ele ficou cego aos 19 anos, em um acidente na construção civil, com a alavanca de uma betoneira.
Serviço:
Show de Mestre Damasceno
Local: Espaço Cultural Apoen - Avenida Duque de Caxias
Data: sábado, 19, a partir das 20h
Ingressos: R$ 20,00
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