'É essa Amazônia musical daqui a 50 anos', diz Gaby Amarantos sobre 'Purakê', seu novo disco
Em entrevista exclusiva, artista fala sobre sucessor do aclamado 'Treme', lançamento de ‘Amor Pra Recordar’, papel em novela, e revela cantoras paraenses que estarão em seu disco
Já se vão quase dez anos desde que Gaby Amarantos escancarou as fronteiras do Jurunas com seu primeiro álbum “Treme”, que ganha finalmente um sucessor em 2021. “Purakê” é o título do próximo disco, que chega no dia 2 de setembro; mas antes, ela apresenta mais uma fresta do universo deste novo trabalho. Um videoclipe cinematográfico dirigido por João Monteiro marca o lançamento do single “Amor Pra Recordar”, nesta quinta-feira, 19. A faixa tem participação de Liniker, e entra às 19h no canal da artista no YouTube.
Com cenas gravadas no Furo do Piriquitaquara, na Ilha do Combu (Belém), e também em São Paulo, a produção quer botar sob a luta das mulheres ribeirinhas que vivem em locais de pouco acesso à infraestrutura, e que, por diversas vezes, precisam deixar de lado seus próprios sonhos para cuidar dos filhos e da família.
Em entrevista exclusiva a Oliberal.com, Gaby contou detalhes das gravações do clipe, assim como a ansiedade de mostrar finalmente ao público seu novo disco. A artista também fala sobre os novos passos na carreira, após ter sido confirmada no elenco de “Além da Ilusão”, próxima novela das 18h, da Globo.
No ar atualmente como técnica no “The Voice Kids Brasil”, com disco a caminho, apresentação do “Saia Justa” (GNT) e papel em novela, Gaby revela o segredo para dar conta de tudo. “Só muito açaí!”, brinca. “E estou com meu isopor cheio de açaí para me abastecer”.
Leia a entrevista na íntegra
Oliberal.com - Gaby, vamos começar falando das novidades, que pelo visto são quase incontáveis. Você está no ar no 'The Voice Kids', agora foi anunciada em uma novela, e em meio a tudo isso vai lançar um novo álbum. Como dar conta de tudo isso?
Gaby Amarantos - Estou muito feliz com esse momento novo. Tanta coisa maravilhosa acontecendo, estou recebendo muitas mensagens de carinho e fico muito feliz de representar o povo da nossa terra, e de receber também todo esse amor da galera que se sente representada, tanto no “The Voice”, que estou recebendo tantas mensagens das pessoas, muitos felizes com os comentários e com a participação, e agora essa personagem. Para mim, abrir essa nova frente da minha carreira é uma parada muito grande, muito importante para mim. Estou muito feliz porque eu sempre quis trabalhar com teledramaturgia, cinema, e botar essa atriz também no mundo. Então minha criatividade está a mil aqui. Álbum novo chegando, feat com Liniker, um clipe lindo gravado aí... Então só muito açaí para dar conta de tudo isso, e eu estou aqui com meu isopor cheio de açaí para me abastecer.
OL - Sobre a novela, que parece ser a novidade mais recente, me fale como recebeu a notícia. Não é sua primeira vez atuando, mas como anda a preparação dessa vez?
GA - Sobre essa parte de atuação, estou muito feliz. Era o que faltava para completar o meu triângulo de criatividade, que vem com a música, como apresentadora do “Saia Justa” e também na TV com o “The Voice Kids”, e agora como atriz. Eu trabalhei muito para conquistar esse papel. Estou me sentindo no meu momento, me sentindo nas nuvens, no auge. E nós fizemos um trabalho incrível de atuação e imersão no clipe de “Amor Pra Recordar”, que tem também meu filho e minha irmã. Minha família está atuando comigo, e é um clipe que tem muito uma estética de filme, de curta, e as pessoas vão poder conferir esse lado meu de atriz. Tem cenas muito emocionantes que exigiram muito da parte de interpretação, então acho que já é um gostinho do que as pessoas também vão poder ver na novela.
OL - Agora sobre o aguardado álbum, que chega próximo aos 10 anos do tão aclamado “Treme”. Dessa vez não foi possível ter o Miranda na equipe, mas pelo visto está cheio de paraense nesse time, começando pelo Jaloo. Como foram essas novas conexões para este trabalho?
