João Lee comemora 25 anos de carreira e remixa sucessos de Rita Lee e Roberto de Carvalho
Em entrevista, ele fala sobre a carreira, os projetos para o futuro e o projeto de rodar o país com a mostra sobre sua mãe
Ele sabe bem qual o peso de ser filho de Rita Lee e Roberto de Carvalho. João Lee, um dos herdeiros da potência cultural das estrelas do rock brasileiro na década de 80 e 90, trilha seu próprio caminho e, ao mesmo tempo, dá uma nova linguagem ao trabalho de seus pais.
Além de ter sido curador da exposição sobre Rita Lee, organizada em parceria com a Dançar, que foi sucesso de público no Museu da Imagem do Som em São Paulo, ele também remixou os antigos sucessos de Rita Lee e Roberto de Carvalho, para comemorar os 25 anos de carreira como DJ e os 50 anos de trajetória da dupla.
João Lee formou-se Administração pelo Insper – Ensino superior em Negócios, Direito e Engenharia, mas foi a música eletrônica que o conquistou. Aos 42 anos, ele circula pelas principais casas de shows do País e já chegou a tocar em dois países diferentes na mesma semana. Em entrevista, ele fala sobre os resultados do trabalho como curador da exposição sobre Rita Lee e os projetos para a própria carreira.
Qual foi o resultado da exposição sobre Rita Lee no MIS?
O resultado foi impressionante. Mesmo com as questões da pandemia, ficamos perto, se não no limite do museu. Foi excelente para nós, assim como para o MIS também. Ainda não sei os números totais, mas foi muito, muito, muito positivo. Vamos agora para a segunda cidade, que é o Rio de Janeiro. Ainda estamos conversando com alguns lugares, mas acredito que ainda seja este ano.
O que mais te surpreendeu ao organizar o material da exposição?
Olha, é uma loucura saber que ela foi a artista mais censurada nesta época. Se você for ler as argumentações e as justificativas dadas pela censura - parece um esquete de um programa de comédia e hoje não faz o menor sentido. A gente tem na exposição um vinil dos anos 80 que tem uma música que sofreu “veto". O que a ditadura fazia era pegar o disco e riscar com gilete para ninguém poder ouvi-la. Então, é assim, é muito surreal ainda, mas fazendo um paralelo de um mundo que a gente vive hoje, onde a informação está circulando praticamente na velocidade da luz, eu acho que é importante sabermos como foi o nosso passado para impedirmos que coisas ruins não voltem a acontecer novamente.
Fale um pouco sobre o projeto do remix
Estou querendo fazer há mais de 20 anos este projeto. Há uns dois anos, fiz uma reunião com o Paulo Lima, presidente da Universal e, assim, demos um “start”. Desenvolvi toda a parte de produção e em cima disso conversei com DJs e produtores para afinar o que fazia sentido para cada um deles. É uma fusão dos 50 anos de história de vida dos meus pais com os meus 25 anos de história musical, em que seleciono os Djs que fizeram parte da minha vida num formato bem específico. Cada Dj traz sua identidade. Ou seja, é um remix de três histórias, três situações diferentes e é o que fez este projeto ser bem diferente.
Quais são os seus projetos futuros?
Os que temos em vista são projetos derivados da biografia (de Rita Lee), que se desdobram em série, documentário e filme. Além da exposição que vamos levar para todo o Brasil e o mundo e o Rio de Janeiro será a próxima cidade.
De que forma impactou a morte da Elza Soares para você e sua família?
Ficamos todos muito tristes. Minha mãe e a Elza se adoravam. Tinham um carinho e respeito mútuo de longa data. Recentemente minha mãe compôs uma música para a Elza, mas acho que não chegou a ser gravada.
O que pensa das redes sociais?
Quase que não entro, tem uma energia muito negativa que circula em torno de rede social. Tem algumas por exemplo, que entro e não tiro nada de positivo. Um segmento meio de mentira, como por exemplo: a superficialidade da vida perfeita, sendo que a vida real não é esta. Até mesmo o Tik Tok, entre as redes sociais é o mais divertido. Para a música, por exemplo, pode ser uma fonte de pesquisa.
Você tem alguma experiência na Amazônia, até mesmo pelo fato da sua mãe ser engajada a assuntos relacionados a natureza?
Tenho muitas boas memórias da Amazônia. Eu ia muito quando criança com a minha família nas férias. Víamos muitas casas flutuantes, muito contato com a floresta e os animais.
Como enxerga as queimadas na Amazônia Brasileira?
Não preservar um dos nossos maiores patrimônios é de uma imbecilidade tremenda.
Atualmente, você toca no mais conceituado clube de música eletrônica do Brasil, tem como nos falar mais um pouco?
Estou voltando a tocar lá. Sou alucinado por aquele lugar, muitas vezes, pareço uma criança. A D-Edje é vanguardistas — a frente do tempo. Sempre colaboraram para a cena da cultura da música eletrônica brasileira. Fui residente do D-Edje por 10 anos e depois dei um tempo por não dar conta com o cronograma deles. O dono, que é o Renato Ratier, um grande amigo, está em um dos meus projetos.
De que forma você vê a evolução da música eletrônica?
A música eletrônica cresceu muito. Quando comecei a tocar não tinha este holofote todo. Antigamente a molecada queria tocar guitarra. Hoje muitos querem ser Djs. Era um nicho muito mais underground, e também para pouca gente. Atualmente, a eletrônica está em tudo quanto é lugar — um diálogo universal. Você pega estes artistas novos como, por exemplo, “The Weeknd”, não existe barreira para eles.
O Que você acha do Giordio Moroder?
Moroder pra mim é papa dos sintetizadores, ele toca uma das minhas músicas favoritas como: “I feel Love”, da Donna Summer. Ele influenciou muita gente.
Você é vegetariano?
Me alimento de sol
Você produz na melancolia?
Não, ela tira minha criatividade
Você tocaria no Pará?
Claro que sim.
Qual é a sua música preferida, atualmente?
Cada semana tem uma nova. Depende muito da situação. Quanto a dos meus pais é difícil dizer. Gosto de todas, mesmo; Mutante, Cor de Cor de Rosa Choque… Agora com os remixes gosto da música “Não Quero Luxo nem Lixo…
O que você pensa das músicas atuais?
De uma maneira geral, acho que o mercado atual está bem quente e as plataformas estão aí para facilitar. Quando paro para escutar uma música, prefiro as antigas. Estas que eu já tenho alguma ligação. Já as novas, preciso sentir mais e muitas vezes acabo gostando de muitas. Quanto ao Rock, basicamente, não vejo muita coisa surgindo, percebo que as músicas com mais histórias e consolidação ainda são as melhores. Entretanto, não sou muito a pessoa mais indicada para abordar este “nicho”. O meu é o eletrônico.
Falando sobre trechos do livro da Rita Lee em que, em tese, se desdobra para a exposição. Sente-se parte da família Addams que sua mãe aborda no livro dela, dando foco na infância?
Sem dúvida que faço parte da família Addams, aliás, toda família é meio “Addams Family"
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