GA - Eu sabia que depois de lançar o "Treme”, de todo o sucesso que ele fez, o segundo álbum tinha que ser tão incrível quanto ou até mais. Então acho que por isso levei muito tempo, e aí o Miranda partiu e eu senti muita falta dele. Mas quando eu me conectei profundamente com o Jaloo - porque eu já o conhecia, mas tivemos uma conexão muito forte - eu entendi que ele era a pessoa certa para traduzir toda essa sonoridade, e o Jaloo também foi essencial na identidade visual e em todo o trabalho que estamos fazendo desse álbum, que é muito visual também. Eu tenho que exaltar muito esse grande time de artistas paraenses. A gente foi para uma imersão, pegamos um barco e fomos para Santarém, para o meio do Rio Arapiuns, e ficamos isolados, eu, Jaloo e Lucas Estrela, compondo parte das músicas. Eu sou compositora de todas as faixas, e na maioria, 70%, tenho parceiros. Os meus parceiros são o grande Félix Robatto, que é meu parceirão também de tudo, estava no “Treme”, tinha que estar no “Purakê”; o Arthur Espíndola, que é outro grande artista e compositor, fizemos várias imersões na Ilha do Mosqueiro; a gente ia se isolar e escrever música junto com o Renato Rosas, que é outro compositor incrível. Eu quero revelar também para o mundo essa nova cena de compositores jovens da música paraense, que é uma galera que saca muito de música, e o “Purakê” vai ser esse grande portal para as pessoas verem que a nossa música está potente, está forte, está viva, que ela se ramifica e sempre se moderniza.
OL - Ainda sobre o disco, com os singles lançados até agora dá para ter uma ideia de que você andou passeando por muitos estilos, mas mantendo aquela pegada brega de composição com uma história de amor aqui e ali. O que podemos esperar de "Purakê", e sobre o que mais a Gaby vai cantar nele?
GA - Falando primeiro do nome, eu escolhi porque o Poraquê é esse nosso peixe elétrico, essa nossa enguia da Amazônia que tem essa eletricidade natural. Então em todas as músicas, em todas as fases, até as músicas que já foram lançadas, “Vênus em Escorpião”, “Tchau”, elas tem uma eletricidade que cria esse grande movimento de rio que é um caldeirão musical, onde tem cúmbia, tem música que é mais romântica, tem brega, tem tecnobrega, mas tem estilos tão inovadores que eu não sei nem te dizer o que é, porque a gente criou novas sonoridades, e as pessoas que ouvirem vão dizer: "O que é isso? Isso é novo. Isso não tem ainda uma definição". Acho que essa é a grande força elétrica desse álbum, e ele vai mostrar que a gente pode ter uma música que vai muito além, e que essa música pode ser muito diferente, mas também pode ser popular. É muito pop.
OL - Me fale sobre "Amor Pra Recordar". Confesso que depois de ver o nome da música logo pensei que seria uma regravação da Banda AR-15, mas se trata de uma versão de outro brega, de Tonny Brasil. Me fala como foi desenvolver essa versão e como surgiu essa ideia, e como a Liniker soma nessa história.
GA - Essa música nasceu no meio do Rio Arapiuns. Estávamos isolados, eu, Jaloo, e estávamos experimentando. Jaloo tocando um piano no computador e a gente cantando, e aí tivemos essa ideia de fazer essa releitura de uma música do Tonny Brasil, que é uma música que eu amo e o Jaloo também, “A Primeira Vez”. Chamamos o Tonny para ser coautor conosco da nova música que surgiu, porque tem parte da letra original. Vocês vão ouvir. É uma coisa muito linda essa música, e fala muito do amor, e de amor em todos os sentidos, pra gente refletir sobre amor, ainda mais no tempo que estamos vivendo. É muito importante a gente sempre lembrar dos amores que passaram pela vida da gente, e que a gente precisa recordar para que a gente consiga viver, para que a gente consiga ressentir aquele amor. Então é uma música que vai conectar muita gente.
E a Liniker entra nessa história porque eu já estava a muito tempo querendo fazer alguma coisa com ela. Eu sou muito fã da artista que ela é, principalmente da voz dela. Vocês vão ouvir e ver no clipe como nossas vozes se entrelaçam, como forma um uníssono que vai envolver as pessoas, e eu queria também uma cantora que fosse atriz, e atuar porque no clipe a gente também atua de uma forma muito cinematográfica. A forma como a história é contada envolve muito as pessoas, elas pensam que estão assistindo a um filme, e aquela música está ali como trilha sonora. Então tenho certeza que todo mundo vai ficar apaixonado por esse dueto.
OL - Sobre o álbum, nos singles lançados já teve Urias, Ney Matogrosso, Jaloo, e agora Liniker. Vai ter mais gente no álbum completo? Dá para adiantar algum nome?
GA - Tem muitos feats bombásticos para vir nesse disco, e foi uma coisa que foi acontecendo. A gente ficava ouvindo e pensava: “Caramba, essa música tem muito a ver com fulano de tal”. E a gente foi convidado e as pessoas foram aceitando. Foi tão lindo! Gente, se preparem. Mas vou dar um spoiler aqui. Eu não contei isso em lugar nenhum. Para estremecer as estruturas não só do Pará, mas do Brasil e do universo, vai ter um feat tecnobrega. A música se chama “Arreda”, e vão estar na faixa comigo Leona Assassina e Viviane Batidão. Toma-te!
OL - Gaby, faz tempo que sua construção visual carrega muito do afrofuturismo, e representando uma Amazônia negra para o mundo todo que te assiste, de que forma esse conceito te atravessa, e como você traz ele para o seu trabalho além do visual?
GA - Tenho sentido muito que o “Purakê" vai ser esse elo pra gente refletir uma Amazônia musical, uma Amazônia que é multicultural no futuro. Então tudo o que estamos apresentando, desde a foto da capa, que vai ser muito impactante, que a gente quis reproduzir como é essa Amazônia musical daqui a 50 anos, por isso que as sonoridades são novas. Todas as músicas vão ter um material que estamos preparando com todo carinho, fazendo tudo muito voltado na identidade visual. O clipe de “Amor Pra Recordar” é uma grande celebração da cena da periferia de Belém, que é formada pelo Labo Young, junto com o Wellington Romário, e o Lucas Gouveia. E tem uma galera muito jovem, que está fomentando mais cultura nas periferias de Belém. Então estou fazendo muita imersão criativa com essa galera, muito conectada sempre, tudo o que a gente faz vem dessa galera daí [de Belém], que é da periferia que nem eu. E eu quero saudar também iniciativas de música, porque nesse tempo de pandemia nossos músicos, os nossos artistas ficaram precisando de espaços, e a gente tem aí o Festival Psica, que para mim é um grande afropop ribeirinho da Amazônia, e a gente quer mostrar para o Brasil e para o mundo que a gente pode ser essa Amazônia musicalmente do futuro.
Para acrescentar, a gente trouxe o João Monteiro e toda a equipe dele. O João é um dos maiores diretores de videoclipe hoje em dia no Brasil, faz clipe de vários artistas pop, ele fez os clipes de “Vênus em Escorpião” e “Tchau”. Viemos para Belém com a equipe para fazer uma collab com toda essa galera da periferia, o Labo, o Lucas, o Romário. E os meninos trouxeram os conceitos amazônicos, porque essa mulher ribeirinha que a gente representa, que mora no Furo do Piriquitaquara, no Combu, que é uma comunidade que tem muitas pessoas que são negras, e a gente gravou no pé de uma samaumeira, que é uma árvore muito importante pra gente que é da Amazônia. Foi muito lindo ver essa interação, com todos os protocolos da pandemia sendo respeitados. A gente conseguiu trazer uma equipe reduzida, para vir a Belém gravar um clipe no meio da Amazônia, e pra fazer uma collab com essa galera toda, que a gente acredita muito. É o nosso núcleo criativo de Belém, como a gente chama. Então foi um trabalho feito a muitas mãos. Tem uma cena de um velório ribeirinho lúdico, que os meninos criaram que, nossa! É digno de galeria de arte, para ir pra Nova Iorque, Paris, para qualquer exposição de arte no planeta.
OL - Para finalizar, nessa agenda lotada tem plano para uns shows "Purakê" com todos esses convidados aqui no Pará?
GA - Quero muito! Estou torcendo muito para isso poder acontecer. Estou sempre aí, minha família toda está aí, então estou sempre em Belém. Mas tenho muita certeza que todos os meus feats, todas as minhas convidadas, convidados e convidades, vão querer participar do show em Belém. Porque meu amigos na música, o que mais me falam é: "Meu sonho é fazer show no Pará, meu sonho é fazer show em Belém, fazer uma tour gastronómico, ir para Santarém, conhecer Alter do Chão”. As pessoas querem ir ao Marajó, as pessoas querem ir ao Pará. Então eu vou torcer para que, assim que estiver liberado, com todos os protocolos de segurança da pandemia, a gente pode sim levar esse show "Purakê" para Belém, mas com certeza.
BÔNUS - Gaby diz qual a melhor forma de ouvir o álbum “Purakê”.
GA - Se puderem ouvir o álbum com alguém perto, ouvir o álbum, se possível, num fone de ouvido ou em um som em que você consiga ouvir bem todas as nuncanes do álbum. Num lugar com uma meia luz, ou uma luzinha de vela, ou uma luzinha que possa ter um pisca pisca, um led, alguma coisa que dê cara de festa. Que você comece ouvindo esse álbum sentado, porque o primeiro impacto do álbum vai te fazer sentar. A primeira faixa é muito forte, e depois você pode ter um vinhozinho, uma cachaça de jambu, alguma coisa para acompanhar, porque o álbum vai virando festa, e você vai querer tomar uma gelada, vai querer levantar para dançar. Vai ter o momento de fazer o treme, de bater a raba, vai sentar, vai chorar de novo. Tem que ter um lugar para sentar perto, pra ouvir esse álbum, porque ele vai mexer muito com o coração das pessoas.
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